Arquivo da categoria: Lokua Kanza

Lema


de “Inclassificáveis”, de Ney Matogrosso

2008_Ney_Matogrosso_Inclassificaveis_1024

Não vou lamentar
A mudança que o tempo traz, não,
O que já ficou para trás
E o tempo a passar sem parar jamais.

Já fui novo, sim; de novo, não…
Ser novo pra mim é algo velho.
Quero crescer,
Quero viver o que é novo: sim,
O que eu quero, assim,
É ser velho.

Envelhecer,
Certamente com a mente sã,
Me renovando,
Dia a dia, a cada manhã,
Tendo prazer,
Me mantendo com o corpo são –
Eis o meu lema,
Meu emblema, eis o meu refrão.

Mas não vou dar fim
Jamais ao menino em mim,
Nem dar de não mais me maravilhar
Diante do mar e do céu da vida.

E ser todo ser, e reviver,
A cada clamor de amor e sexo,
Perto de ser
Um deus e certo de ser mortal,
De ser animal
E ser homem,

E envelhecer,
Certamente com a mente sã,
Me renovando,
Dia a dia, a cada manhã,
Tendo prazer,
Me mantendo com o corpo são:
Eis o meu lema,
Meu emblema, eis o meu refrão.

Eis o meu lema,
Meu emblema, eis minha oração.

Te Adorar


de “Hoje”, de Gal Costa

2005_Gal_Costa_Hoje_1024

Nada mais me atrai
Que tua tez morena, ai, ai.
Talvez por eu ser o teu servo,
Com certa obsessão a observo.

Nada faz brilhar
E agrada mais ao meu olhar;
Pois se eu te vejo, meu buquê,
Vejo o que eu mais desejo ver.

A te adorar, parado em ser teu par,
A te adorar, dourar, dourar…
Te ver me dar tudo que és,
Da cabeça até os pés.

Nada mais me traz
Felicidade e paz
Do que ver-te, ver-te sorrir.
É como sorver um elixir.

Fico a te focar;
Mergulho fundo no teu olhar.
Mesmo quando o gozo já vem,
Eu me afundo bem ali e além.

A te adorar, parado em ser teu par,
A te adorar, dourar, dourar…
Te ter, me dar a tudo que és,
Da cabeça até os pés.

Te adorar…
Te adorar, dourar, dourar…
Te ver me dar tudo que és,
Da cabeça até os pés.

Te adorar…
Te adorar, dourar, dourar…
Te ver me dar tudo que és,
Dez mil vezes, mil vezes dez!

Sexo e Luz


de “Hoje”

2005_Gal_Costa_Hoje_1024

Quando o sol
Abaixou
Num dia tão monótono,
A paixão
Me deixou
Atônito.

Me tirou
Da rotina,
E num momento único,
Alterou
Meu destino
De súbito.

Aí,
Saí do vale do meu tormento,
E fui
Cair no lago do teu amor;
Ali,
Aliviei todo o meu sofrimento,
E ui,
Me vi gemendo de prazer que nem de dor.

Enfim, lancei de mim um grito;
E em ti, fui um com o infinito.

E no céu
Do meu eu,
No íntimo, no âmago,
Acendeu
Um límpido
Relâmpago.

No ápice,
Em átimos
Que pareceram séculos,
Eu me banhei
E me lavei
Em sexo e luz.

Então,
Além do monte, além do horizonte,
Ah sim,
Além do mundo, além da razão,
Oh não,
Bebi do poço sem fundo, da fonte
Sem fim,
O poço do desejo, a fonte da paixão.

Enfim, lancei de mim um grito;
E em ti, fui um com o infinito.

Mar e Sol


de “Hoje”, de Gal Costa

2005_Gal_Costa_Hoje_1024

Um sol
Eu sou
Para o seu mar, ó meu amor;
Você
O mar é
Para o meu sol, para eu me pôr;

Me pôr
Em você,
Me espelhar, me espalhar;
Meu sol
De arrebol
Deitar no leito de seu mar;

E entrar em você,
Em você queimar, arder;
Em você tremer, em você,
Em você morrer, morrer.

Um só,
Um nó
De fogo e água, terra e céu,
A sós,
Somos nós,
De corpo e alma, você e eu;

E eu
A descer,
A desnascer, desvanecer;
A ser
Em você
Um sol a se dissolver,

Ao entrar em você,
Em você queimar, arder;
Em você tremer, em você,
Em você morrer, morrer.

Depois,
Nós dois,
Olhos nos olhos, vis-à-vis,
Nos seus
Olhos meus,
Me vejo no que vejo ali.

Ali,
Eu-você,
Olho no olho a se espelhar,
Amor,
Sem temor,
Olho o que eu olho me olhar –

Ao entrar em você,
Em você queimar, arder;
Em você tremer, em você,
Com você morrer, morrer.

Paixão de fogo de paixão
De fogo de paixão
De fogo de paixão

Em que me afogo de paixão
Me afogo de paixão
Me afogo de paixão.

Partas Não

Partas não,
Que tu partes o meu coração.
Se partes daqui,
Se de súbito me apartas de ti,
Oh, meu bem,
Assim me apartas afinal de mim,
Pois também
Parte de mim contigo parte, sim.

Se tu partes,
Tu me partes;
E pra onde fores, onde for,
Pra Paris ou pro Pará,
Para lá irá o meu amor.

Se tu partes,
Tu me partes;
E pra onde fores, onde for,
Pra Paris ou Paraíba,
Para aí irá o meu amor.

Partas não,
Porque tu partes o meu coração
E o meu ser
Em duas partes, meu bem-querer;
Uma aqui,
Aqui onde eu ficarei, sem ti;
Outra lá,
Lá onde fores, minha flor, parar.