Abraçável Você


de “Cole Porter & George Gershwin – Canções Versões”, de Carlos Rennó

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Me abrace,
Doce abraçável você.
Me abrace,
Incomparável você.

Só de vê-la o coração degela em mim;
O cigano só você revela em mim.

Não vejo
Senão encanto em você;
Desejo
Meus braços tanto em você.

Não seja má, menina,
Dê um abraço, dê um abraço, dê!
Doce abraçável você.

Me abrace,
Doce abraçável você.
Me abrace,
Incomparável você.

Em seus braços tudo é muito ardente, meu bem,
É tão bom mas não muito decente, meu bem.

No entanto,
Glorifiquemos o amor.
Garanto
Levá-la a extremos no amor.

Não seja má, menina,
Dê um abraço, dê um abraço, dê!
Doce abraçável você.

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Embrace me,
My sweet embraceable you.
Embrace me,
You irreplaceable you.

Just one look at you – my heart grew tipsy in me;
You and you alone bring out the gypsy in me.

I love all
The many charms about you;
Above all
I want my arms about you.

Don’t be a naughty baby,
Come to papa – come to papa – do!
My sweet embraceable you.

Embrace me,
My sweet embraceable you.
Embrace me,
You irreplaceable you.

In your arms I find love so delectable, dear,
I’m afraid it isn’t quite respectable, dear.

But hang it – Come on, let’s glorify love!
Ding dang it! You´ll shout “Encore!” if I love.

Don’t be a naughty papa,
Come to baby – come to baby – do!
My sweet embraceable you.

Música de George Gershwin e letra de Ira Gershwin, 1930

Blablablá (Blah, Blah, Blah)


de “Cole Porter & George Gershwin – Canções Versões”, de Carlos Rennó

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Eu fiz só pra você
Uma canção que é
Tão bonitinha;
A técnica aprendi
Nas músicas que ouvi
Lá na telinha.
As rimas todas das canções eu estudei;
E eis a coisinha linda que eu criei:

Blablablá, canção;
Blablablá, luar;
Blablablá, paixão;
Blablablá, no ar.

Tralalalá, tralalalalá, seu olhar em mim;
Tralalalá, tralalalalá, tudo, tudo enfim.

Blablablá, o céu;
Blablablá, a flor;
Blablablá, o mel;
Blablablá, o amor.

Tralalalá, tralalalalá, casa de sapê;
Blablablablablá, eu e você.

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I´ve written you a song,
A beautiful routine;
(I hope you like it.)
My technique can´t be wrong:
I learned it from the screen.
(I hope you like it.)
I studied all the rhymes that all the lovers sing;
Then just for you I wrote this little thing.

Blah, blah, blah, blah, moon,
Blah, blah, blah, above;
Blah, blah, blah, blah, croon,
Blah, blah, blah, blah, love.

Tra la la la, merry month of May;
Tra la la la, ‘neath the clouds of gray.

Blah, blah, blah, your hair,
Blah, blah, blah, your eyes;
Blah, blah, blah, blah, care,
Blah, blah, blah, blah, skies.

Tra la la la, tra la la la, cottage for two –
Blah, blah, blah, blah, blah, darling with you!

Música de George Gershwin e letra de Ira Gershwin, 1928

Um Dia de Garoa (A Foggy Day)


de “Cole Porter & George Gershwin – Canções Versões”, de Carlos Rennó

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Eu era estranho na cidade,
Sem ninguém que eu pudesse rever.
Pensei com auto-piedade:
“Que fazer? Que fazer? Que fazer?”
O panorama era deprê.
Mas passeando naquela garoa, ali,
Meu dia de sorte maior então vivi.

Num dia de garoa fria,
Sampa me deu melancolia.
O céu tão cinza causou alarme,
Mesmo o Masp perdeu seu charme.

“Isso vai longe”, pensava eu,
Quando um milagre aconteceu.
Pois de repente eu vi você –
E em São Paulo da garoa o sol brilhava
Pra valer!

_________________________________

I was a stranger in the city.
Out of town were the people I knew.
I had that felling of self-pity:
“What to do? What to do? What to do?”
The outlook was decidedly blue.
But as I walked through the foggy streets alone,
It turned out to be the luckiest day I’ve known.

A foggy day in London Town
Had me low and had me down.
I viewed the morning with alarm.
The British Museum had lost its charm.

How long, I wondered, could this thing last?
But the age of miracles hadn’t passed,
For, suddenly, I saw you there –
And through foggy London Town the sun was shining
Ev’rywhere.

Música de George Gershwin e letra de Ira Gershwin, 1937

Façamos, Vamos Amar (Let’s Do It, Let’s Fall in Love)

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Os cidadãos, no Japão, fazem,
Lá na China um bilhão fazem,
Façamos, vamos amar.
Os espanhóis, os lapões fazem,
Lituanos e letões fazem,
Façamos, vamos amar.
Os alemães, em Berlim, fazem,
E também lá em Bonn;
Em Bombaim, fazem:
Os hindus acham bom.
Nisseis, nikkeis e sanseis fazem;
Lá em San Francisco muitos gays fazem;
Façamos, vamos amar.

Os rouxinóis, nos saraus, fazem,
Picantes picapaus fazem, (*)
Façamos, vamos amar.
Uirapurus, no Pará, fazem,
Tico-ticos no fubá fazem, (**)
Façamos, vamos amar.
Chinfrins galinhas a fim fazem,
E jamais dizem não;
Corujas – sim – fazem,
Sábias como elas são.
Muitos perus, todos nus, fazem,
Gaviões, pavões e urubus fazem, (***)
Façamos, vamos amar.

