Passa da uma, tudo emudeceu.
A lua é um CD de luz no céu
E aqui o meu apê é um deserto.
Agora cada um está na sua.
Você sumiu, você que é de lua,
E eu a queria tanto aqui por perto.
Meu bem, meu doce bem, minha senhora,
Eu poderia declarar agora
Meu grande amor, minha paixão ardente.
Em minha mente insone, só seu nome
Ecoa, só não soa o telefone;
E a sua ausência se faz mais presente.
Passa das duas na cidade nua;
Ao longe carros rugem para a lua
E alguma coisa fica mais distante.
Eu sinto a sua falta no meu quarto;
Será que você volta antes das quatro?
É tudo que eu queria nesse instante.
Não faz cu-doce, doçura
Não me diga que tá mal
Com ressaca de pileque
Ou cólica menstrual
Baby, cê não imagina
Como tá duro o meu pau
Tá furando a minha calça
O porra-louca total
Eu tô num puta pique
Me diga que tá legal
Eu quero sugar seu mel
Eu quero lamber seu sal
Quero ser bem recebido
Como se eu fosse o tal
De braços e pernas abertas
Cerca de 90 graus
Pára tudo e se prepara
Prum memorável oral
Numa tarde de trepadas
E carinhos no final
Eu tô num puta pique
Me diga que tá legal
Eu quero sugar seu mel
Eu quero lamber seu sal
Meu doce, minha delícia
Minha ceia de Natal
Meu jantar e meu manjar
Carne do meu Carnaval
Quero chegar pela frente
Ou então por trás e – crau!
Te prometo mil lambidas
Então, gatinha, que tal?
Estou no alto de um monte da Mantiqueira em Mairiporã
Almoçando arroz integral, alga, agrião, nabo, abóbora e doce de maçã
O que é fácil hoje será difícil amanhã
A morte é o fruto da vida, disse Omar Khayyam
Estou no alto de um monte da Mantiqueira em Mairiporã
Tudo está relativamente bem
Canta um sabiá, a voz ecoa, voa, volta, vai e vem
Saúde vale mais que ouro, euro, dólar, uon, yuan, yen
Pra ter saúde tem que ficar doente, porém
Tudo está relativamente bem
Uma revolução se processa dentro de mim
Sei que a doença, a fome, a miséria e a guerra nunca terão fim
Nada é inteiramente yang, nem inteiramente yin
Tenho que dizer muitos nãos para dizer um sim
Uma revolução se processa dentro de mim
Meu mestre me falou que o bom é mau e o mau é bom
E que foi o maior orgasmo o da mulher do samurai em “Rashomon”
Uma palavra só detona mais que um megaton
O que não pode um mantra, um mantra com seu som?
Meu mestre me falou que o bom é mau e o mau é bom
Estou à beira do mar, lugar comum
Me refazendo todo, fazendo jejum
Sei que não há só deus, há deusa, e deus não há só um
E o um dá dois, o dois dá três, o três dá tudo e tudo ad-infinitum
Estou à beira do mar, lugar comum
Estou no alto de um monte da Mantiqueira em Mairiporã
Rebenta na Febem: rebelião.
Um vem com um refém e um facão.
A mãe aflita grita logo: “Não!”
E gruda as mãos na grade do portão.
Aqui no caos total do cu do mundo cão,
Tal a pobreza, tal a podridão,
Que assim nosso destino e direção
São um enigma, uma interrogação.
Ecos do “ão”.
E se nos cabe apenas decepção,
Colapso, lapso, rapto, corrupção?
E mais desgraça, mais degradação?
Concentração, má distribuição?
Então a nossa contribuição
Não é senão canção, consolação?
Não haverá então mais solução?
Não, não, não, não, não.
Ecos do “ão”,
Ecos do “ão”.
