Após nove ou dez conhaques,
Acordei qual uma flor,
Sem Engov nem ataques;
Nem senti tremor.
Homem sempre me aparece;
Geralmente bem me dou.
Mas um meia-boca desse
Me desconcertou.
Tinindo estou;
Curtindo estou;
Criança, chorando e sorrindo estou;
Inquieta, tonta e encantada estou.
Sem dormir,
Não tem dormir,
O amor vem e diz: não convém dormir… –
Inquieta, tonta e encantada estou.
Me perdi, dominada,
E daí? Errei, sim.
Ele é uma piada,
A piada sobre mim.
Ele é o fim,
E até o fim
Vou tê-lo pra vê-lo, com fé, no fim,
Inquieto, tonto e encantado também.
Vi demais,
Vivi demais,
Mas hoje eu já adolesci demais –
Inquieta, tonta e encantada estou.
Niná-lo eu vou,
No embalo, eu vou,
Um dia na pele grudá-lo eu vou –
Inquieta, tonta e encantada estou.
Ao falar, ele sente
Travação, timidez;
Mas horizontalmente
Falando, ele é dez.
Perplexa, enfim,
Com nexo, enfim,
Com – graças a Deus – muito sexo, enfim,
Inquieta, tonta e encantada estou.
Ele é um tolo, mas um tolo
O seu charme às vezes tem;
Em seus braços eu me enrolo,
Que nem um neném.
Caso é aquela coisa louca;
Nem dormindo eu estou,
Desde que esse meia-boca
Me desconcertou.
Que bom, assim,
Mignon, assim,
E com meu estilo, em meu tom, assim,
Inquieta, tonta e encantada estou.
Quem sou eu?
Alguém sou eu
Ardendo ao pensar que o seu bem sou eu –
Inquieta, tonta e encantada estou.
“Não, senhor, obrigada” –
No início eu falei.
Hoje a gente é chegada
Mais do que Erasmo e o Rei.
Pronta, então,
Desponto, então,
Pantera, madura, no ponto, então –
Inquieta, tonta e encantada estou.
Sensata, enfim,
Constato, enfim,
Sua baixa estatura de fato, enfim –
Inquieta, tonta e encantada não mais.
Doeu demais;
Rendeu demais;
Você ganhou muito e perdeu demais ––
Inquieta, tonta e encantada não mais.
Tive um surto dispéptico,
Mas viver já não dói.
Tenho o peito antisséptico,
Dês que você se foi.
Romance – finis;
Sem chance – finis;
Calor a invadir meu colant – finis;
Inquieta, tonta e encantada não mais.
*
Bewitched, Bothered and Bewildered
After one whole quart of brandy, Like a daisy I awake. With no Bromo-Seltzer handy, I don´t even shake. Men are not a new sensation; I´ve done pretty well, I think. But this half-pint imitation Put me on the blink.
I’m wild again, Beguiled again, A simpering, whimpering child again – Bewitched, bothered and bewildered am I. Couldn´t sleep And wouldn´t sleep When love came and told me I shouldn´t sleep – Bewitched, bothered and bewildered am I. Lost my heart, but what of it? My mistake, I agree. He´s a laugh, but I love it, Because the laugh´s on me. A pill he is, But still he is All mine and I´ll keep him until he is Bewitched, bothered and bewildered like me.
I´ve seen a lot – I mean a lot – But now I´m like sweet seventeen a lot – Bewitched, bothered and bewildered am I. I´ll sing to him, Each spring, to him, And long for the day when I´ll cling to him – Bewitched, bothered and bewildered am I. When he talks, he is seeking Words to get off his chest. Horizontally speaking, He´s at his very best. Vexed again, Perplexed again, Thank God, I can be oversexed again – Bewitched, bothered and bewildered am I.
He´s a fool, and don´t I know it, But a fool can have his charms; I´m in love, and don´t I show it, Like a babe in arms. Love´s the same old sad sensation; Lately I´ve not slept a wink, Since this half-pint imitation Put me on the blink.
