Nós

O que sentimos entre nós
mesmo longe ou mesmo a sós
É tão íntimo e tão bonito
É nítido e preciso
E precioso como é o sol

O sol nasce, o sol se põe
E renasce e se impõe
E rebrilha em nossa vida a dois
Que hoje e depois
Depende somente de nós

Pois toda vez que nos vemos
É sempre mais intensa e mansa
A atração dos olhos e das mãos
E corpos como dois ímãs

E quanto mais essa chama
Aquece e chama
E permanece tão constante
Que nos incendeie sem nos consumir
E continue a fluir
Muito além do instante.

Domingo Longo

Esse vem mas não vem de longe
Não convém à espera de alguém
Para mim é assim um domingo longo
Dia cinza que parece não ter fim.


E assim, sempre assim, ao longo
Cada dia adia o fim
Da saudade que vem de quem foi prá longe
E ficou presente aqui dentro de mim.

Mas enfim hoje eu vim aqui
E ali no azul vazio
Minha vista se lança pela distância
O tempo a passar
A esperança no ar
Está pra chegar o momento.

E do céu do aeroporto
Quem vem vindo a bordo enfim
Do avião que desceu vi abrir a porta
E você já vem prá bem perto de mim.

A proezia de Haroldo de Campos

Publicado na “Folha de S.Paulo” (“Ilustrada”), em 23/10/1984, sob o título “A proesia de Haroldo de Campos”

Em 1963 o poeta Haroldo de Campos imaginou um texto no limite entre a prosa e a poesia, uma escrita que realizasse aquilo que propunha em teoria: a ruptura entre gêneros. Hoje, com uma bela edição da Editora Ex Libris, realizada pelo artista plástico Frederico Nasser, a obra vem a público finalmente encerrada num volume próprio. Chama-se “Galáxias”, e o lançamento está marcado para as 20 horas, na livraria Brasiliense (rua Oscar Freire, 561, em São Paulo).

A ideia da viagem como livro e do livro como viagem norteia a obra no seu todo e abrange outras constantes de “Galáxias”. Muitas são suas personagens e alusões, mas todas elas se entrelaçam por meio daquela que é, na verdade, a sua principal personagem: a própria linguagem. É através desta que o livro propõe e faz sua própria viagem. Entre a prosa e a poesia. Via proesia. Nesta entrevista o autor aborda alguns aspectos da sua obra.

*

— Folha – O que o levou, há mais de vinte anos, a esboçar um livro no qual enveredasse por um tipo de prosa, “feita de limalha de prosa” e no limite com a poesia, retomando um lado barroco pertencente ao início do seu percurso textual?

Haroldo de Campos — Desde longa data eu vinha me preocupando com o problema da ruptura dos gêneros na literatura contemporânea, da rarefação dos limites entre poesia e prosa, e também entre ficção e ensaio crítico, entre o exercício ficcional e o exercício metalingüístico da escritura. Em 1962, escrevendo sobre Guimarães Rosa (“A Linguagem do Iauaretê”), como em 1964, ao publicar o meu estudo introdutório à reedição das “Memórias Sentimentais de João Miramar”, de Oswald de Andrade, eu tive a oportunidade de deter-me sobre o assunto. Em 1970, dei formato mais completo a essa reflexão, dedicando-lhe todo um ensaio, primeiro publicado numa obra coletiva auspiciada pela Unesco e depois editado em livro autônomo, “Ruptura dos Gêneros na Literatura Latino-Americana” (Perspectiva, 1976). Neste meu trabalho, referia-me ao Barroco, pelo fusionismo que lhe é próprio, pelo hibridismo de línguas e culturas que o caracteriza, como o momento embrionário, em nossa América, dessa rebelião contra a normatividade clássica dos gêneros. De um Barroco moderno, das possibilidades criativas de um neo-barroco, oposto à obra de arte clássica “perfeita”, do “tipo diamante”, eu já vinha falando desde 1955, em meu artigo-manifesto “A Obra de Arte Aberta” (que antecipou de alguns anos o livro quase homônimo de Umberto Eco…). No meu caso, o fascínio das questões teóricas está sempre ligado à minha prática de escritor, ao meu fazer poético. Em 1952, eu havia escrito “Ciropédia ou a Educação do Prínci¬pe”, um poema em segmentos ou blocos de prosa rítmica, onde o texto é a todo momento “hibridiza¬do” por intervenções neológicas, por fraturas e remontagens verbais. Daí à “prosa feita de limalha de prosa” o percurso foi-se impondo necessariamente, quase que por uma exigência interna do meu trabalho. Aliás, no curso de elaboração das “Galáxias”, aproveitei para fazer uma defesa e ilustração do hibridismo textual num fragmento paródico, em que um travesti é perseguido desabaladamente pela rádio-patrulha romana, defensora censória da normatividade dos gêneros…