Pra transcender a densa dimensão
Da mágoa imensa, e tão-somente então
Passar além da dor, da condição
De inferno-e-céu, nossa contradição,
Nós temos que fazer com precisão
Entre projeto e sonho a distinção,
Para sonhar enfim sem ilusão
O sonho luminoso da razão.
Ecos do “ão”.
E se nos cabe só humilhação,
Impossibilidade de ascensão,
Um sentimento de desilusão
E fantasias de compensação?
E é só ruína tudo em construção?
E a vasta selva, só devastação?
Não haverá então mais salvação?
Não, não, não, não, não.
Ecos do “ão”,
Ecos do “ão”.
Porque não somos só intuição,
Nem só pé de chinelo, pé no chão.
Nós temos violência e perversão,
Mas temos o talento e a invenção,
Desejos de beleza em profusão
E ideias na cabeçacoração;
A singeleza e a sofisticação,
O axé e a bossa, o tchã e o tomjoão. (*)
Ecos do “ão”.
Mas se nós temos planos, e eles são
De nos tornarmos plenos cidadãos, (**)
Por que não pô-los logo em ação?
Tal seja agora a inauguração
Da nova nossa civilização,
Tão singular igual o nosso “ão”.
E sejam belos, livres, luminosos,
Os nossos sonhos de nação.
Ecos do “ão”,
Ecos do “ão”.
—————————————————————- Variantes:
(*) O choro, a bossa, o samba e o violão.
(**) O fim da fome e da difamação,
“Cole Porter e George Gershwin – Canções, Versões” (Geléia Geral, 2000) – CD com produção artística de Carlos Rennó e versões para o português, de sua autoria, de canções dos dois compositores cantadas por nomes da MPB (Caetano Veloso, Gilberto Gil, Chico Buarque, Elza Soares, Rita Lee, Tom Zé, Cássia Eller, Zélia Duncan, Sandra de Sá, Paula Toller, Ed Motta, Carlos Fernando, Jane Duboc, Jussara Silveira e Mônica Salmaso). Produção musical de Rodolfo Stroeter.
“Cole Porter e George Gershwin – Canções, Versões”
projeto, produção artística e versões de Carlos Rennó
produção musical de Rodolfo Stroeter
selo Geleia Geral
2000
1- Eu só me ligo em você – I Get a Kick Out of You (Cole Porter) Zélia Duncan
2- Que de-lindo – It´s De-lovely (Cole Porter) Caetano Veloso
3- Façamos [vamos amar] – Let´s Do It [Let´s Fall in Love] (Cole Porter) Chico Buarque & Elza Soares
4- Um dia de garoa [em São Paulo] – A Foggy Day [In London Town] (George & Ira Gershwin) Gilberto Gil
5- Blablablá – Blah, Blah, Blah (George & Ira Gershwin) Rita Lee
6- Você é o mel – You´re the Top (Cole Porter)* Tom Zé
7- Toda vez que eu digo adeus – Ev´ry Time We Say Goodbye (Cole Porter) Cássia Eller
8- Abraçável você – Embraceable You (George & Ira Gershwin)** Jane Duboc
9- Fascinante ritmo – Fascinatin´ Rhythm (George & Ira Gershwin) Ed Motta
10- Oh, dama, tem dó – Oh, Lady, Be Good (George & Ira Gershwin) *** Carlos Fernando
11- Enfim o amor – At Long Last Love (Cole Porter) Sandra de Sá
12- Quem tome conta de mim – Someone to Watch Over Me (George & Ira Gershwin)** Paula Toller
13- A Lorelai – The Lorelai (George & Ira Gershwin) Mônica Salmaso
14- A moça mais vagal da cidade – The Laziest Gal in Town (Cole Porter) Jussara Silveira
Versões de Carlos Rennó, com exceção de: * Augusto de Campos, ** C. Rennó e Nelson Ascher, *** C. Rennó e Charles Perrone
de “Cole Porter & George Gershwin – Canções Versões”, de Carlos Rennó
Era uma vez uma figura
Que era só beleza pura;
Ares divinais,
Olhares imorais…
Tarada pelos marinheiros,
Pescadores, baleeiros,
No rio Reno os atrai;
Seu nome, Lorelai.