Dourados no Solimões fazem;
Camarões em Camarões fazem;
Façamos, vamos amar.
Piranhas, só por fazer, fazem,
Namorados, por prazer, fazem,
Façamos, vamos amar.
Peixes elétricos bem fazem,
Entre beijos e choques;
Cações também fazem,
Sem falar nos hadoques…
Salmões no sal, em geral, fazem,
Bacalhaus no mar em Portugal, fazem,
Façamos, vamos amar.

Libélulas, em bambus, fazem,
Centopéias sem tabus fazem,
Façamos, vamos amar.
Os louva-deuses, com fé, fazem,
Dizem que bichos-de-pé fazem,
Façamos, vamos amar.
As taturanas também fazem
Com ardor incomum;
Grilos, meu bem, fazem,
E sem grilo nenhum…
Com seus ferrões, os zangões fazem,
Pulgas em calcinhas e calções fazem, (****)
Façamos, vamos amar.

Tamanduás e tatus fazem;
Corajosos cangurus fazem;
Façamos, vamos amar.
Coelhos só, e tão-só, fazem;
Macaquinhos num cipó fazem;
Façamos, vamos amar.
Gatinhas com seus gatões fazem,
Dando gritos de “ais”;
Os garanhões fazem –
Esses fazem demais…
Leões ao léu, sob o céu, fazem;
Ursos lambuzando-se no mel fazem;
Façamos, vamos amar.

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Variantes:
(*) Os rouxinóis, nos saraus, fazem,
Picantes picapaus fazem,
(**) Os sabiás, onde for, fazem,
Beija-flores numa flor fazem,
(***) Penguins no cio, lá no frio, fazem,
Mil casais de pombos por um fio fazem,
(****) Pulgas ensinadas e pulgões fazem,

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Let’s Do It, Let’s Fall in Love

(Cole Porter)

And that’s why Chinks do it, Japs do it,
Up in Lapland, little Lapps do it,
Let’s do it, let’s fall in love.
In Spain, the best upper sets do it,
Lithuanians and Letts do it,
Let’s do it, let’s fall in love.
The Dutch in Old Amsterdam do it,
Not to mention the Finns;
Folks in Siam do it,
Think of Siamese twins.
Some Argentines, without means, do it,
People say, in Boston, even beans do it,
Let’s do it, let’s fall in love.

The nightingales, in the dark, do it,
Larks, k-razy for a lark, do it,
Let’s do it, let’s fall in love.
Canaries, caged in the house, do it,
When they’re out of season, grouse do it,
Let’s do it, let’s fall in love.
The most sedated barnyard fowls do it,
When a chanticleer cries;
High-browed old owls do it,
They’re supposed to be wise.
Penguins in flocks, on the rocks, do it,
Even little cuckoos, in their clocks, do it,
Let’s do it, let’s fall in love.

Romantic sponges, they say, do it,
Oysters, down in Oyster Bay, do it,
Let’s do it, let’s fall in love.
Cold Cape Cod clams, ‘gainst their wish, do it,
Even lazy jellyfish do it,
Let’s do it, let’s fall in love.
Electric eels, I might add, do it,
Though it shocks ‘em, I know;
Why ask if shad do it?
Waiter, bring me shad roe. *
In shallow shoals, English soles do it,
Goldfish, in the privacy of bowls, do it,
Let’s do it, let’s fall in love.

The dragonflies, in the reeds, do it,
Sentimental centipedes do it,
Let’s do it, let’s fall in love.
Mosquitoes, heaven forbid, do it,
So does ev’ry katydid, do it,
Let’s do it, let’s fall in love.
The most refined lady bugs do it,
When a gentleman calls;
Moths in your rugs do it,
What’s the use of moth balls?
Locusts in trees do it, bees do it,
Even overeducated fleas do it,
Let’s do it, let’s fall in love.

The chimpanzees, in the zoos, do it,
Some courageous kangaroos do it,
Let’s do it, let’s fall in love.
I’m sure giraffes, on the sly, do it,
Heavy hippopotami do it,
Let’s do it, let’s fall in love.
Old sloths who hang down from twigs do it,
Though the effort is great;
Sweet guinea pig do it,
Buy a couple and wait.
The world admits bears in pits do it,
Even pekineses in the Ritz do it,
Let’s do it, let’s fall in love.

_____________________________
Variantes:
*
Young whelks and winkles, in pubs, do it,
Little sponges, in their tubs, do it,
Let´s do it, let´s fall in love.
Cold salmon, quite ´gainst their wish, do it,
Even lazy jellyfish do it,
Let´s do it, let´s fall in love.
The most select schools of cod do it,
Though it shocks ´em, I fear,
Sturgeon, thank God, do it,
Have some caviar, dear.

Versão 1991/1999/2012

Que De-Lindo (It’s De-Lovely)


de “Cole Porter & George Gershwin – Canções Versões”, de Carlos Rennó

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A noite é clara, e se você
Está querendo dar um rolê,
Que deleite, que delícia, que de-lindo!

Eu sei o que você, meu bem,
Está sentindo, pois eu também,
Que deleite, que delícia, que de-lindo!