— No começo dos anos 60, enquanto seus poemas davam prosseguimento ao experimento concreto, você já parecia inaugurar um caminho mais pessoal, não antagônico mas diferen¬te do programado pelo grupo (liderado por você, Augusto de Campos e Décio Pignatari) enquanto movimento. Nos rascunhos e nas feituras das primeiras páginas de “Galáxias” já não estava a gênese de uma fase posterior, pós-concreta?

HC — A poesia concreta responde a uma das vertentes da minha personalidade, as “Galáxias” respondem a outra. Que elas tenham podido coexistir, é algo que me demonstrou a inexistência de uma oposição antagônica entre barroquismo e construtivismo. Como o demonstram, no nível plástico, Ouro Preto e a arquite¬tura de Brasília. Não se teria sido possível, por outro lado, sem a experiência de rigor e controle do acaso da poesia concreta, disciplinar o turbilhão barroquizante que a escritura galática desencadeia. Pulsão e contenção são os dois polos dialéticos que regem o “Livro das Galáxias”, que eu gostaria de definir, meio-sorrindo, como um manual de cosmonáutica textual…

— O projeto original de uma prosa especial acabou se resolvendo num texto cuja concentração lhe deu mais um caráter de poesia do que propriamente de prosa. Como se processou essa transformação que resultou num texto com aparência de prosa mas que, no fundo, está mais para um poema longo?

HC — A escritura galática foi para mim um gesto épico que se resolveu numa epifânica. Na epifania, a visão prevalece sobre a ação. Quero dizer que o narrar – o gesto narrativo próprio da prosa – deixou-se levar de roldão pela proliferação de imagens, pela voragem fônica, pelas fosforescências de uma semântica móvel que o contagia dos significantes é capaz de suscitar e sustar, com a vertiginosi¬dade de um videoclipe. Afirma Walter Benjamin que, para os românticos alemães, a ideia (entenda-se, o método) da poesia foi a prosa. Para eles, pode-se dizer, o romance foi a alternativa “poética” da epopeia clássica. Para mim, a epifânica, aparentemente conduzida em prosa, foi o modo de lidar com o problema do poema longo, com a possibilidade (ainda que fragmentária) de uma épica moderna. Um gesto estratégico também, face ao rigor projetual da poesia concreta), que definia a poesia propriamente dita em outros termos, coerentemente marcados, à época, por uma estética “minimalista” radical, à Webern e à Mondrian.

— “Galáxias” propõe uma leitura não contínua nem metódica, mas livre, aleatória, ao sabor de uma fruição suscitada pelo desejo, como um texto para ser curtido com e por prazer. O que você tem a dizer sobre isto e sobre uma possível relação entre o seu e aquele a que Roland Barthes se refere como um “texto de prazer”?

HC — Entre os críticos franceses ligados ao momento estruturalista, Roland Barthes foi certamente aquele que melhor compreendeu e abordou os textos de ruptura, marcados pela inovação no plano da linguagem. De fato, a experiência das “Galáxias” aspira a ser, no sentido barthesiano, um “texto de prazer”. Lembro-me que em “S/Z”, livro publicado em 1970, Barthes usa da expressão “galáxia de significantes” para definir o que ele chama “texto-plural” (por oposição ao texto “clássico”, “legível”). E acrescenta: esse texto “não tem começo; é reversível; nele se ingressa por múltiplas entradas, nenhuma das quais pode ser, com segurança, considerada principal; os códigos que ele mobiliza se perfilam a perder de vista, são indecidíveis (…); desse texto absolutamente plu¬ral, os sistemas de sentido podem apossar-se, mas seu número jamais será fechado, tendo por medida o infinito da linguagem”. Por um programa semelhante – por uma análoga miragem? – se norteavam as “Galáxias”, quando comecei a escrevê-las, em 1963…

— Em “Galáxias” a fugacidade e a velocidade das imagens e lembranças, em sequências cinematográficas, sugerem uma correlação com um fluxo livre de pensamento e mesmo de inconsciente. Ao mesmo tempo percebe-se que tudo foi submetido a um controle rigoroso e minucioso da linguagem. Pelas indicações ao final do livro, nota-se que alguns fragmentos-páginas foram escritos em um só dia, outros em um mês ou mais. Com que pique você produziu “Galáxias”? Em que medida espontaneidade e elaboração ¬– possivelmente uma incitando a outra – incidiram no ritmo do seu fazer?

