Arquivo da categoria: Wilson Simoninha

Todas Elas Juntas Num Só Ser

Não canto mais Bebete nem Domingas
Nem Xica nem Tereza, de Ben Jor;
Nem Drão nem Flora, do baiano Gil;
Nem Ana nem Luiza, do maior;
Já não homenageio Januária,
Joana, Ana, Bárbara, de Chico;
Nem Yoko, a nipônica de Lennon;
Nem a cabocla, de Tinoco e de Tonico;

Nem a tigresa, nem a vera gata,
Nem a camaleoa, de Caetano;
Nem mesmo a linda flor de Luiz Gonzaga,
Rosinha, do sertão pernambucano;
Nem Risoflora, a flor de Chico Science –
Nenhuma continua nos meus planos.
Nem Kátia Flávia, a flor de Fausto Fawcett;
Nem Anna Júlia, de Camelo, dos Hermanos.

Só você,
Hoje eu canto só você;
Só você,
Que eu quero porque quero por querer.

Não canto de Melô pérola negra;
De Brown e Herbert, uma brasileira;
De Ari, nem a baiana nem Maria,
Nem a Iaiá também, nem a faceira;
De Dorival, nem Dora nem Marina
Nem a morena de Itapoã;
De Vina, a garota de Ipanema;
Nem Iracema, de Adoniran.

De Jackson do Pandeiro, nem Cremilda;
De Michael Jackson, nem a Billie Jean;
De Jimi Hendrix, nem a doce Angel;
Nem Ângela nem Lígia, de Jobim;
Nem Lia, Lily Braun nem Beatriz,
Das doze deusas de Edu e Chico;
Até das trinta Leilas de Donato
E da Layla de Clapton eu abdico.

Só você,
Canto e toco só você;
Só você,
Que nem você ninguém mais pode haver.

Nem a namoradinha de um amigo
E nem a amada amante de Roberto;
E nem Michelle-ma-belle, do beatle Paul;
Nem Isabel – Bebel – de João Gilberto;
E nem B.B., la femme de Serge Gainsbourg;
Nem, de Totó, na malafemmena;
Nem a Iaiá de Zeca Pagodinho;
Nem a mulata mulatinha de Lalá;

E nem a carioca de Vinicius
E nem a tropicana de Vicente e Alceu
E nem a escurinha de Geraldo
E nem a pastorinha de Noel
E nem a namorada de Carlinhos
E nem a superstar do Tremendão
E nem a malaguenha de Lecuona
E nem a popozuda do Tigrão

Só você,
Hoje elejo e elogio só você,
Só você,
Que nem você não há nem quem nem quê.

De Haroldo Lobo com Wilson Batista,
De Mário Lago e Ataulfo Alves,
Não canto nem Emília nem Amélia:
Nenhuma tem meus vivas! nem meus salves!
Nem Polly do nirvana Kurt Cobain
E nem Roxanne, de Sting, do Police;
E nem a mina do mamona Dinho
E nem as mina – pá! – do mano Xis!

Loira de Hervê e loira do É O Tchan,
Lôra de Gabriel, o Pensador;
Laura de Mercer, Laura de Braguinha
(L´aura de Daniel, o trovador?);
Ana do Rei e Ana de Djavan,
Ana do outro rei, o do baião:
Nenhuma delas hoje cantarei:
Só outra reina no meu coração.

Só você,
Rainha aqui é só você,
Só você,
A musa dentre as musas de A a Z.

Se um dia me surgisse uma moça
Dessas que, com seus dotes e seus dons,
Inspiram parte dos compositores
Na arte das palavras e dos sons,
Tal como Madelleine, de Jacques Brel,
Ou como Madalena, de Martinho,
Ou como Madalena, de Ivan Lins,
E a manequim do tímido Paulinho;

Ou como, de Caymmi, a moça pRosa
E a musa inspiradora Doralice;
Se me surgisse uma moça dessas,
Confesso que eu talvez não resistisse;
Mas, veja bem, meu bem, minha querida:
Isso seria só por uma vez,
Uma vez só em toda a minha vida!
Ou talvez duas… mas não mais que três…

Só você…
Tô brincando com você;
Só você…
As coisas mais queridas você é:

Você pra mim é o sol da minha noite;
É como a rosa, luz de Pixinguinha;
É como a estrela pura aparecida,
A estrela a refulgir, do Poetinha;
Você, ó flor, é como a nuvem calma
No céu da alma de Luiz Vieira;
Você é como a luz do sol da vida
De Stevie Wonder, ó minha parceira.