Sweet again, Petite again, And on my proverbial seat again – Bewitched, bothered and bewildered am I. What am I? Half shot am I. To think that he loves me so hot am I – Bewitched, bothered and bewildered am I. Though at first we said “No, sir”, Now we´re two little dears. You might say we are closer Than Roebuck is to Sears. I´m dumb again, And numb again, A rich, ready, ripe little plum again – Bewitched, bothered and bewildered am I.
Wise at last, My eyes at last Are cutting you down to your size at last – Bewitched, bothered and bewildered no more. Burned a lot, But learned a lot, And now you are broke, so you earned a lot – Bewitched, bothered and bewildered no more. Couldn´t eat, was dyspeptic; Life was so hard to bear; Now my heart´s antiseptic, Since you moved out of there. Romance – finis. Your chance – finis. Those ants that invaded my pants – finis. Bewitched, bothered and bewildered no more.
Música de Richard Rodgers e letra de Lorenz Hart, 1941
Um Bobo e um Babaca, num passeio à beira-mar,
Se topam e papeiam no seu jeito singular.
Os dois são respeitáveis, cada qual um cidadão,
E a gente logo nota que eles têm os pés no chão.
– Olá! – Como está?
– Diga aí! – Que que há?
– Tô bem! – Legal!
– Haha! – Menos mal!
– Bem, bem… – E então?
– Lindo dia! – Como não?
– E o pessoal? – Que que há?
– Que bom! – Como está?
O tempo ´tá bonito mas me dói olhar o céu:
Saí de guarda-chuva e obviamente não choveu.
– Ai, ai! – É a vida!
– E a patroa? – E a lida?
– Já ´tá tarde! – Meu Deus!
– ´Tão tá! – Fica assim… – Adeus!
Dez anos se passaram pr´esses homens essenciais,
Até que se toparam por acaso uma vez mais.
Que os dois evoluíram não há dúvida pra gente,
E assim os dois têm muito o que contar, naturalmente.
– Olá! – Como está?
– Diga aí! – Que que há?
– Tô bem! – Legal!
– Haha! – Menos mal!
– Bem, bem… – E então?
– Lindo dia! – Como não?
– E o pessoal? – Que que há?
– Que bom! – Como está?
Já vi a sua cara, mas seu nome é mesmo qual?
Ah, como está, garoto? ´Cê não muda, tá igual!
– Ai, ai! – É a vida!
– E a patroa? – E a lida?
– Já ´tá tarde! – Meu Deus!
– ´Tão tá! – Fica assim… – Adeus!
Vinte anos mais se passam; de repente no jardim
Da casa de São Pedro reencontram-se por fim.
Asinhas têm nas costas, e nas mãos têm uma harpinha,
Que os dois vão dedilhando, entoando a ladainha:
– Olá! – Como está?
– Diga aí! – Que que há?
– Tô bem! – Legal!
– Haha! – Menos mal!
– Bem, bem… – E então?
– Lindo dia! – Como não?
– E o pessoal? – Que que há?
– Que bom! – Como está?
Você ficou um pouco mais cheinho, me parece;
Ei, vem me visitar e tomar uma um dia desse.
– Ai, ai! – É a vida!
– E a patroa? – E a lida?
– Já ´tá tarde! – Meu Deus!
– ´Tão tá! – Fica assim… – Adeus!
A Babbitt met a Bromide on the avenue one day. They held a conversation in their own peculiar way. They both were solid citizens – they both had been around. And as they spoke you clearly saw their feet were on the ground:
– Hello! – How are you? – Howza folks? – What´s new? – I´m great! – That´s good! – Ha! Ha! – Knock wood! – Well! Well! – What say? – Howya been? – Nice day! – How´s tricks? – What´s new? – What´s fine! – How are you?
Nice weather we are having but it gives me such a pain: I’ve taken my umbrella so of course it doesn’t rain.
Ten years went quickly by for both these sub-sti-an-tial men, And then it happened that one day they chanced to meet again. That they had both developed in ten years there was no doubt, And so of course they had an awful lot to talk about.