Ela causa um auê,
E assim é que eu quero ser.
Eu quero ser como a moça que canta
Pra todo barco que vem e que vai;
Dá conta do recado e como encanta:
A Lorelai.
Com um estilo de amar diferente,
Com muito “ei”, muito “ui”, muito “ai”;
Garanto ser tão louca e tão quente
Quanto a Lorelai.
Sou sensual – ah, ah;
Eu não posso mais me reprimir.
Sensacional – ah, ah;
A minha marca em teu pescoço eu posso imprimir.
Quando alguém pede, ela bate, ela chuta;
Com ela todo rapaz se distrai.
Eu quero ser igual àquela puta –
A Lorelai.
______________________________________________
Back in the days of knights in armor There once lived a lovely charmer; Swimming in the Rhine Her figure was divine.
She had a yen for all the sailors: Fishermen and gobs and whalers. She had a most immoral eye; They called her Lorelei. She created quite a stir – And I want to be like her.
I want to be like that gal on the river, Who sang her songs to the ships passing by; She had the goods and how she could deliver: The Lorelei!
She used to love in a strange kind of fashion, With lots of hey, ho-de-ho, hi-de-hi! And I can guarantee I´m full of passion Like the Lorelei.
I´m treacherous – ja, ja! Oh, I just can´t hold myself in check. I´m lecherous – ja, ja! I want to bite my initials on a sailor´s neck.
Each affair had a kick and a wallop, For what they craved she could always supply. I want to be just like that other trollop – The Lorelei.
Música de George Gershwin e letra de Ira Gershwin, 1933
Got a little rhythm, a rhythm, a rhythm That pit-a-pats through my brain; So darn persistent, The day isn´t distant When it’´ll drive me insane.
Comes in the morning Without any warning, And hangs around me all day. I´ll have to sneak up to it Someday, and speak up to it. I hope it listens when I say:
Fascinating Rhythm, You´ve got me on the go! Fascinating Rhythm, I´m all a-quiver.
What a mess you´re making! The neighbors want to know Why I´m always shaking Just like a fliver.
Each morning I get up with the sun – Start a-hopping, Never stopping – To find at night no work has been done.
I know that Once it didn´t matter – But now you´re doing wrong; When you start to patter I’m so unhappy.
Won´t you take a day off? Decide to run along Somewhere far away off – And make it snappy!
Oh, how I long to be the man I used to be! Fascinating Rhythm, Oh, won’t you stop picking on me?
Música de George Gershwin e letra de Ira Gershwin, 1924
de “Cole Porter & George Gershwin – Canções Versões”, de Carlos Rennó
Eu fiz só pra você
Uma canção que é
Tão bonitinha;
A técnica aprendi
Nas músicas que ouvi
Lá na telinha.
As rimas todas das canções eu estudei;
E eis a coisinha linda que eu criei:
Blablablá, canção;
Blablablá, luar;
Blablablá, paixão;
Blablablá, no ar.
Tralalalá, tralalalalá, seu olhar em mim;
Tralalalá, tralalalalá, tudo, tudo enfim.
Blablablá, o céu;
Blablablá, a flor;
Blablablá, o mel;
Blablablá, o amor.
Tralalalá, tralalalalá, casa de sapê;
Blablablablablá, eu e você.
I´ve written you a song, A beautiful routine; (I hope you like it.) My technique can´t be wrong: I learned it from the screen. (I hope you like it.) I studied all the rhymes that all the lovers sing; Then just for you I wrote this little thing.
de “Cole Porter & George Gershwin – Canções Versões”, de Carlos Rennó
Eu era estranho na cidade,
Sem ninguém que eu pudesse rever.
Pensei com auto-piedade:
“Que fazer? Que fazer? Que fazer?”