Hoje o lance é rolar
Num relance um romance no ar;
Ouça a voz da natureza, que diz pra nós:
“Soltem seus nós.”

Então, quando eu beijar você,
Me diga assim, minha zabelê:
“Que deleite, que delícia,
Que delírio, que delíquio,
Que dilema, que delito, que dilúvio,
Que de-lindo!”

________________________________

The night is young, the skies are clear,
So if you want to go walking, dear,
It’s delightful, it’s delicious, it’s de-lovely!

I understand the reason why
You’re sentimental, ‘cause so am I,
It’s delightful, it’s delicious, it’s de-lovely!

You can tell at a glance
What a swell night this is for romance;
You can hear dear Mother Nature murmuring low:
“Let yourself go.”

So please be sweet, my chickadee,
And when I kiss you, just say to me:
“It’s delightful, it’s delicious,
It’s delectable, it’s delirious,
It’s dilemma, it’s delimit, it’s deluxe,
It’s de-lovely!”

Música e letra de Cole Porter, 1936

Eu Só Me Ligo Em Você (I Get a Kick Out of You)


de “Cole Porter & George Gershwin – Canções Versões”, de Carlos Rennó

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Meu caso é tão triste, e é quase fatal
Que tudo me cause só um descaso total.
E se pra gandaia eu saio então,
Contra o tédio lutando em vão,
Eu não perco meu ar blasé,
A não ser ao virar e ver,
Tão bela, você…

Champagne me deixa normal;
Barato, nem com birita, meu bem.
Então só me diga por que
É que eu só me ligo em você.

Alguns se ligam num sal.
Que porre, oh, eu não posso com pó;
Coca só me provoca deprê.
É que eu só me ligo em você.

Me ligo, sim,
Quando a vejo em minha frente a qualquer hora.
Me ligo, sim;
Mesmo assim você – é óbvio que – não me adora.

Nenhum barato é total.
Saltar ao léu de asa-delta no céu
É o que eu nunca penso em fazer.
É que eu só me ligo em você.

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My story is much too sad to be told,
But practically ev’rything leaves me totally cold.
The only exception I know is the case
When I’m out on a quiet spree,
Fighting vainly the old ennui,
And I suddenly turn and see
Your fabulous face.

I get no kick from champagne.
Mere alcohol doesn’t thrill me at all,
So tell me why should it be true
That I get a kick ut of you?

Some get a kick from cocaine.
I’m sure that if I took even one sniff
That would bore me terrific’ly too.
Yet I get a kick out of you.

I get a kick ev’ry time I see
You’re standing there before me.
I get a kick, though it’s clear to me
You obviously don’t adore me.

I get no kick in a plane.
Flying too high with some guy in the sky
Is my idea of nothing to do,
Yet I get a kick out of you.

Música e letra de Cole Porter, 1934

Enfim o Amor (At Long Last Love)


de “Cole Porter & George Gershwin – Canções Versões”, de Carlos Rennó

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É terremoto ou é só um choque?
Será que é um sashimi ou só um hadoque?
Será do álcool o meu alto astral
Ou isso que há será real?
É uma transa ou é transação?
Cole Porter no original ou só mais uma versão? (*)
É fantasia que finda em dor,
Ou é afinal o amor?

É um amasso ou é só massagem?
Um arco-íris no ar ou mera miragem?
É um ensaio que já me cansou,
Ou é o que é bom, é som, é show?
É um romance ou é um jornal?
É um poema comum ou é um de João Cabral?
É uma fera que fere uma flor
Ou é afinal o amor?

É tique-taque ou é só um tique?
É um negócio legal ou é um trambique?
Que piripaques são esses em mim?
É isso o mel, o céu, enfim?
Será um caso ou será o caos?
É o calor da paixão ou o verão em Manaus?
É um feitiço de algum malfeitor
Ou é afinal o amor?

É cobertura ou só quitinete?
É meu sonhado Rolls-Royce um velho Chevette?
Uma safira ou um patuá?
Um “tiro” no pó ou só uma pá?
É um romance ou é um hai-kai?
Será que é um vai-e-vem ou é só um vai-não-vai?
É um feitiço de um malfeitor
Ou é afinal o amor?

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Variantes:
(*) É uma fria ou é um frisson,
É uma fuga de Bach ou é Cole Porter o som?

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Is it an earthquake or simply a shock?
Is it the good turtle soup or merely the mock?
Is it a cocktail – this feeling of joy,
Or is what I feel the real McCoy?
Have I the right hunch or have I the wrong?
Will it be Bach I shall hear or just a Cole Porter song?
Is it a fancy not worth thinking of,
Or is it at long last love?

Is it the rainbow or just a mirage?
Will it be tender and sweet or merely massage?
Is it a brainstorm in one of its quirks,
Or is it the best, the crest, the works?
Is it by Browning or doesn’t it scan?
Is it a bolt from the blue or just a flash in the pan?
Should I say “Thumbs down” and give it a shove,
Or is it at long last love?

Is it a breakdown or is it a break?
Is it a real Porterhouse or only a steak?
What can account for these strange pitter-pats?
Could this be the dream, the cream, the cat’s?
Is it to rescue or is it to wreck?
Is it an ache in the heart or just a pain in the neck?
Is it the ivy you touch with a glove,
Or is it at long last love?

Is it in marble or is it in clay?
Is what I thought a new Rolls, a used Chevrolet?
Is it a sapphire or simple a charm?
Is it [______] or just a shot in the arm?
Is it today´s thrill or really romance?
Is it a kiss on the lips or just a kick in the pants?
Is it the gay gods cavorting above,
Or is it at longe last love?