Você é para mim e o meu amor,
Crescendo como mato em campos vastos,
Mais que a gatinha para Erasmo Carlos;
Mais que a cigana pra Ronaldo Bastos;
Mais que a divina dama pra Cartola;
Que a domna pra De Ventadorn, Bernart;
Que a honey baby para Waly Salomão
E a funny valentine pra Lorenz Hart.

Só você,
Mais que tudo e todas, só você;
Só você,
Que é todas elas juntas num só ser.

Paixão


de “Alta Fidelidade”, de Wilson Simoninha

2013_Simoninha_Alta_Fidelidade_1024

Que maravilha é meu time
Que entorna o céu aqui no chão
Pois não há nada mais sublime
Que ver meu time campeão

Em meio aos fogos e ao frisson
Eu grito com
entusiasmo
Os grandes jogos são um show
E cada gol
é um orgasmo

É campeão! – E eu vou com tudo
Com o escudo bem no coração
Um coração que ri e chora
E comemora cheio de paixão

Uma paixão assim absurda
Ninguém exprime numa frase, não
Devo dizer, sem o meu time
Eu não concebo a vida, meu irmão

Meu time agora me eletriza
E o seu hino eu vou cantar
Com a bandeira e a camisa
E mil buzinas pelo ar

Queria Estar Amando Alguém (I Wish I Were in Love Again)


de “Nego”, de Carlos Rennó

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Quer saber? Eu melhorei,
Por termos separado.
Quer saber? Eu isolei,
Rindo, machucado.

Hoje eu como e durmo bem;
Já me restabeleci.
Quer saber? Já me enchi!

O sono mau,
O baita pau,
A baixaria após o alto-astral,
Me falta o pega e a pegação fatal –
Queria estar amando alguém.

O bolo, pô,
O rolo, sô,
O odiável ódio e um amor de amor,
O papo com o prato voador –
Queria estar amando alguém.

Sem pressão,
Nem tensão,
Eu tô são, mas
Preferia estar louco!

O arranca-rabo exemplar
De um cão e um gato, um casal sem par,
Saquei o lance, mas queria estar
Amando alguém.

O atrito, eh,
O grito, eh,
O dito: “Eu vou te amar até morrer”,
O autoengano ao mentir e crer –
Queria estar amando alguém.

No que degela,
O amor revela
O amaro aroma de uma fera bela,
O duplo ardil do par de saltos dela –
Queria estar amando alguém.

Sem um bem,
Sem porém,
Eu tô zen, mas
Eu queria estar alto!

Perdão, sinhá,
Eu me amarrar
Na velha guerra de um casal, um par;
Não amo a calma e queria estar
Amando alguém.

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You don´t know that I felt good,
When we up and parted.
You don´t know I knocked on wood,
Gladly broken-hearted.

Worrying is throught, I sleep all night,
Appetite and health restored.
You don’t know how much I´m bored!

The sleepless nights,
The daily fights,
The quick toboggan when you reach the heights,
I miss the kisses and I miss the bites –
I wish I were in love again.

The broken dates,
The endless waits,
The lovely loving and the hateful hates,
The conversation with the flying plates –
I wish I were in love again.

No more pain,
No more strain,
Now I´m sane, but
I would rather be ga-ga!

The pulled out fur of cat and cur,
The fine mismating of a him and her,
I´ve learned my lesson, but I wish I were
In love again.

The furtive sigh,
The blackened eye,
The words: “I´ll love you ´til the day I die”,
The self-deception that believes the lie –
I wish I were in love again.

When love congeals,
It soon reveals
The faint aroma of performing seals,
The double-crossing of a pair of heels –
I wish I were in love again.

No more care,
No despair,
I´m all there now,
But I´d rather be punch-drunk!

Believe me, sir,
I much prefer
The classic battle of a him and her,
I don´t like quiet, and I wish I were
In love again.

Música de Richard Rodgers e letra de Lorenz Hart, 1937