O panorama era deprê.
Mas passeando naquela garoa, ali,
Meu dia de sorte maior então vivi.
Num dia de garoa fria,
Sampa me deu melancolia.
O céu tão cinza causou alarme,
Mesmo o Masp perdeu seu charme.
“Isso vai longe”, pensava eu,
Quando um milagre aconteceu.
Pois de repente eu vi você –
E em São Paulo da garoa o sol brilhava
Pra valer!
_________________________________
I was a stranger in the city. Out of town were the people I knew. I had that felling of self-pity: “What to do? What to do? What to do?” The outlook was decidedly blue. But as I walked through the foggy streets alone, It turned out to be the luckiest day I’ve known.
A foggy day in London Town Had me low and had me down. I viewed the morning with alarm. The British Museum had lost its charm.
How long, I wondered, could this thing last? But the age of miracles hadn’t passed, For, suddenly, I saw you there – And through foggy London Town the sun was shining Ev’rywhere.
Música de George Gershwin e letra de Ira Gershwin, 1937
Os cidadãos, no Japão, fazem,
Lá na China um bilhão fazem,
Façamos, vamos amar.
Os espanhóis, os lapões fazem,
Lituanos e letões fazem,
Façamos, vamos amar.
Os alemães, em Berlim, fazem,
E também lá em Bonn;
Em Bombaim, fazem:
Os hindus acham bom.
Nisseis, nikkeis e sanseis fazem;
Lá em San Francisco muitos gays fazem;
Façamos, vamos amar.
Os rouxinóis, nos saraus, fazem,
Picantes picapaus fazem, (*)
Façamos, vamos amar.
Uirapurus, no Pará, fazem,
Tico-ticos no fubá fazem, (**)
Façamos, vamos amar.
Chinfrins galinhas a fim fazem,
E jamais dizem não;
Corujas – sim – fazem,
Sábias como elas são.
Muitos perus, todos nus, fazem,
Gaviões, pavões e urubus fazem, (***)
Façamos, vamos amar.
Dourados no Solimões fazem;
Camarões em Camarões fazem;
Façamos, vamos amar.
Piranhas, só por fazer, fazem,
Namorados, por prazer, fazem,
Façamos, vamos amar.
Peixes elétricos bem fazem,
Entre beijos e choques;
Cações também fazem,
Sem falar nos hadoques…
Salmões no sal, em geral, fazem,
Bacalhaus no mar em Portugal, fazem,
Façamos, vamos amar.
Libélulas, em bambus, fazem,
Centopéias sem tabus fazem,
Façamos, vamos amar.
Os louva-deuses, com fé, fazem,
Dizem que bichos-de-pé fazem,
Façamos, vamos amar.
As taturanas também fazem
Com ardor incomum;
Grilos, meu bem, fazem,
E sem grilo nenhum…
Com seus ferrões, os zangões fazem,
Pulgas em calcinhas e calções fazem, (****)
Façamos, vamos amar.
Tamanduás e tatus fazem;
Corajosos cangurus fazem;
Façamos, vamos amar.
Coelhos só, e tão-só, fazem;
Macaquinhos num cipó fazem;
Façamos, vamos amar.
Gatinhas com seus gatões fazem,
Dando gritos de “ais”;
Os garanhões fazem –
Esses fazem demais…
Leões ao léu, sob o céu, fazem;
Ursos lambuzando-se no mel fazem;
Façamos, vamos amar.
________________________________
Variantes:
(*) Os rouxinóis, nos saraus, fazem,
Picantes picapaus fazem,
(**) Os sabiás, onde for, fazem,
Beija-flores numa flor fazem,
(***) Penguins no cio, lá no frio, fazem,
Mil casais de pombos por um fio fazem,
(****) Pulgas ensinadas e pulgões fazem,
And that’s why Chinks do it, Japs do it,
Up in Lapland, little Lapps do it,
Let’s do it, let’s fall in love.