Música e letra de Cole Porter, 1938

Versão 1991/1999

Toda vez que eu digo adeus (Ev’ry Time We Say Goodbye)


de “Cole Porter & George Gershwin – Canções Versões”, de Carlos Rennó

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Toda vez que eu digo adeus,
Eu quase morro;
Toda vez que eu digo adeus,
Aos deuses eu recorro.

Nenhum deus, contudo,
Parece me ouvir;
Eles vêem tudo
E te deixam partir.

Quando estás, há só um ar
De flor em volta;
Sabiás, de algum lugar,
Cantam o amor em volta.

Que canção suave!
Mas o tom
Do som
Se torna tão grave, (*)
Toda vez que eu digo adeus.

Toda vez que eu te digo adeus.

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Variantes:
(*) Não há som melhor!
Mas seu tom
Maior
Se torna menor,

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Ev’ry time we say goodbye,
I die a little;
Ev’ry time we say goodbye,
I wonder why a little;
Why the gods above me,
Who must be in the know,
Think so little of me
They allow you to go.

When you’re near, there’s such an air
Of Spring about it;
I can hear a lark somewhere
Begin to sing about it.

There’s no love song finer,
But how strange
The change
From major to minor,
Ev’ry time we say goodbye.

Ev’ry single time we say goodbye.

Música e Letra de Cole Porter, 1944

Versão 1991/1999

A Moça Mais Vagal da Cidade (The Laziest Gal in Town)


de “Cole Porter & George Gershwin – Canções Versões”, de Carlos Rennó

2010_Carlos_Renno_Cole_Porter_George_Gerschwin_10242000_Carlos_Renno_Cole_Porter_George_Gerschwin_1024

Eu bem poderia,
Eu bem deveria,
E, eu juro, até toparia,
Mas é que eu sou a moça mais vagal que há.

Meu Deus, como eu queria
Ganhar na loteria,
E aqui estou eu, sem companhia,
Mas é que eu sou a moça mais vagal que há.

Eu queria ser como são
As que fazem um dinheirão,
Mas – a cada proposta – não dá,
Não dá;

Eu bem poderia,
Eu bem deveria,
E, eu juro, até toparia,
Mas é que eu sou a moça mais vagal que há.

Eu não sou de me apressar,
Eu não sou de me estressar.
Até beijo devagar,
Para ter prazer.
Mas eles querem algo mais,
E algo mais já não me apraz,
Então a cada um dos tais
Tenho que dizer:

Eu bem poderia,
Eu bem deveria,
E, eu juro, até toparia,
Mas é que eu sou a moça mais vagal que há.

__________________________________________

It´s not ´cause I wouldn´t,
It´s not ´cause I shouldn´t,
And, Lord knows, it´s not ´cause I couldn´t,
It´s simply because I´m the laziest gal in town.

My poor heart is achin´
To bring home the bacon,
And if I´m alone and forsaken,
It´s simply because I´m the laziest gal in town.

Though I´m more than willing to learn
How these gals get money to burn,
Ev´ry proposition I turn down,
´Way down;

It´s not ´cause I wouldn´t,
It´s not ´cause I shouldn´t,
And, Lord knows, it´s not ´cause I couldn´t,
It´s simply because I´m the laziest gal in town.

Nothing ever worries me,
Nothing ever hurries me.
I take pleasure leisurely
Even when I kiss.
But when I kiss they want some more,
And wanting more becomes a bore,
It isn´t worth the fighting for,
So I tell them this:

It´s not ´cause I wouldn´t,
It´s not ´cause I shouldn´t,
And, Lord knows, it´s not ´cause I couldn´t,
It´s simply because I´m the laziest gal in town.

Letra e Música Cole Porter, 1927

Versão 1991/1999

Radicais MCs

Publicado na revista “Época” em 10/8/1998, sob o título“Radicais MCs – contundentes na forma e na temática”

A radicalização da violência social no Brasil não poderia deixar de ter sua expressão igualmente violenta e radical na música brasileira: os Ra¬cionais MC’s. Já vão longe os tempos em que Chico Buarque, nos anos 60, começou a obra que lhe renderia o epíteto de “poeta social” da MPB. Nos anos 90, os mais novos poetas so-ciais de nossa música atendem pelos nomes de Mano Brown e Edy Rock.

Comum a um e outros, há a ideolo¬gia, de esquerda. Em Chico, porém, existe um componente utópico que seria pouco provável num jovem de hoje – menos ainda em um da perife¬ria paulistana. De origem abastada, ele interpreta magistralmente uma tragédia a que assiste com envolvi¬mento e humanidade. Já os Racionais não apenas narram, mas são perso¬nagens reais desse filme de horro¬res que é o processo de miserabilização num país com um índice de desi¬gualdade quase sem igual no mun¬do. Mais importante: a par das signi¬ficações políticas e intenções de cons-cientização, suas letras são de alta qualidade artística.

Versos simples mas elaborados; ima¬gens claras e fortes; histórias bem desenvolvidas, personagens bem carac¬terizados. Uma poesia-vida usando a linguagem agressiva dos jovens ne¬gros de regiões pobres de São Paulo, entrecortada de gírias e palavrões, em raps de duração incomum. Sem concessões. Em processo de absorção, mas sem perder a contundência de seu dis¬curso político, poético. Éticos, os Ra¬cionais indicam a existência de digni¬dade em meio à vergonha nacional; ao descalabro. Não fosse tanta treva e tan¬ta sem-razão, talvez não houvesse Racionais. Se há Racionais, há luz.

