Como beijo com desejo, Como sexo com amplexo, Nós rimamos como o quê; Como baccio e abbracio, Qual lambida e comida, Eu combino com você; Qual carícia e malícia, Poesia e fantasia; Será que você não vê?
Que nem lalá E ah… ah… ah… ah… ah… !; Rimar assim que é bom Que nem espasmos de orgasmos, Em sentido e som, Como em Drummond.
Como fire e desire, Como love e meia-9, Qual tesão e relação, Como seios e anseios, Como pelos e apelos, Qual canção e acordeão.
Que nem lalá E ah… ah… ah… ah… ah… !; Rimar assim que é bom Que nem espasmos de orgasmos, Em sentido e som, Como em Drummond.
Como frio e arrepio, Como laço e amasso; Nós rimamos como o quê; Qual cometa e gameta, Qual beleza e natureza, Falta só você se convencer.
No mar, no rio, na lagoa, a água clara;
No céu mais limpo, o pôr mais lindo, a imagem rara;
E um ar tão puro que ninguém imaginara.
Por um período breve apenas, anormal,
Na quarentena humana inédita, afinal,
Medrou na cena urbana a vida natural.
E enquanto um índio dono de um saber profundo
Propaga ideias pra adiar o fim do mundo,
Um cara-pálida fascista em potencial,
Negativista violento do real,
Tão virulento quão pandêmico-viral,
Acelera o Relógio do Juízo Final.
Quando é que vamos aprender a diferença
Entre quem quer que a Terra-Gaia lhe pertença
E quem pertence a ela, é dela de nascença?
Somos do mal, o mal da Terra, não o sal.
Matamos a metade do reino animal,
Tamos rapando o vegetal e o mineral.
Se um povo dito primitivo e vagabundo
Trabalha e dança pra adiar o fim do mundo,
A tal da civilização ocidental,
“Desenvolvida, evoluída, racional”,
Queima e arrasa a própria casa, com quintal,
E apressa o Relógio do Juízo Final.
Quando é que vamos nos guiar por uma lógica
Mais ecológica do que mercadológica
Ou econômica, por uma bio-lógica?
Ver que não somos uma espécie central
Na biodiversidade da Terra, da qual
Nós temos sido parasitas, na real.
Enquanto um quilombola de onde é oriundo
Batuca e samba pra adiar o fim do mundo,
O ruralista duma escola colonial,
O pecuarista numa escala industrial,
Monocultura e racismo ambiental,
Adiantam o Relógio do Juízo Final.
E como para o homem vai haver escape se
A emissão de gases atingiu um ápice,
E há previsão de que a Amazônia colapse?
E tá na gênese um “Apocalypse Now”,
Em que a temperatura média mundial
Aumenta igual ou mais que um e meio grau?
Enquanto um cientista de um labor fecundo
Emite alertas pra adiar o fim do mundo,
Negacionistas do aquecimento global,
Negociantes do petróleo, do pré-sal,
Fiéis à fé neoliberal do capital,
Aceleram o Relógio do Juízo Final.
Quando é que vamos acordar em quanto é vão
Um crescimento que produz destruição?
Que não há redenção sem distribuição,
Sem queda na desigualdade social
E na pegada de carbono atual,
E sem um “bem viver” em um “novo normal”?
Enquanto uma ativista foda, que vai fundo,
Protesta e luta pra adiar o fim do mundo,
A companhia múlti, pan, transnacional,
Qual o sinistro antiministro ambiental,
Qual o grileiro, o garimpeiro ilegal,
Acelera o Relógio do Juízo Final.
Pensando nisso tudo, em hora tão dramática,
Temendo nossa sina trágica e errática,
Me assombra a sombra de uma mutação climática
E duma guerra cibernética fatal,
Dum uso mau da inteligência artificial
E dum conflito nuclear final, total.
Se tudo, entanto, pode estar por um segundo,
Eu canto cantos pra adiar o fim do mundo,
Pra me reconectar à mãe original,
Recontactar minha memória ancestral
E ter o júbilo de estar vivo afinal,
Atrasando o Relógio…
Atrasando o Relógio…
Atrasando o Relógio… do Juízo Final.
Aqui ´stamos na avenida, Pelas ruas, pela vida, Marchando com o cortejo Que flui horizontalmente, Manifestando o desejo De uma cidade includente E uma nação cidadã tra- Duzido numa canção, Numa sentença, num mantra, Num grito ou numa oração…
… Por todo jovem negro que é caçado Pela polícia na periferia; Por todo pobre criminalizado Só por ser pobre, por pobrefobia; Por todo povo índio que é expulso Da sua terra por um ruralista; Pela mulher que é vítima do impulso Covarde e violento de um machista;
Por todo irmão do Senegal, de Angola E lá do Congo aqui refugiado; Pelo menor de idade sem escola, A se formar no crime condenado; Por todo professor da rede pública Mal-pago e maltratado pelo Estado; Pelo mendigo roto em cada súplica; Por todo casal gay discriminado.
