de “Labiata”, de Lenine
Éramos uma pá de “apocalípticos”,
De meros “hippies”, com um “falso” alarme…
Economistas, médicos, políticos
Apenas nos tratavam com escárnio.
Nossas visões se revelaram válidas,
E eles se calaram – mas é tarde.
As noites ’tão ficando meio cálidas…
E um mato grosso em chamas longe arde:
O verde em cinzas se converte logo, logo…
É fogo! É fogo!
Éramos “uns poetas loucos, místicos”…
Éramos tudo o que não era são;
Agora são – com dados estatísticos –
Os cientistas que nos dão razão.
De que valeu, em suma, a suma lógica
Do máximo consumo de hoje em dia,
Duma bárbara marcha tecnológica
E da fé cega na tecnologia?
Há só um sentimento que é de dó e de malogro…
É fogo… é fogo…
Doce morada bela, rica e única,
Dilapidada – só – como se fôsseis
A mina da fortuna econômica,
A fonte eterna de energias fósseis,
O que será, com mais alguns graus Celsius,
De um rio, uma baía ou um recife,
Ou um ilhéu ao léu clamando aos céus, se os
Mares subirem muito, em Tenerife?
E dos sem-água o que será de cada súplica, de cada rogo?
É fogo… é fogo…
Enquanto a emissão de gás carbônico
Sobe na América do Norte e na China,
No coração da selva amazônica
Desmatam uma Holanda: uma chacina!
Ó assassinos bárbaros frenéticos!
Ó gente má, ignara, vil, ignóbil!
Ó cínicos com máscara de céticos!
Ó antiéticos da ExxonMobil!
O estrago vai ser pago pela gente pobre toda;
É foda! É foda…
Em tanta parte, do Ártico à Antártida,
Deixamos nossa marca no planeta:
Aliviemos já a pior parte da
Tragédia anunciada com trombeta.
Mais que bilhões de vidas, é a vida em jogo.
É fogo.