Esteticar (Estética do Plágio)


de “Defeito de Fabricação”, de Tom Zé

1998_Tom_Ze_Com_defeito_de_fabricacao_1024

Pensa que eu sou um caboclo tolo, boboca,
Um tipo de mico cabeça-oca,
Raquítico típico jeca jacu , (*)
Um mero número zero, um zé à esquerda,
Pateta patético, lesma lerda,
Autômato pato, panaca tatu? (**)

Pensa que eu sou um andróide candango doido,
Algum mamulengo molenga mongo,
Mero mameluco da cuca lelé,
Trapo de tripa da tribo dos pele-e-osso,
Fiapo de carne, farrapo grosso,
Da trupe da reles e rala ralé?

Pensa? Dispenso a mula da sua ótica;
Ora vá me lamber, tradução inter-semiótica.
Se segura milord aí, que o mulato baião
(Tá se blacktaiando)
Smoka-se todo na estética do arrastão.

Ca esteti ca estetu
Ca esteti ca estetu
Ca esteti ca estetu
Ca esteti ca estetu
Ca estética do plágio-iê

_____ __________ _____________________
Variantes:

(*) Raquítico típico jeca-tatu,
(**) Autômato pato, panaca tatu?

Letra com Tom Zé (Refrão)

Canções do Divino Mestre

1998_Carlos_Renno_Cancoes_do_divino_mestre_1024

“Canções do Divino Mestre” (Companhia das Letras, 1998) – CD com concepção e produção artística de Carlos Rennó, encartado no livro “Canção do Divino Mestre”, de Rogério Duarte, com as participações de Alberto Marsicano, Ana Amélia, Arnaldo Antunes, Arrigo Barnabé, Belchior, Cássia Eller, Chico César, Cid Campos, Elba Ramalho, Gal Costa, Geraldo Azevedo, Gilberto Gil, Gilberto Mendes, João Duarte, Jussara Silveira, Lenine, Luiz Brasil, Maharaj, Moreno Veloso, Oliveira de Panelas, Péricles Cavalcanti, Roberto Mendes, Rogério Duarte, Siba, Tomáz Lima, Tom Zé, Tuzé de Abreu, Walter Franco e Waly Salomão. Produção musical de Cid Campos.

01. Observando os Exércitos – Rogério Duarte e Alberto Marsicano – 0:00:00
02. Leitura de Rogério Duarte – 0:02:12
03. O Lamento de Árjuna – Chico César e Rogério Duarte – 0:02:34
04. A eternidade da Alma – Gilberto Gil – 0:05:07
05. Leitura de Rogério Duarte e Waly Salomão – 0:08:30
06. Exortação à luta – Siba – 0:09:32
07. A espada do poder transcendental – Belchior – 0:13:30
08. Quem parte na luz, quem parte nas trevas – Tom Zé – 0:16:32
09. Oferenda a mim – Gal Costa – 0:19:42
10. A base do Supremo – Moreno Veloso – 0:22:38
11. A pessoa Suprema – Péricles Cavalcante – 0:24:55
12. Leitura de Walter Silveira – 0:27:07
13. As qualidades das pessoas de natureza divina – Arnaldo Antunes – 0:27:18
14. O homem demoníaco – Arrigo Barnabé – 0:31:26
15. Leitura de Walter Silveira – 0:32:48
16. O comedor de cachorro – Cássia Eller e Luiz Brasil – 0:32:57
17. Deve-se pensar em Deus – Maharaj – 0:36:02
18. A pessoa transcendental – Jussara Silveira – 0:39:03
19. A visão do Yogui sincero – Ana Amélia e Rogério Duarte – 0:40:50
20. Maha Mantra – Tomaz Lima – 0:42:32
21. Leitura de Tainá Guedes – 0:49:25
22. Leitura de Lenine – 0:49:30
23. A refulgência de Deus na forma universal – Rogério Duarte – 0:49:44
24. A visão de Krishna na forma universal – Lenine – 0:51:03
25. Leitura de Lenine – 0:54:03
26. Leitura de Tainá Guedes – 0:54:20
27. A semente original – Geraldo Azevedo – 0:54:25
28. Quem é muito querido a mim – Elba Ramalho – 0:56:55
29. A louvação de Krishna por Árjuna – Walter Franco – 0:59:37
30. A opulência do Absoluto – Oliveira de Panelas – 1:03:55
31. O pai do Universo – João Duarte – 1:07:24
32. Final (a conclusão de Sânjaya) – Rogério Duarte e Alberto Marsicano – 1:10:35
Um projeto de Carlos Renno sobre a obra Bhagavad Gita Traduzido por Rogério Duarte

Vocalização de Antunes coisifica sua poesia

Publicado na “Folha de S.Paulo” (“Ilustrada”), em 26/9/1997, sob o título “Antunes une forma e som”

O CD “Dois ou + Corpos no Mesmo Espaço”, acoplado ao livro homônimo, é mais uma pequena amostra do complexo conjunto de visões e vivências poéticas muito particulares em que consiste o instigante trabalho de Arnaldo Antunes, agora numa bem-sucedida transposição sonora.