– Hello! – How are you? – Howza folks? – What´s new? – I´m great! – That´s good! – Ha! Ha! – Knock wood! – Well! Well! – What say? – Howya been? – Nice day! – How´s tricks? – What´s new? – What´s fine! – How are you?
I’m sure I know your face, but I just can’t recall your name; Well, how´ve you been, old boy, you’re looking just about the same.
Before they met again some twenty years they had to wait, This time it happened up above inside St. Peter’s gate. A harp each one was carrying and both were wearing wings, And this is what they sang as they were strumming on the strings:
– Hello! – How are you? – Howza folks? – What´s new? – I´m great! – That´s good! – Ha! Ha! – Knock wood! – Well! Well! – What say? – Howya been? – Nice day! – How´s tricks? – What´s new? – What´s fine! – How are you?
You’ve grown a little stouter since I saw you last, I think. Come up and see me sometime and we’ll have a little drink.
É verão,
E a vida tá boa.
Quanto peixe!
E que lindo o algodão!
O papai tá rico
E a mamãe tá bonita.
Então, nenenzinho,
Chora não.
Um dia desses
Vais acordar cantando,
Vais abrir as asas
E o céu atingir.
Até tal dia,
Nada vai te fazer mal,
Com o papi e a mami
Junto a ti.
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Summertime, And the livin’ is easy. Fish are jumpin’ And the cotton is high. Oh, your daddy’s rich And your mom’s good lookin’. So, hush, little baby, Don’t you cry.
One of these mornings You’re going to rise up singing. Then you’ll spread your wings, And you’ll take to the sky. But till that morning There’s a’ nothing can harm you, With daddy and mommy Standing by.
Música de George Gershwin e letra de Ira Gershwin e Dubose Heyward, 1935
Seriam tão felizes
Joanas, Beatrizes,
Ah se
Ganhassem-me.
Você, tão persistente,
A mim, tão resistente,
Venceu –
E convenceu.
Oh meu grande e elegante, meu Romeu,
Sei que te ganhei, não sei como ocorreu.
Nem és assim perfeito,
Mas agitou meu peito
Te ver
Aparecer.
Tenho um xodó por ti,
Pão de mel;
Ando suspirando
Pra dedéu.
Eu nunca tive em mente
Me apaixonar tão intensamente.
Que tal eu,
Que tal tu,
Num chalé charmoso
Pra chuchu?
Do meu chamego tem dó,
Que eu tenho um xodó,
Meu broto, por ti.
Tenho um xodó por ti,
Pão de mel;
Ando suspirando
Pra dedéu.
Não é só azaração;
Provamos que há predestinação.
Topo eu,
Topo tu,
No chalé charmoso
Pra chuchu.
O teu chamego dá dó,
Que eu tenho um xodó,
Meu broto, por ti.
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How glad the many millions Of Annabelles and Lillians Would be To capture me.
But you had such persistence You wore down my resistance. I fell – And it was swell.
You´re my big and brave and handsome Romeo. How I won you, I shall never, never know.
It´s not that you´re attractive – But oh, my heart grew active When you Came into view.
I´ve got a crush on you, Sweetie pie. All the day and night-time Hear me sigh. I never had the least notion That I could fall with so much emotion.
Could you coo? Could you care For a cunning cottage We could share? The world will pardon my mush, ´Cause I´ve got a crush, My baby, on you.
I´ve got a crush on you, Sweetie pie. All the day and night-time Hear me sigh. This isn´t just a flertation; We´re proving that there´s predestination.
I could coo, I could care For that cunning cottage We could share. Your mush I never shall shush, ´Cause I´ve got a crush, My baby, on you.
Música de George Gershwin e letra de Ira Gershwin, 1928
de “Não Vou Pro Céu Mas Já Não Vivo no Chão”, de João Bosco
Ela incendiou meus dias mornos e normais,
Muito embora às vezes meio tonta…
Mas qualquer mulher não faz as coisas que ela fez;
Mais prazer não dá do que me dava toda vez.
Negra, linda, leve, nova, vejam vocês,
Com nitidez:
Eis minha ex.