In Spain, the best upper sets do it,
Lithuanians and Letts do it,
Let’s do it, let’s fall in love.
The Dutch in Old Amsterdam do it,
Not to mention the Finns;
Folks in Siam do it,
Think of Siamese twins.
Some Argentines, without means, do it,
People say, in Boston, even beans do it,
Let’s do it, let’s fall in love.
The nightingales, in the dark, do it,
Larks, k-razy for a lark, do it,
Let’s do it, let’s fall in love.
Canaries, caged in the house, do it,
When they’re out of season, grouse do it,
Let’s do it, let’s fall in love.
The most sedated barnyard fowls do it,
When a chanticleer cries;
High-browed old owls do it,
They’re supposed to be wise.
Penguins in flocks, on the rocks, do it,
Even little cuckoos, in their clocks, do it,
Let’s do it, let’s fall in love.
Romantic sponges, they say, do it,
Oysters, down in Oyster Bay, do it,
Let’s do it, let’s fall in love.
Cold Cape Cod clams, ‘gainst their wish, do it,
Even lazy jellyfish do it,
Let’s do it, let’s fall in love.
Electric eels, I might add, do it,
Though it shocks ‘em, I know;
Why ask if shad do it?
Waiter, bring me shad roe. *
In shallow shoals, English soles do it,
Goldfish, in the privacy of bowls, do it,
Let’s do it, let’s fall in love.
The dragonflies, in the reeds, do it,
Sentimental centipedes do it,
Let’s do it, let’s fall in love.
Mosquitoes, heaven forbid, do it,
So does ev’ry katydid, do it,
Let’s do it, let’s fall in love.
The most refined lady bugs do it,
When a gentleman calls;
Moths in your rugs do it,
What’s the use of moth balls?
Locusts in trees do it, bees do it,
Even overeducated fleas do it,
Let’s do it, let’s fall in love.
The chimpanzees, in the zoos, do it,
Some courageous kangaroos do it,
Let’s do it, let’s fall in love.
I’m sure giraffes, on the sly, do it,
Heavy hippopotami do it,
Let’s do it, let’s fall in love.
Old sloths who hang down from twigs do it,
Though the effort is great;
Sweet guinea pig do it,
Buy a couple and wait.
The world admits bears in pits do it,
Even pekineses in the Ritz do it,
Let’s do it, let’s fall in love.
_____________________________ Variantes:
*
Young whelks and winkles, in pubs, do it,
Little sponges, in their tubs, do it,
Let´s do it, let´s fall in love.
Cold salmon, quite ´gainst their wish, do it,
Even lazy jellyfish do it,
Let´s do it, let´s fall in love.
The most select schools of cod do it,
Though it shocks ´em, I fear,
Sturgeon, thank God, do it,
Have some caviar, dear.
de “Cole Porter & George Gershwin – Canções Versões”, de Carlos Rennó
A noite é clara, e se você
Está querendo dar um rolê,
Que deleite, que delícia, que de-lindo!
Eu sei o que você, meu bem,
Está sentindo, pois eu também,
Que deleite, que delícia, que de-lindo!
Hoje o lance é rolar
Num relance um romance no ar;
Ouça a voz da natureza, que diz pra nós:
“Soltem seus nós.”
Então, quando eu beijar você,
Me diga assim, minha zabelê:
“Que deleite, que delícia,
Que delírio, que delíquio,
Que dilema, que delito, que dilúvio,
Que de-lindo!”
________________________________
The night is young, the skies are clear,
So if you want to go walking, dear,
It’s delightful, it’s delicious, it’s de-lovely!
I understand the reason why
You’re sentimental, ‘cause so am I,
It’s delightful, it’s delicious, it’s de-lovely!
You can tell at a glance
What a swell night this is for romance;
You can hear dear Mother Nature murmuring low:
“Let yourself go.”
