É Fogo


de “Labiata”, de Lenine

2008_Lenine_Labiata_1024

Éramos uma pá de “apocalípticos”,
De meros “hippies”, com um “falso” alarme…
Economistas, médicos, políticos
Apenas nos tratavam com escárnio.

Nossas visões se revelaram válidas,
E eles se calaram – mas é tarde.
As noites ’tão ficando meio cálidas…
E um mato grosso em chamas longe arde:

O verde em cinzas se converte logo, logo…

É fogo! É fogo!

Éramos “uns poetas loucos, místicos”…
Éramos tudo o que não era são;
Agora são – com dados estatísticos –
Os cientistas que nos dão razão.

De que valeu, em suma, a suma lógica
Do máximo consumo de hoje em dia,
Duma bárbara marcha tecnológica
E da fé cega na tecnologia?

Há só um sentimento que é de dó e de malogro…

É fogo… é fogo…

Doce morada bela, rica e única,
Dilapidada – só – como se fôsseis
A mina da fortuna econômica,
A fonte eterna de energias fósseis,

O que será, com mais alguns graus Celsius,
De um rio, uma baía ou um recife,
Ou um ilhéu ao léu clamando aos céus, se os
Mares subirem muito, em Tenerife?

E dos sem-água o que será de cada súplica, de cada rogo?

É fogo… é fogo…

Enquanto a emissão de gás carbônico
Sobe na América do Norte e na China,
No coração da selva amazônica
Desmatam uma Holanda: uma chacina!

Ó assassinos bárbaros frenéticos!
Ó gente má, ignara, vil, ignóbil!
Ó cínicos com máscara de céticos!
Ó antiéticos da ExxonMobil!

O estrago vai ser pago pela gente pobre toda;

É foda! É foda…

Em tanta parte, do Ártico à Antártida,
Deixamos nossa marca no planeta:
Aliviemos já a pior parte da
Tragédia anunciada com trombeta.

Mais que bilhões de vidas, é a vida em jogo.

É fogo.