Diante do eclipse desse amor,
Ante seu anti-resplendor,
A noite vem reacender
Memórias do calor e do clarão
De cada instante de explosão
Irradiante de prazer.
Me tirando o sono e roubando a minha paz,
O desassossego toma conta.
Portanto o que me importa é pôr um ponto
Enfim nas contas desse amor,
Em cada contra, em cada pró,
E me dispor pro próximo e estar pronto
E ir ao encontro do que for:
O que já era já é pó.
Quero agora uma nova ela,
Pro meu dia irradiar
E meu coração sorrir;
Uma nova ela, nova estrela,
Pr’eu seguir e me guiar,
Me guiar e me seguir.
de “Não Vou Pro Céu Mas Já Não Vivo no Chão”, de João Bosco
Céu azul, azul, azul;
Cor-de-rosa pôr-do-sol;
Véu da aurora boreal;
Mar de estrelas lá no céu;
Luz de fogos na amplidão;
Lua-prata qual CD;
Preto eclipse do esplendor;
Arco-íris multicor:
Tudo, tudo isso não
Chega perto de você,
De seus olhos, seu olhar,
Suas pernas, seu andar,
Sua cara, coração,
Sua boca e um não-sei-quê,
De sua pele, sua cor –
Do seu corpo, meu amor…
Verdes pampas lá do Sul;
Costa Branca igual lençol;
Na vazante, o Pantanal;
Barcelona, Parque Guell;
Monte Fuji no Japão;
Garopaba em SC;
Amazônia, selva em flor;
Mar azul de Salvador:
Tudo, tudo isso não
Chega perto de você,
Nem da graça nem da cor
Do seu corpo, meu amor…
Pra bom entendedor meia palavra bas-
Eu vou denunciar a sua ação nefas-
Você amarga o mar, desflora a flores-
Por onde você passa, o ar você empes-
Não tem medida a sua sanha imediatis-
Não tem limite o seu sonho consumis-
Você deixou na mata uma ferida expos-
Você descora as cores dos corais na cos-
Você aquece a terra e enriquece à cus-
Do roubo do futuro e da beleza augus-
Mas de que vale tal riqueza, grande bos-
Parece que de neto seu você não gos-
Você decreta morte à vida ainda em vis-
Você declara guerra à paz por mais benquis-
Não há em toda a fauna um animal tão bes-
Mas já tem gente vendo que você não pres-
Não vou dizer seu nome porque me desgas-
Pra bom entendedor meia palavra bas-
Aqui, sem jacarandá,
Sem cambuci e sem jerivá,
Não dá, não dá;
Sem pau-marfim,
Sem resedá
E sem ipê,
Em SP,
Não dá, não dá,
Não dá pé!
Não dá pé!
Com tipuana e com pitangueira,
Aí dá pé, aí dá pé;
Sibipiruna, jabuticabeira,
Aí dá pé;
Com alfeneiro e com quaresmeira,
Aí dá pé, aí dá pé;
Pau-ferro, ipê-roxo, ipê-amarelo,
Aí dá pé.
Excesso
De cinza e escassez
De verde.
Extensas plantações
De prédios
E quarteirões
Inteiros
Sem uma árvore,
Ali em Santa Cecília e
Lá no Brás, lá na Sé.
Nenhum pé!
E só no mês de abril
Três mil
Já foram para o chão.
Ergueram mais torres altas.
Tal verticalização
Não dá pé!
Porém, com jacarandá,
Com cambuci e com jerivá,
Dá, sim, dá, sim;
Com pau-marfim,
Com resedá
E com ipê,
Em SP,
Dá, sim, dá, sim,
Sim, dá pé!
Assim, dá pé!
Aqui, sem jacarandá,
Sem cambuci e sem jerivá,
Não dá, não dá;
Sem pau-marfim,
Sem resedá
E sem ipê,
Em SP,
Não dá, não dá,
Não dá pé!
Era uma chuva, era um show de estrelas;
Chovia estrelas a granéu. (*)
Eram milhares de estrelas, uma chuva delas,
Caindo lá no chão do céu.