Nele reencontramos, apropriadamente (isto é: estruturalmente) materializados no plano vocal, os mesmos elementos presentes na poesia de marcada caracterização visual de Antunes, como seus sugestivos jogos linguísticos e suas sintaxes rebeldes, de leituras simultâneas.

Assim, por exemplo, na peça-título, à medida que cada fonema é recortado, a pronúncia promove paradoxalmente a multiplicação de corpos-sílabas no espaço do som a que parece aludir a máxima do poema (“Dois ou mais corpos no mesmo espaço se multiplicam…”).

Do mesmo modo, na voz de Arnaldo soa, ou pressente-se, o ritmo irregular das ondas em “O Mar”. E o agá gagueja, quase silencia ou quase ecoa em “Agá”. Isomorfismo em poesia falada, correspondência íntima entre forma, sentido e som. No CD, os treze poemas viram palavras-coisas, como Sartre sugeriu que a poesia é.

Sob tais aspectos, o disco constitui mais uma experiência importante, depois do divisor de águas “Poesia é Risco”, de Augusto de Campos e Cid Campos. Só que, diferentemente deste, “Dois…” não emprega outro instrumento que não a voz.

Nesse sentido, eis, enfim, entre nós, um poeta com voz – clara, bela, firme, forte (melhor dizendo, um poeta com vozes, pois são várias as que usa). Quero dizer: um experto na oralização da palavra poética em suas dimensões cantada, falada, gravada, sampleada e editada.

O Brasil não possui uma tradição de leitura de poesia. Ezra Pound ou Dylan Thomas recitando seus poemas é algo maravilhoso, envolvente, impactante, não dando para dizer o mesmo de imensos poetas nossos como Drummond ou Cabral em suas próprias vozes. E se eles são “interpretados” por atores, aí podemos muitas vezes esperar pelo pior, estes pecando pelo excesso, aqueles, pela escassez.

Tal panorama começa a mudar. Quando o processo se consumar, a atuação de Arnaldo Antunes – com seu ótimo timbre, seu domínio do ritmo, seu ataque irresistível – terá sido decisiva ou, no mínimo, colaborado muito.

Por ora, não deixa de ser significativo que um dos mais promissores sinais dessa mudança parta de um poeta-vocalista, que se move na área da música popular. É também compreensível. O próprio “Poesia é Risco” é obra do mais músico dos poetas brasileiros das gerações anteriores.

Arte e Ciência

na arte a técnica na ciência a mágica
o conceito o mistério
o controle o enigma
o rigor o sonho
a lógica a visão
a matemática a poesia
a análise a síntese
a estatística a metáfora
a medida o paradoxo
a fórmula o acaso
a regra o caos
o sistema o vazio
a solução a incerteza
o método o delírio
o processo a graça
o objeto o sujeito
o experimento o repente
a pesquisa o instinto
a busca o impulso
a descoberta a criação
   
na arte a arte na ciência a ciência

Um senhor letrista

Publicado na “Folha de S.Paulo”(“Mais!”), em 1/12/1996, sob o título “A letra culta (e elegante) de Mr. Words”

Perto do centésimo aniversário de seu nascimento, no próximo dia 6, torna-se oportuno lançar aqui um olhar mais detido, ainda que rápido e algo digressivo, ao trabalho de Ira Gershwin (1896-1983), o letrista e parceiro de George Gershwin (1898-1937), no momento em que já se inicia nos Estados Unidos a série de comemorações que por dois anos celebrarão, até a data do centenário do nascimento de George, a imensa e valiosa herança prematuramente deixada por ele.

Se Cole Porter é sinônimo de sofisticação por tudo que, juntas, sua obra e sua figura, arte e vida, significaram, no plano mais estrito dos versos não seria fácil apontar quem supera quem em engenhosidade: se o autor de “You’re the Top” ou o co-autor de “The Man I Love”, “S’Wonderful”, “A Foggy Day”, “Fascinatin’ Rhythm” e tantos outros clássicos da música americana dos anos 20 aos 40. Ambos estão entre ”i migliori fabbri” da moderna palavra cantada.

Não à toa, Ira era chamado de “Mister Words” (Senhor Palavras), em complementação ao “Mister Music” (Senhor Música), George: é muito raro se encontrar um letrista tão elegante, culto, cônscio e praticante de um sem-número de requintes linguísticos.

Com Porter, Ira partilhou da visão do criar como algo difícil, a requerer esforço e trabalho. Em suas mãos, melodias sofreram um processo palimpséstico, em que várias letras foram escritas até chegar à forma definitiva. Tanto rigor valeu. Em termos de melopeia, a modalidade musical de poesia tão considerada por Ezra Pound, Ira simplesmente cintilou.

Favorecido pela plasticidade do inglês, criou versos de beleza encantatória, para os quais convocou os melhores efeitos aliterativos e paronomásticos. Como: “Music is the magic makes a gloomy day sunshiny”, na abertura de “I Can’t Be Bothered Now”. Ou este, anagramaticamente enriquecido: “I must win some winsome miss”, de “Oh, Lady, Be Good” – aliás, citada por Pound em seus “Cantos Pisanos”.

Munido de um conhecimento largo e um domínio pleno dos artifícios poéticos aplicáveis à música, Ira os empregava sempre para um maior refinamento de suas letras. Criando compostos e trocadilhos, verbalizando substantivos (“Ding dang it!”), empregando metásteses (“nosy cook/cosy nook”), ele as injetava de inventividade.

