Esse Rio


de “Vicente”, de Vicente Barreto

2008_Vicente_Barreto_Vicente_1024

Veja só esse rio,
Que lentamente flui,
E o fio
Que se dilui
Nesse rio
E o polui.

Eu já tomei banho aqui,
Antes o meu pai tomou;
Água que daqui bebi,
Ih, sujou…
Era linda e límpida;
Hoje nela se espalhou
Uma espuma química;
Oh que horror…

Um saco plástico
Flutua à sua flor,
E ao redor
Turva o ar
Um fedor
De amargar.

E eu já tomei banho aqui,
Antes o meu pai tomou;
Um lugar sagrado se
Degradou.
Ói só o que o homem fez!
Era necessário? Não.
Ói só que insensatez!
Sem-razão!

Carcaça de automóvel, peça de museu:
É pau, calhau, metal, papel;
É tanto objeto;
É tão abjeto:
É dejeto,
É pneu,
É garrafa pet…
Água igual tapete
Mal reflete
O alto céu.

E eu já tomei banho aqui.
Antes o meu pai tomou.
Um lugar sagrado se
Degradou…
Hoje é um depósito
De lixo aquele rio;
É um despropósito,
-ta que pariu!