So please be sweet, my chickadee,
And when I kiss you, just say to me:
“It’s delightful, it’s delicious,
It’s delectable, it’s delirious,
It’s dilemma, it’s delimit, it’s deluxe,
It’s de-lovely!”
de “Cole Porter & George Gershwin – Canções Versões”, de Carlos Rennó
Meu caso é tão triste, e é quase fatal
Que tudo me cause só um descaso total.
E se pra gandaia eu saio então,
Contra o tédio lutando em vão,
Eu não perco meu ar blasé,
A não ser ao virar e ver,
Tão bela, você…
Champagne me deixa normal;
Barato, nem com birita, meu bem.
Então só me diga por que
É que eu só me ligo em você.
Alguns se ligam num sal.
Que porre, oh, eu não posso com pó;
Coca só me provoca deprê.
É que eu só me ligo em você.
Me ligo, sim,
Quando a vejo em minha frente a qualquer hora.
Me ligo, sim;
Mesmo assim você – é óbvio que – não me adora.
Nenhum barato é total.
Saltar ao léu de asa-delta no céu
É o que eu nunca penso em fazer.
É que eu só me ligo em você.
My story is much too sad to be told,
But practically ev’rything leaves me totally cold.
The only exception I know is the case
When I’m out on a quiet spree,
Fighting vainly the old ennui,
And I suddenly turn and see
Your fabulous face.
I get no kick from champagne.
Mere alcohol doesn’t thrill me at all,
So tell me why should it be true
That I get a kick ut of you?
Some get a kick from cocaine.
I’m sure that if I took even one sniff
That would bore me terrific’ly too.
Yet I get a kick out of you.
I get a kick ev’ry time I see
You’re standing there before me.
I get a kick, though it’s clear to me
You obviously don’t adore me.
I get no kick in a plane.
Flying too high with some guy in the sky
Is my idea of nothing to do,
Yet I get a kick out of you.
de “Cole Porter & George Gershwin – Canções Versões”, de Carlos Rennó
É terremoto ou é só um choque?
Será que é um sashimi ou só um hadoque?
Será do álcool o meu alto astral
Ou isso que há será real?
É uma transa ou é transação?
Cole Porter no original ou só mais uma versão? (*)
É fantasia que finda em dor,
Ou é afinal o amor?
É um amasso ou é só massagem?
Um arco-íris no ar ou mera miragem?
É um ensaio que já me cansou,
Ou é o que é bom, é som, é show?
É um romance ou é um jornal?
É um poema comum ou é um de João Cabral?
É uma fera que fere uma flor
Ou é afinal o amor?
É tique-taque ou é só um tique?
É um negócio legal ou é um trambique?
Que piripaques são esses em mim?
É isso o mel, o céu, enfim?
Será um caso ou será o caos?
É o calor da paixão ou o verão em Manaus?
É um feitiço de algum malfeitor
Ou é afinal o amor?
É cobertura ou só quitinete?
É meu sonhado Rolls-Royce um velho Chevette?
Uma safira ou um patuá?
Um “tiro” no pó ou só uma pá?
É um romance ou é um hai-kai?
Será que é um vai-e-vem ou é só um vai-não-vai?
É um feitiço de um malfeitor
Ou é afinal o amor?
________________________________ Variantes:
(*) É uma fria ou é um frisson,
É uma fuga de Bach ou é Cole Porter o som?
________________________________________________
Is it an earthquake or simply a shock?
Is it the good turtle soup or merely the mock?
Is it a cocktail – this feeling of joy,
Or is what I feel the real McCoy?
Have I the right hunch or have I the wrong?
Will it be Bach I shall hear or just a Cole Porter song?
Is it a fancy not worth thinking of,
Or is it at long last love?
Is it the rainbow or just a mirage?
Will it be tender and sweet or merely massage?
Is it a brainstorm in one of its quirks,
Or is it the best, the crest, the works?
Is it by Browning or doesn’t it scan?
Is it a bolt from the blue or just a flash in the pan?