Por outro lado, em seu expressivo rimário impera e exubera, aqui e ali, a imprevisibilidade (“passion’ll/national”, “Napoli/happily”, “when you/menu”), sobretudo no uso de rimas leoninas, polissilábicas (“free’n’easy/Viennesey”). Neste campo, é raro, em se tratando de uma balada sentimental de grande popularidade, o caso de “Embraceable You”, quase inteiramente composta de rimas de quatro sílabas (entre elas a modelar “glorify love / ‘Encore’ if I love”).

Por tais características, o virtuosístico estilo ira-gershwiniano guarda parentesco com trabalhos de autores que na época exerceram, em sua vertente mais leve, a chamada ”light poetry”, entre os quais destacou-se por exemplo o nome de Ogden Nash. Uma diferenciação essencial, contudo, se impõe: os jogos verbais de Ira foram criados sobre melodias preexistentes, sendo assim a sua uma arte muito mais complexa, qual seja a de sobrepor, conjugando-os, palavras a sons.

Canção é o nome que se dá a essa arte, em que Ira é um mestre, alinhando-se, numa visão aberta, remotamente aos trovadores medievais, em particular os provençais, e aos cancionistas ingleses da era elisabetana; contemporaneamente a Porter e a Lorenz Hart (parceiro de Richard Rodgers); e posteriormente aos Dylans, Caetanos e Princes da música pop/popular de nosso tempo.

Quanto aos últimos e penúltimos: acaso seus trabalhos não seriam “sérios” só porque de entretenimento? Arnold Schoenberg, num texto sobre Gershwin, diz que, “sério ou não, ele é um compositor”. Para o inventor do dodecafonismo, o que caracterizava a seriedade de alguns compositores ditos “sérios” era apenas “uma perfeita falta de humor e de alma”. Gershwin, para ele, foi “um inovador”.

George foi vitimado por um tumor cerebral aos 38 anos, numa das mortes mais trágicas da história da música moderna. O que ele e Ira tinham até então criado, no entanto, bastou para configurar uma das grandes obras do século (obliquamente evocada na letra de “Love Is Here to Stay”, feita pouco depois que George morreu, e na qual Ira, a pretexto de fazer uma canção de amor permanente, parece aludir, homenageando o irmão, ao que os dois haviam construído juntos). O tímido e retraído Ira, que sempre cuidara dos negócios do irmão galante, extrovertido e namorador para que este levasse plenamente sua “vida de artista”, tornou-se então o guardião da sua obra. Ao mesmo tempo, seguiu compondo, com parceiros da estirpe de Kurt Weill, Jerome Kern e Aaron Copland.

A letra aqui apresentada não prima pelo artesanato elaborado predominante em Ira. De todo modo, constitui uma de suas vertentes mais inventivas, uma de suas “canções-invenções” mesmo, como o poeta Augusto de Campos a denominou em “Cole Porter – Canções, Versões” (de Carlos Rennó, Paulicéia, 1991), assinalando que ela poderia ter sido escrita por Oswald de Andrade – e quem sabe cantada por João Gilberto, o bissexto compositor de “Bim-Bom” e ”Hô-ba-la-lá”, eu acrescentaria.

Datada de 1931, “Blah, Blah, Blah” faz (com humor) uma crítica ao tema das canções-temas (de amor) dos filmes de Hollywood. Canção-piada, portanto; em cima dos clichês das ”love songs”. Aqui, na língua e na linguagem do poeta de “amor/humor”, num tributo ao espirituoso letrista americano. Afinal, ele também usou de humor – sutil, inteligente, irresistível – para falar de amor, tendo dito, em “Love Is Sweeping The Country”: “All the sexes/ From Maine to Texas/ Have never known such love before”… (Todos os sexos/ De Maine ao Texas/ Nunca conheceram um amor assim antes).

Blah, Blah, Blah
(George e Ira Gershwin)

I´ve written you a song,
A beautiful routine;
(I hope you like it.)
My technique can´t be wrong:
I learned it from the screen.
(I hope you like it.)
I studied all the rhymes that all the lovers sing;
Then just for you I wrote this little thing.

Blah, blah, blah, blah, moon,
Blah, blah, blah, above;
Blah, blah, blah, blah, croon,
Blah, blah, blah, blah, love.

Tra la la la, merry month of May;
Tra la la la, ‘neath the clouds of gray.

Blah, blah, blah, your hair,
Blah, blah, blah, your eyes;
Blah, blah, blah, blah, care,
Blah, blah, blah, blah, skies.

Tra la la la, tra la la la, cottage for two –
Blah, blah, blah, blah, blah, darling with you!

Blablablá
(versão de Carlos Rennó)

Eu fiz só pra você
Uma canção que é
Tão bonitinha;
A técnica aprendi
Nas músicas que ouvi
Lá na telinha.
As rimas todas das canções eu estudei;
E eis a coisinha linda que eu criei:

Blablablá, canção;
Blablablá, luar;
Blablablá, paixão;
Blablablá, no ar.

Tralalalá, tralalalalá, seu olhar em mim;
Tralalalá, tralalalalá, tudo, tudo enfim.

Blablablá, o céu;
Blablablá, a flor;
Blablablá, o mel;
Blablablá, o amor.

Tralalalá, tralalalalá, casa de sapê;
Blablablablablá, eu e você.