HC — De fato, o ritmo de composição do texto variou, da pulsão instantânea à elaboração mais lenta, espraiada por um arco de tempo mais longo. Alguns fragmentos surgiram de jato; outros foram-se montando aos poucos. Deixei alguns de lado, depois de prontos, quando não me satisfaziam de todo, para repensá-los depois, no conjunto, no organograma geral. Tratava-se de controlar o acaso, de “organizar o delírio”, para usar uma expressão do compositor francês Pierre Boulez. Para tanto, interiorizei no meu processo escritural de¬terminados dispositivos seletivos, em nível sintático e em nível fono-semântico, que me permitiram um trabalho minucioso sobre a lingua¬gem, ainda nos fragmentos aparen¬temente mais “espontâneos”, naque¬les mais vertiginosamente visionári¬os… Por outro lado, não devemos nos esquecer que Lacan, radicalizando Freud, insiste em que a estrutura do inconsciente é a estrutura da lingua¬gem e que a “lei do paralelismo do significante”, lei “cujo concerto rege a primitiva gesta eslava e a mais refinada poesia chinesa”, é funda¬mental para a compreensão dessa estrutura… Também o inconsciente, enquanto efeito de linguagem, obede¬ce a uma poética implícita…

— Traçando um paralelo com a música, sua obra pode ser vista como uma sofisticada e complexa peça erudita de vanguarda. Simulta¬neamente, há momentos de uma linguagem simples e direta que remete à da poesia mais popular, a cantada. O que você tem a dizer sobre isto?

HC — As “Galáxias” têm muito a ver com a música, seja a erudita, de vanguarda, seja a popular. Já mencionei Pierre Boulez, de quem tirei a ideia dos formantes (as páginas inicial e final, impressas em itálico) que balizam o texto como polos rotativos, cambiantes, que falam reversivelmente de fim e de começo, engendrando o jogo da viagem. Isto do ponto de vista da estrutura, da integração e controle dos elementos aleatórios, por exemplo. Mas envolvem também um canto, um cantar, no qual não deixam de reverberar as invenções espontâneas de nossos can¬tadores populares (cuja “virtuosida¬de por vezes deslumbrante”, combinando improvisação com “modelos exatamente codificados”, é ressaltada por um estudioso do porte de Paul Zumthor no seu recente livro dedica¬do às formas da poesia oral em várias culturas e povos). Claro, nem é preciso falar das afinidades com a nossa música popular urbana, de Caetano, Gil, Walter Franco, Arrigo…

— Com os romances de invenção oswaldianos “Memórias Sentimentais de João Miramar” e “Serafim Ponte Grande”, “Galáxias” guar¬dam uma relação tanto ao nível formal como ao temático, residindo nas referências às viagens o princi¬pal ponto de comparação quanto ao segundo aspecto. Eu apontaria uma outra constante temática nestas obras: o erótico. Como na linguagem daqueles livros de Oswald, a de “Galáxias” exubera em alusões sexuais e sensuais, e promove também uma leitura erótica do mundo e da vida. Você concorda?

HC — É certo. Mas a temática da viagem, do périplo, da mobilidade perene se dá, nas “Galáxias”, no nível dos significantes, permanentemente imantados de significado, de semântica – mas de uma semântica evasiva, fugidia, como uma “aura” ou uma fata morgana. Os “microenredos” proliferam: se anunciam e desaparecem, como miragens. A ficção é objeto de ilusão e elusão (o que cria um certo “suspense” detetivesco, segundo me observou uma vez Anatol Rosenfeld). O trabalho no nível do significante (da materiali¬dade da linguagem) tem alguma coisa de corpóreo. O verbal é um corpo, quase táctil. Daí essa erótica do texto, que você observa. Pois, como está expresso num dos fragmentos galáticos, “a linguagem é lavagem é resíduo de drenagem é ressaca e é cloaca e nessa noite inócua é que está sua mensagem…”

A Europa Curvou-se Ante o Brasil


do Álbum “Tubarões Voadores”, de Arrigo Barnabé

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Ao ver o pássaro passar
No céu voar
Já era o sonho
O aéreo plano
De um menino a empinar
Pipa no ar

Queria ser o inventor
Do avião
Entre um par de asas
Mandaria brasa
Sabe quem era o sonhador?
Santos Dumont

Com sua pose e seu chapéu
Em pleno céu
No 14 Bis
Tal e qual um giz
O quadro azul do ar riscou
E se arriscou

Sobre a história e o chão
Num vôo bom
Foi a glória ao homem
Nas alturas móveis
A nossa mãe da invenção
Santos Dumont!

