de “Chão”, de Lenine
Se por acaso eu pareço
Que agora já não padeço
De um mau pedaço na vida,
Saiba que minha alegria,
Como é normal, todavia,
Com a dor é dividida.
Eu sofro igual todo mundo,
Eu somente não me afundo
Em um sofrimento infindo;
Eu posso até ir ao fundo
De um poço de dor profundo,
Mas volto depois sorrindo.
Em tempos de tempestades,
Diversas adversidades,
Eu me equilibro e requebro;
É que eu sou tal qual a vara
Bamba de bambu-taquara:
Eu envergo, mas não quebro.
Não é só felicidade
Que tem fim, na realidade
A tristeza também tem.
Tudo acaba se inicia,
Temporal e calmaria,
Noite e dia, vai e vem.
E quando é má a maré,
E quando já não dá pé,
Não me revolto ou me queixo,
E tal qual um barco solto,
Salvo do alto-mar revolto,
Volto firme pro meu eixo.
E em noite assim como esta,
Eu cantando numa festa,
Ergo meu copo e celebro
Os bons momentos da vida –
E nos maus tempos da vida
Eu envergo, mas não quebro.