Milagre!
Multiplicou-se em cem uma semente,
Em mil, em mil e cem, uma somente,
Uma semente só, tão resistente!
Milagre!
Dentro do ventre tal como um cometa,
Entre milhões apenas um gameta,
Não mais do que um gameta, chega à meta.
Milagres como esses são diários,
Mas não milagres extraordinários:
Milagres, mas milagres ordinários.
Milagre!
Que coisa incrível, sim, que coisa louca,
A guerra da saliva em minha boca
E a longa vida, oculta, da minhoca!
Milagre!
A efêmera beleza de uma flor!
O pouco odor, o tom marrom da cor
E a boa forma, firme, de um cocô!
Milagres como esses são diários,
Mas não milagres extraordinários:
Milagres, mas milagres ordinários.
Milagre!
Viver por toda a vida, todavia,
Morrendo e renascendo a cada dia,
Com o pé quente e a cabeça fria.
Milagre!
Provar o sal, o amargo, o doce, o agre!
E derramando a comovida lágri-
Ma, comprovar que a vida é um milagre!
Milagres como esses são diários,
Mas não milagres extraordinários:
Milagres, mas milagres ordinários.
Milagre, ah, milagre, oh, milagre!