Não viva todo mundo, não!
Viva Dumont!
Que esteve à margem
Mas teve coragem
A nossa mãe da invenção
Santos Dumont!

Mirante


de “Tubarões Voadores”, de Arrigo Barnabé

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Que eco e em que século?
Qual onda de som, qual sonda?
E que sinal de sim afinal
Fará chegar a mensagem do homem ao Cosmos
De não querer
Ser só um ser
A sós?

Daqui desse grande grão de
Areia azul, mirante,
Poeira do estouro estelar,
Veja agora aquilo que era a milhares
De anos-luz
E Vênus-luz
Brilhar. (*)

Pássaros na garganta


de “Pássaros na Garganta”, de Tetê Espíndola

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No céu da minha garganta
Eu tenho ao cantar
Pássaros que quando cantam
Não posso conter
Solto o que se levanta
Do meu ser
E vou ao sol no vôo
Enquanto sôo

Mas quando num céu tão cinza
Não vejo passar
Os pássaros que extinguem
Da terra e do ar
Passo o que existe em mim
A doer
Me dou tão só ao som
Com dó e dom

E o que sinto vai contra
Quem varre as matas e arremata a terra-mãe
E me indigna a onda
De insanos atos de insensatos que não amaina

Ânsia de que a vida seja mais cheia de vida
Pelas alamedas, pelas avenidas
Em aroma cor e som –
Árvores e ares, pássaros e parques
Para todos e por todos
Preservados em cada coração

Mas quando num grito raro
Se apossa de mim
O espírito desses pássaros
Que não tem fim
Espalho pelo espaço
O que não há
Com amor e com arte
Garganta e ar

Cuiabá


de “Pássaros na Garganta”, de Tetê Espíndola

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Vaia de arara passa pelos ares
Daqui pra ali
Fica no olhar a flutuar o leque
Do buriti

Se abre sobre a cidade verde
O céu de anil
No coração da América a terra de ócio
De sol e rio

Cuiabá
De onde se ouviu
Som de índio cantando à beira do rio

Cuiabá
De onde se vê
Cuia à beça, cabaça de cuietê

Cuiabá
Dos pacus
Dos furrundus
Dos cajus
Do João
“São” Sebastião
Da cabocla de pele queimada
De Leveger
Dos leques de palha
Talhas de São Gonçalo

Ah! Essa gente
Esse calor
Quero pra sempre
Com muito amor

Olhos de Jacaré


de “Pássaros na Garganta”, de Tetê Espíndola

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Que imprevistos pontos de luz eram aqueles,
Que lembravam estrelas
No abismo infindo e sem fundo,
E que deslumbraram
Já no vislumbre
Meu olhar profundo?

Não, eu não estava na estrada do oeste desta vez,
Vendo o terrestre astral da cidade,
Na eletricidade em seus inúmeros lumes.
Na madrugada eu estava no Pantanal.
Sim, por que não?
Eu tava lá na beira-vazante;
Aqui nos movimentos-voôs nômades da mente.
Lá na fantasmal nitidez dos muitos
Pontos brilhantes.
No espelho d água de aguapés
Eram olhos de jacarés.

Jacaré jacaré jacaré
Jacaré jacaré jacaré jacaré
Jacaré jacaré
Jacarés

Amor e Guavira


de “Pássaros na Garganta”, de Tetê Espíndola

1982_Tete_Espinola_Passaros_na_garganta_1024

No cerrado onde o mato é grosso e a coisa é fina
Entre um cacho e um trago um moço abraça uma menina
O namoro é debaixo de uma árvore da flora
Onde ambos lambuzamos nossa cara de amora

Nesse ambiente exuberante e fruto do amor
A guavira água vira em nossa boca, ai que sabor
Língua a língua se fala a linguagem de quem beija-flor
Flor da pele que me impele assim
Ao mais louco amor
Que se faz naturalmente enfim
Seja onde for

Outros Sons

Num ritmo, num signo
Ígneo
De erres e orras
De esses e zorras
Num rito em urros
Risos, sussurros
Retecnizada
A tribo
Se desencerra
Na Terra

Rataplãs retumbantes, tantãs, tumbadoras, tambores
Sacra, sã sangração, sagra o clã em clamantes louvores

Em danças, transas, transes
Felizes e velozes
Vorazes e ferozes

Oh yeahvoé shazam!

bababadalgharaghtakamminarronnkonnbronntonnerronntuonnthunntrovarrnawnskawn […] !