E
Diante da visão do firmamento,
Um pensamento vem ao coração:
De
Que cada um de nós não é senão uma estrela,
A brilhar no céu do chão.
Todos nós,
A brilhar, a brilhar,
Somos como luas e sóis
A girar, a girar…
E a chuva não cessava a sucessão
De pingos lá no chão do céu.
Era uma chuva de granizo de estrela em grão;
Chovia estrelas a granel.
E
Diante da visão do firmamento,
Na mente um sentimento se produz:
De
Que cada um de nós não é senão uma estrela,
Cada um, um ser de luz.
Todos nós,
A brilhar, a brilhar,
Somos sete bilhões de faróis,
A girar, a girar,
Tal como luas e sóis
A brilhar, a brilhar,
Como sete bilhões de faróis,
Todos nós, todos nós.
Parar
Pra não pensar,
Pra compensar,
Pra valer.
Parar
Pra não pirar,
Pra respirar,
Pra viver.
Parar
Pra não se atar,
Pra não se ater
Só ao ter.
Parar
Para se ater
Só ao ser.
Parar
Sem o fazer,
Sem afazer,
Sem dever.
Sem ver
Mais que horas são,
Mas que oração
Se dizer.
Orar
De cor, ação
De coração
E saber
Entrar-
Se, concentrar-
Se no ser.
Pense o espaço e o pássaro lá,
Pênsil, parado no ar;
Pense-o pairando, parando pra continuar…
Parar
Pra se calar,
Pra se falar,
Sem dizer.
Parar
Para zerar,
Para rezar,
Bendizer.
Parar
Pra desplugar-
Se desligar-
Se do ter.
Parar
Pra religar-
Se no ser.
Pense o espaço e o pássaro lá,
Pênsil, parado no ar;
Pense-o pairando, parando pra continuar…
Ó meu querido amigo,
Conte comigo
E com a minha força.
Pra que cê finalize
A sua crise,
Como eu não há quem torça.
No meio dessa bruma,
É cada uma
Que a gente às vezes engole…
Mesmo com essa porra,
Cara, não corra;
Eu sei que não tá mole.
Tá duro, mas enfrente,
E siga em frente,
Que do seu lado eu sigo.
E antes que um vento assopre-o,
Diga a si próprio,
Meu amigo:
“Coragem, coração, se joga!”
Como corações se jogam.
Então, se liga só no slogan:
Coragem, coração, se joga!,
Que eu te dou a minha mão.
Enquanto alguém no chão se droga,
Coragem, meu irmão, se joga!
Respire fundo como um yogue;
Saia pro mundo, caia do blog;
Na batida da vida se jogue.
Na falta de esperança,
Auto-confiança
E de auto-controle,
Vou ser o solidário
Ser que o ampare, o ser
Que vai comparecer.
E antes que um vento assopre-o,
Diga a si próprio,
Meu amigo:
“Coragem, coração, se joga!”
Como corações se jogam.
Então, se liga só no slogan:
Coragem, coração, se joga!,
Que eu te dou a minha mão.
Enquanto alguém no chão se droga,
Coragem, meu irmão, se joga!
Enquanto alguém no chão se droga
Coragem, coração!
Não vou lamentar
A mudança que o tempo traz, não,
O que já ficou para trás
E o tempo a passar sem parar jamais.
Já fui novo, sim; de novo, não…
Ser novo pra mim é algo velho.
Quero crescer,
Quero viver o que é novo: sim,
O que eu quero, assim,
É ser velho.
Envelhecer,
Certamente com a mente sã,
Me renovando,
Dia a dia, a cada manhã,
Tendo prazer,
Me mantendo com o corpo são –
Eis o meu lema,
Meu emblema, eis o meu refrão.
Mas não vou dar fim
Jamais ao menino em mim,
Nem dar de não mais me maravilhar
Diante do mar e do céu da vida.
E ser todo ser, e reviver,
A cada clamor de amor e sexo,
Perto de ser
Um deus e certo de ser mortal,
De ser animal
E ser homem,
E envelhecer,
Certamente com a mente sã,
Me renovando,
Dia a dia, a cada manhã,
Tendo prazer,
Me mantendo com o corpo são:
Eis o meu lema,
Meu emblema, eis o meu refrão.