E proclamamos que não Se exclua ninguém senão A exclusão.
Aqui ´stamos nós de volta, Sob o signo da revolta, Por uma vida mais digna E por um mundo mais justo, Com quem já não se resigna E se opõe sem nenhum susto A uma classe dominante Hostil à população, Numa ação dignificante Que nasce da indignação…
… Por todo homem algemado ao poste, Tal qual seu ancestral posto no tronco; E o jovem que protesta até que o prostre O tiro besta de um PM bronco; Por todo morador de rua, sem saída, Tratado como lixo sob a ponte; Por toda a vida que foi destruída Em Mariana ou no Xingu, por Belo Monte;
Por toda vítima de cada enchente, De cada seca dura e duradoura; Por todo escravo ou seu equivalente; Pela criança que labuta na lavoura; Por todo pai ou mãe de santo atacada Por quem exclui quem crê num outro deus; Por toda mãe guerreira, abandonada, Que cria sem o pai os filhos seus.
E proclamamos que não se exclua ninguém Senão a Exclusão.
Eis aqui a face escrota De um modelo que se esgota. Policiais não defendem; Políticos não contentam; Uns nos agridem ou prendem; Outros não nos representam. E aquele que não é títere, E é rebelde coração, Vai no Face, no zapp e Twitter e Combina um ato ou ação…
… Por todo defensor da natureza E todo ambientalista ameaçado; E cada vítima de bullying indefesa; E cada transexual crucificado; E cada puta, cada travesti; E cada louco, e cada craqueiro; E cada imigrante do Haiti; E cada quilombola e beiradeiro;
Pelo trabalhador sem moradia, Pelo sem-terra e pelo sem-trabalho; Pelos que passam séculos ao dia Em conduções que cansam pra caralho; Pela empregada que batalha, e como, Tal como no Sudeste o nordestino; E a órfã sem pais hetero nem homo, E a morta num aborto clandestino.
Impelidos pelos ventos Dos acontecimentos, Louvamos os mais diversos Movimentos libertários Numa cascata de versos Sociais e solidários Duma canção de protesto Qual “Canção de Redenção”, Uma canção-manifesto, Canção “Manifestação”…
… Por todo ser humano ou animal Tratado com desumanimaldade; Por todo ser da mata ou vegetal Que já foi abatido ou inda há-de; Por toda pobre mãe de um inocente Executado em noite de chacina; Por todo preso preso injustamente, Ou onde preso e preso se assassina;
Pelo ativista de direitos perseguido E o policial fodido igual quem ele algema; Pelo neguinho da favela inibido De frequentar a praia de Ipanema; E pelo pobre que na dor padece De amor, de solidão ou de doença; E as presas da opressão de toda espécie, E todo aquele em quem ninguém mais pensa…
E proclamamos que não se exclua ninguém Nem nada senão a Exclusão.
Dando à vida e à alma grande Um sentido que as expande, Cantamos em consonância Com os que sofrem ofensa, Violência, intolerância, Racismo, indiferença; As Cláudias e Marielles, Rafaeis e Amarildos Da imensa legião De excluídos do Brasil, do S- Ul ao norte da nação.
E proclamamos que não se exclua Ninguém senão a Exclusão.
Era uma chuva, era um show de estrelas;
Chovia estrelas a granéu. (*)
Eram milhares de estrelas, uma chuva delas,
Caindo lá no chão do céu.
E
Diante da visão do firmamento,
Um pensamento vem ao coração:
De
Que cada um de nós não é senão uma estrela,
A brilhar no céu do chão.
Todos nós,
A brilhar, a brilhar,
Somos como luas e sóis
A girar, a girar…
E a chuva não cessava a sucessão
De pingos lá no chão do céu.
Era uma chuva de granizo de estrela em grão;
Chovia estrelas a granel.
E
Diante da visão do firmamento,
Na mente um sentimento se produz:
De
Que cada um de nós não é senão uma estrela,
Cada um, um ser de luz.
Todos nós,
A brilhar, a brilhar,
Somos sete bilhões de faróis,
A girar, a girar,
Tal como luas e sóis
A brilhar, a brilhar,
Como sete bilhões de faróis,
Todos nós, todos nós.