Outros fins e outros trons
Outros timbres, outros tons
Outrossim outros a-tons
Outros sins e outros sons

Melro (Blackbird)

Melro no escuro a cantarolar

Abra essas asas pra voar

Todo o tempo

Você aguardava esse momento pra subir

Melro no escuro a cantarolar

Abra esses olhos pra enxergar

Todo o tempo

Você aguardava esse momento pra se abrir

Melro… Voe!

Melro… Voe!

Dentro da luz no azul da noite

*

Brackbird

(John Lennon e Paul Mccartney)

Blackbird singing in the dead of night

Take these broken wings and learn to fly

All your life

You were only waiting for this moment to arise

Blackbird singing in the dead of night

Take these sunken eyes and learn to see

All your life

You were only waiting for this moment to be free

Blackbird, fly

Blackbird, fly

Into the light of the dark black night

Blackbird, fly

Blackbird, fly

Into the light of the dark black night

Blackbird singing in the dead of night

Take these broken wings and learn to fly

All your life

You were only waiting for this moment to arise

You were only waiting for this moment to arise

You were only waiting for this moment to arise

(Composta em 1968)

Pássaro Sobre O Cerrado

Pássaro sobre o cerrado

Sua vida suave sabe o canto

E o corte sem saber

Do veneno que pode com o vento

Minar seu alimento

Ser que voa pelo ar com sol

Acima de qualquer mal

Lembrando apenas

Viver vale a pena

Um pássaro encerrado eu sinto

Alça voo consigo

Pássaro sobre o cerrado

Sua desaparição não tem nada a ver

A não ser como agora

Para o sul na lonjura azul

Alça voo consigo

Pássaro sobre o cerrado

Sua desaparição não tem nada a ver

A não ser como agora

Para o sul na lonjura azul

Caucaia

Caucaia do Alto tomara

Sua cara reserva

Não caia por terra

E os aviões aportem

Noutro cais de asfalto

Caucaia do alto tomara

Sua cara reserva

Não caia por terra

E os aviões aportem

Noutro cais de asfalto

Cipós, pica-paus e serrapilheira

Represa, floresta, beleza nativa

É preciso ver que isso tudo

A duras penas dança, gira e gera vida

Apenas pura

Caucaia do alto tomara

Sua rara mancha derradeira

Na região não caia na mão

Das empreiteiras

Cipós, pica-paus e serrapilheira

Represa, floresta, beleza nativa

Pode parecer brincadeira

Mas isso tudo é tão bom

Como também é o avião

Na Catarata

Eu sou um bicho pequeno aqui na rocha

Eu tenho a terra e não penso em doma-la

A roça grande é um mundo de raiz

Gerando sangue, muito verde por aqui

Tudo de bom

Tá parado no musgo

Tá mexendo nas folhas

Volando com las maripossas ai, ai!

E no som da catarata

Laraiá laraiá laiá, laraiá laiá, laraiá laiá

Eu sou um bicho grudado aqui na rocha

De carrapicho de monte nas botas

Eu tenho o braço estendido para mata

Olhando as coisas sem saber de nada

Tudo de bom tá parado no musgo

Tá mexendo nas folhas

Volando com las mariposas ai, ai!

E no som da catarata

laraiá laraiá laiá, laraiá laiá, laraiá laiá

Curva do Rio

Era noite e sentamos na curva do rio
Como num sonho perdido eu vi de quem era filho

Calma iluminavam as nuvens tranquilas
E a sinfonia de grilos por ali

Matos, murmúrios e um canto índio em mim
Na areia branca

Mergulhei uma hora nas águas do rio
Na densa correnteza reluzindo
Em nados e risos, e risos
Rios, rios, rios…

Rio tranquilo, arrepio de frio
Gosto primitivo no corpo do rio
Rio infinito
Rio infinito
Rio infinito…

Mergulhei uma hora nas águas do rio
Na densa correnteza reluzindo
Em nados, em nados, e risos, e risos
Rio!


Rio tranquilo, arrepio de frio
Gosto primitivo no corpo do rio
Rio infinito
Rio, rio infinito, rio!

*

Composta em meados dos anos 1970