Veja só esse rio,
Que lentamente flui,
E o fio
Que se dilui
Nesse rio
E o polui.
Eu já tomei banho aqui,
Antes o meu pai tomou;
Água que daqui bebi,
Ih, sujou…
Era linda e límpida;
Hoje nela se espalhou
Uma espuma química;
Oh que horror…
Um saco plástico
Flutua à sua flor,
E ao redor
Turva o ar
Um fedor
De amargar.
E eu já tomei banho aqui,
Antes o meu pai tomou;
Um lugar sagrado se
Degradou.
Ói só o que o homem fez!
Era necessário? Não.
Ói só que insensatez!
Sem-razão!
Carcaça de automóvel, peça de museu:
É pau, calhau, metal, papel;
É tanto objeto;
É tão abjeto:
É dejeto,
É pneu,
É garrafa pet…
Água igual tapete
Mal reflete
O alto céu.
E eu já tomei banho aqui.
Antes o meu pai tomou.
Um lugar sagrado se
Degradou…
Hoje é um depósito
De lixo aquele rio;
É um despropósito,
-ta que pariu!
Éramos uma pá de “apocalípticos”,
De meros “hippies”, com um “falso” alarme…
Economistas, médicos, políticos
Apenas nos tratavam com escárnio.
Nossas visões se revelaram válidas,
E eles se calaram – mas é tarde.
As noites ’tão ficando meio cálidas…
E um mato grosso em chamas longe arde:
O verde em cinzas se converte logo, logo…
É fogo! É fogo!
Éramos “uns poetas loucos, místicos”…
Éramos tudo o que não era são;
Agora são – com dados estatísticos –
Os cientistas que nos dão razão.
De que valeu, em suma, a suma lógica
Do máximo consumo de hoje em dia,
Duma bárbara marcha tecnológica
E da fé cega na tecnologia?
Há só um sentimento que é de dó e de malogro…
É fogo… é fogo…
Doce morada bela, rica e única,
Dilapidada – só – como se fôsseis
A mina da fortuna econômica,
A fonte eterna de energias fósseis,
O que será, com mais alguns graus Celsius,
De um rio, uma baía ou um recife,
Ou um ilhéu ao léu clamando aos céus, se os
Mares subirem muito, em Tenerife?
E dos sem-água o que será de cada súplica, de cada rogo?
É fogo… é fogo…
Enquanto a emissão de gás carbônico
Sobe na América do Norte e na China,
No coração da selva amazônica
Desmatam uma Holanda: uma chacina!
Ó assassinos bárbaros frenéticos!
Ó gente má, ignara, vil, ignóbil!
Ó cínicos com máscara de céticos!
Ó antiéticos da ExxonMobil!
O estrago vai ser pago pela gente pobre toda;
É foda! É foda…
Em tanta parte, do Ártico à Antártida,
Deixamos nossa marca no planeta:
Aliviemos já a pior parte da
Tragédia anunciada com trombeta.
Parar
Pra não pensar,
Pra compensar,
Pra valer.
Parar
Pra não pirar,
Pra respirar,
Pra viver.
Parar
Pra não se atar,
Pra não se ater
Só ao ter.
Parar
Para se ater
Só ao ser.
Parar
Sem o fazer,
Sem afazer,
Sem dever.
Sem ver
Mais que horas são,
Mas que oração
Se dizer.
Orar
De cor, ação
De coração
E saber
Entrar-
Se, concentrar-
Se no ser.
Pense o espaço e o pássaro lá,
Pênsil, parado no ar;
Pense-o pairando, parando pra continuar…
Parar
Pra se calar,
Pra se falar,
Sem dizer.
Parar
Para zerar,
Para rezar,
Bendizer.
Parar
Pra desplugar-
Se desligar-
Se do ter.
Parar
Pra religar-
Se no ser.
Pense o espaço e o pássaro lá,
Pênsil, parado no ar;
Pense-o pairando, parando pra continuar…