Experiência


de “Respeitem meus Cabelos Brancos”, de Chico César
2002_Chico_Cesar_Respeitem_meus_cabelos__brancos_1024

Era uma luz, um clarão
Era uma luz, um clarãoum insight num blecaute.
Éramos nós sem ação,
Éramos nós sem ação,como quem vai a nocaute.
Era uma revelação
Era uma revelaçãoe era também um segredo;
Era sem explicação,
Era sem explicação,sem palavras e sem medo.

Era uma contemplação
Era uma contemplaçãocomo com lente que aumenta;
Era o espaço em expansão
Era o espaço em expansãoe o tempo em câmara lenta.
Era uma tal comunhão
Era uma tal comunhãocom o um e tudo à solta;
Era uma outra visão
Era uma outra visãodas coisas à nossa volta.

E as coisas eram as coisas:
E as coisas eram as coisas:a folha, a flor e o grão,
O sol no azul e depois as
O sol no azul e depois asestrelas no preto vão.
E as coisas eram as coisas
E as coisas eram as coisascom intensificação,
Que as coisas eram as coisas
Que as coisas eram as coisasporém em ampliação.

Era como se as víssemos,
Era como se as víssemos,entrando nelas então,
Com sentidos agudíssimos
Com sentidos agudíssimosdesvelando seu desvão,
Indo por entre, por dentro,
Indo por entre, por dentro,aprendendo a apreensão
De tudo bem dês do centro,
De tudo bem dês do centro,do fundo, do coração.

Era qual uma lição
Era qual uma liçãodel viejo brujo don Juan;
Uma complexa questão
Uma complexa questãosem nexo qual um koan;
Um signo sem tradução
Um signo sem traduçãono plano léxico-semântico;
Enigma, contradição
Enigma, contradiçãono nível de um campo quântico.

Era qual uma visão
Era qual uma visãode um milagre microscópico,
Do infinito num botão,
Do infinito num botão,e em ritmo caleidoscópico
Ciclos de aniquilação
Ciclos de aniquilaçãoe criação sucessiva,
Átomos em mutação,
Átomos em mutação,cósmica dança de Shiva.

E as coisas ao nosso ver
E as coisas ao nosso verdavam no fundo a impressão
De ser de ser e não-ser
De ser de ser e não-sera sua composição;
Como a onda tão etérea
Como a onda tão etéreae a partícula não tão
Num ponto tal da matéria
Num ponto tal da matériatanto ‘tão quanto não ‘tão.

Até que ponto resistem
Até que ponto resistema lógica e a razão,
Já que nas coisas existem
Já que nas coisas existemcoisas que existem e não?
O que dizer do indizível,
O que dizer do indizível,se é preciso precisão,
Pra quem crê no que é incrível
Pra quem crê no que é incrívelnão devanear em vão?

Era uma vez num verão,
Era uma vez num verão,num dia claro de luz,
Há muito tempo, um tempão,
Há muito tempo, um tempão,ao som das ondas azuis.

E as coisas aquela vez
E as coisas aquela vezeram qual foram e são,
Só que tínhamos os pés
Só que tínhamos os pésum tanto fora do chão.

Gilberto Gil – Todas as Letras

livro_2003_Gilberto_Gil_Todas_as_letras_1024 livro_1996_Gilberto_Gil-Todas_as_Letras_1024

“Gilberto Gil – Todas as Letras” (Companhia das Letras, 1996; 2003; 2022) – Livro com organização (e “colaboração especial”) de Carlos Rennó, trazendo as letras das canções do compositor, com comentários deste sobre a história e a gênese de suas canções. A presente e terceira edição, atualizada e ampliada, conta com mais de 500 letras e cerca de 350 comentários (resultado de, no total, contando as três edições, mais de cem horas de conversas gravadas).

Antes Que Amanheça

Passa da uma, tudo emudeceu.
A lua é um CD de luz no céu
E aqui o meu apê é um deserto.
Agora cada um está na sua.
Você sumiu, você que é de lua,
E eu a queria tanto aqui por perto.

Meu bem, meu doce bem, minha senhora,
Eu poderia declarar agora
Meu grande amor, minha paixão ardente.
Em minha mente insone, só seu nome
Ecoa, só não soa o telefone;
E a sua ausência se faz mais presente.

Passa das duas na cidade nua;
Ao longe carros rugem para a lua
E alguma coisa fica mais distante.
Eu sinto a sua falta no meu quarto;
Será que você volta antes das quatro?
É tudo que eu queria nesse instante.

Quando Eu Fecho Os Olhos

de “Respeitem Meus Cabelos Brancos”, de Chico César

Aí você surgiu na minha frente,
E eu vi o espaço e o tempo em suspensão.
Senti no ar a força diferente
De um momento eterno desde então.

E aqui dentro de mim você demora;
Já tornou-se parte mesmo do meu ser.
E agora, em qualquer parte, a qualquer hora,
Quando eu fecho os olhos, vejo só você.

E cada um de nós é um a sós,
E uma só pessoa somos nós,
Unos num canto, numa voz.

O amor une os amantes em um ímã,
E num enigma claro se traduz;
Extremos se atraem, se aproximam
E se completam como sombra e luz.

E assim viemos, nos assimilando,
Nos assemelhando, a nos absorver.
E agora, não tem onde, não tem quando:
Quando eu fecho os olhos, vejo só você.

E cada um de nós é um a sós,
E uma só pessoa somos nós,
Unos num canto, numa voz.