Should I say “Thumbs down” and give it a shove,
Or is it at long last love?
Is it a breakdown or is it a break?
Is it a real Porterhouse or only a steak?
What can account for these strange pitter-pats?
Could this be the dream, the cream, the cat’s?
Is it to rescue or is it to wreck?
Is it an ache in the heart or just a pain in the neck?
Is it the ivy you touch with a glove,
Or is it at long last love?
Is it in marble or is it in clay?
Is what I thought a new Rolls, a used Chevrolet?
Is it a sapphire or simple a charm?
Is it [______] or just a shot in the arm?
Is it today´s thrill or really romance?
Is it a kiss on the lips or just a kick in the pants?
Is it the gay gods cavorting above,
Or is it at longe last love?
de “Cole Porter & George Gershwin – Canções Versões”, de Carlos Rennó
Toda vez que eu digo adeus,
Eu quase morro;
Toda vez que eu digo adeus,
Aos deuses eu recorro.
Nenhum deus, contudo,
Parece me ouvir;
Eles vêem tudo
E te deixam partir.
Quando estás, há só um ar
De flor em volta;
Sabiás, de algum lugar,
Cantam o amor em volta.
Que canção suave!
Mas o tom
Do som
Se torna tão grave, (*)
Toda vez que eu digo adeus.
Toda vez que eu te digo adeus.
________________________________ Variantes:
(*) Não há som melhor!
Mas seu tom
Maior
Se torna menor,
________________________________________________
Ev’ry time we say goodbye,
I die a little;
Ev’ry time we say goodbye,
I wonder why a little;
Why the gods above me,
Who must be in the know,
Think so little of me
They allow you to go.
When you’re near, there’s such an air
Of Spring about it;
I can hear a lark somewhere
Begin to sing about it.
There’s no love song finer,
But how strange
The change
From major to minor,
Ev’ry time we say goodbye.
de “Cole Porter & George Gershwin – Canções Versões”, de Carlos Rennó
Eu bem poderia,
Eu bem deveria,
E, eu juro, até toparia,
Mas é que eu sou a moça mais vagal que há.
Meu Deus, como eu queria
Ganhar na loteria,
E aqui estou eu, sem companhia,
Mas é que eu sou a moça mais vagal que há.
Eu queria ser como são
As que fazem um dinheirão,
Mas – a cada proposta – não dá,
Não dá;
Eu bem poderia,
Eu bem deveria,
E, eu juro, até toparia,
Mas é que eu sou a moça mais vagal que há.
Eu não sou de me apressar,
Eu não sou de me estressar.
Até beijo devagar,
Para ter prazer.
Mas eles querem algo mais,
E algo mais já não me apraz,
Então a cada um dos tais
Tenho que dizer:
Eu bem poderia,
Eu bem deveria,
E, eu juro, até toparia,
Mas é que eu sou a moça mais vagal que há.
__________________________________________
It´s not ´cause I wouldn´t,
It´s not ´cause I shouldn´t,
And, Lord knows, it´s not ´cause I couldn´t,
It´s simply because I´m the laziest gal in town.
My poor heart is achin´
To bring home the bacon,
And if I´m alone and forsaken,
It´s simply because I´m the laziest gal in town.
Though I´m more than willing to learn
How these gals get money to burn,
Ev´ry proposition I turn down,
´Way down;
It´s not ´cause I wouldn´t,
It´s not ´cause I shouldn´t,
And, Lord knows, it´s not ´cause I couldn´t,
It´s simply because I´m the laziest gal in town.
Nothing ever worries me,
Nothing ever hurries me.
I take pleasure leisurely
Even when I kiss.
But when I kiss they want some more,
And wanting more becomes a bore,
It isn´t worth the fighting for,
So I tell them this:
It´s not ´cause I wouldn´t,
It´s not ´cause I shouldn´t,
And, Lord knows, it´s not ´cause I couldn´t,
It´s simply because I´m the laziest gal in town.