Publicado na “Folha de S.Paulo” (“Revista da Folha”), em 25/1/2004, sob o título “25 músicas inspiradoras”
- “Sampa” (Caetano Veloso) – É quase miraculoso que uma canção com tantas referências cultas tenha se popularizado a ponto se tornar o hino contemporâneo de São Paulo. Que este tenha sido composto (em 78) por um baiano (genial) é também muito significativo.
- “Trem das Onze” (Adoniran Barbosa) – Filho único, o sujeito tem de deixar a mulher porque a mãe o espera, em Jaçanã. O hino tradicional da cidade, do mais original dos sambistas paulistas. De 63.
- “Saudosa Maloca” (Adoniran Barbosa) – Nenhuma canção expressou como essa, de 55, os efeitos de uma violenta urbanização. Exemplo de uma inventiva linguagem macarrônica.
- “Ronda” (Paulo Vanzolini) – Canção de amor obsessivo (de 51) em que o eu-lírico feminino vislumbra no final uma “cena de sangue num bar da avenida São João”. Um dos sambas-símbolos da cidade, de outro criador maior no gênero em SP.
- “São São Paulo” (Tom Zé) – O tropicalismo, que só pôde mesmo acontecer aqui, teria que dar, em tons e cores típicas (e no calor da hora, 68), um hino de um outro baiano à cidade.
- “Augusta, Angélica e Consolação” (Tom Zé) – Radicado na concreta “cidade-city-cité”, o mesmo baiano nos deu ainda esse belo clássico de 73, em que trata as famosas vias como amantes.
- “Orra Meu” (Rita Lee) – O cara só larga da guitarra quando todo o bairro da Pompéia grita. O hino do roqueiro brasileiro, de 80, é coisa nossa; prova-o a expressão-título: tipicamente paulistana.
- “Fim de Semana no Parque” (Mano Brown) – O parque em questão é o Ipê, o Regina, o Santo Antônio, bairros da periferia que têm sua tragédia flagrada neste contundente rap de 93 dos Racionais.
- “Lampião de Gás” (Zica Bergami) – A graciosa e hoje clássica valsinha já surgiu, em 58, saudosa de uma São Paulo anterior, “calma e serena, que era pequena”.
- “Perfil de São Paulo” (Francisco de Assis Bezerra de Menezes) – Samba-exaltação de versos bem-construídos, igualmente nostálgico, datado de 53.
- “Samba do Arnesto” (Adoniran Barbosa) – Outro exemplo do humor e da singular linguagem adoniraniana. A história, de 55, se passa no Brás.
- “Tradição” (Geraldo Filme) – Samba (provavelmente sessentista) e sambista (negro) históricos de SP, cantando com muita força o Bexiga, o próprio samba e aludindo à Vai-Vai.
- “Sinfonia Paulistana” (Billy Blanco) – Conjunto de cançonetas, uma delas com uma melodia das mais identificadas com a cidade. Obra de longo fôlego de um paraense bossa-novista, de 74.
- “Lá Vou Eu” (Rita Lee e Luiz Sérgio) – Balada setentista locada “num apartamento perdido na cidade” de Sampa. Outra da “sua mais completa tradução”.
- “Sonora Garoa” (Passoca) – Tivesse sido lançada por Elis Regina (figurava no repertório do LP da cantora que não saiu), essa canção urbano-caipira de 81 talvez fosse um clássico hoje. A ser (re)descoberta.
- “Venha Até São Paulo” (Itamar Assumpção) – Irresistível convite feito em 93 por quem, nascido às margens do Tietê – em Tietê –, tinha mesmo que vir integrar a vanguarda paulistana.
- “São Paulo, São Paulo” (Wandy, Oswaldo, Marcelo, Claus e Biafra) – Declaração de amor e humor (perto do sarcástico) do Premê à metrópole, com uma pertinente paródia a “New York, New York”. Década de 80.
- “Pobre Paulista” (Edgard Scandurra) – Rock adolescente do Ira, de 85. Os versos são obscuros, mas o refrão é curto e grosso: “Pobre São Paulo!/ Pobre Paulista!”.
- “Pânico em SP” (Antonio Clemente) – Crônica dos Inocentes emblemática do espírito do punk bandeirante então (86) vigente.
- “Punk da Periferia” (Gilberto Gil) – Em 83, o grande mestre baiano vestiu a máscara poética do punkeiro nativo da Freguesia do Ó; não foi entendido (por punks da periferia).
- “Praça Clóvis” (Paulo Vanzolini) – Amor, ironia e um roubo de carteira no logradouro são os componentes de mais um complexo samba (de 67) do autor.
- “A Briga do Edifício Itália com o Hilton Hotel” (Tom Zé) – O título sinaliza o que está de novo em jogo: a imaginação tom-zeana. Safra de 72.
- “Paulista” (Eduardo Gudim e Costa Netto) – Samba de amor (de 88) tendo como pano de fundo a avenida e os Jardins.
- “Inverno (Anhangabaú da Felicidade)” (Zé Miguel Wisnik) – A mais poética e tocante composição relacionada com a cidade – e seus cidadãos sem cidadania – dos últimos anos (é de 2000).
- “São Paulo Gigante (25 de Janeiro)” (Tonico e Ariston Oliveira) – Não poderia faltar uma música caipira para ela e seu aniversário: ei-la, com Tonico e Tinoco.