Oficina de criação de versões – traduções de letras de canções escritas originalmente em outra língua, inglês principalmente – com aplicação de procedimentos da moderna tradução de poesia literária. Destina-se a compositores (incluindo os que são somente letristas), poetas ou simples interessados. Cada participante leva e/ou é levado a criar versões de sua autoria para apreciação e estímulos do ministrante.
O CASAMENTO DE LETRAS E MÚSICAS
Curso sobre as relações entre letras e músicas em canção popular. Ilumina a compreensão de uma série de canções de nosso tempo e do passado, da tradição e da modernidade, revelando aspectos internos normalmente não observados nelas. Dá uma visão dos fatores principais que influem no processo de composição. São analisadas canções de vários gêneros, autores e épocas: da velha guarda da MPB à atual; da canção americana clássica ao rock. O elenco de compositores é bastante livre e aberto, indo de Tom Jobim e Vinícius de Moraes a Arnaldo Antunes, de Cole Porter a Prince, passando por Bob Dylan, Caetano e Chico.
NOEL ROSA, O POETA DO SAMBA
Os pontos altos de uma das obras mais geniais e prolíficas (a despeito de sua pouca duração: cerca de 250 canções em sete anos) da história da música brasileira: a obra de Noel Rosa, um dos maiores poetas da nossa canção popular, criador de clássicos como: “Com Que Roupa”, “Um Gago Apaixonado”, “São Coisas Nossas”, “Feitio de Oração”, “Filosofia”, “Não Tem Tradução”, “Feitiço da Vila”, “Palpite Infeliz”, “Conversa de Botequim” e “Último Desejo”. O curso trata de como ele assimilou a música dos autores de morro para a criação de sambas urbanos de fatura particular, original. Do status artístico-literário das suas letras, da revolução que estas operaram no panorama poético de nossa canção popular; de suas invenções linguísticas; dos principais polos temáticos da sua obra (o lírico, o social, o satírico etc.).
A CANÇÃO BRASILEIRA COMO UMA MODALIDADE DE POESIA
Os pontos de contato entre poesia popular e poesia erudita no panorama da canção brasileira moderna, considerada como uma modalidade de poesia – poesia popular cantada. Os momentos em que a letra de música rompe fronteiras estilísticas e atinge o plano da letra-arte: poesia. Casos de influência literária sobre a canção do Brasil. Os grandes compositores-letristas brasileiros como trovadores contemporâneos e seu papel na cultura nacional e internacional de nosso tempo: de Noel Rosa a Caetano Veloso, Gilberto Gil e Chico Buarque, de Vinicius de Moraes a Arnaldo Antunes e Carlinhos Brown.
A VERSÃO DE CANÇÃO COMO FORMA DE TRADUÇÃO DE POESIA (CANTADA)
A explicação de um processo de criação de versões de canções americanas clássicas para o português, empregado por Carlos Rennó no repertório dos discos “Canções, Versões – Cole Porter e George Gershwin” (com repertório dos dois compositores) e “Nego” (com repertório de Richard Rodgers e Lorenza Hart, Irving Berlin, Oscar Jammerstein, Harold Arlen e outros), que tiveram entre seus intérpretes nomes como Caetano Veloso, Gilberto Gil, Chico Buarque e Elza Soares, Gal Costa, Rita Lee, Cássia Eller, Zélia Duncan, Maria Rita e Seu Jorge. A versão esteticamente criteriosa de canções estrangeiras, com a aplicação de procedimentos modernos de tradução de poesia literária (segundo poetas como Ezra Pound e os concretistas brasileiros) no campo de canção popular. A importância de traduzir não apenas sentido, mas também os procedimentos estilísticos utilizados nas letras originais.
LETRA DE MÚSICA É POESIA (CANTADA)
A revelação de lances surpreendentes, normalmente não observados, em letras de algumas das mais belas canções já criadas. Tomada como uma modalidade de poesia (cantada), a letra de música rompe fronteiras estilísticas, se eleva e atinge o plano da letra-arte. Os pontos de contato entre poesia popular (de canção) e erudita (de livro) no panorama da canção moderna, brasileira e de língua inglesa. A presença e a importância dos elementos musicais na poesia propriamente dita – a literária. A produção dos trovadores (sobretudo os provençais), não à toa chamada de canções. Os grandes compositores-letristas nacionais e internacionais como trovadores contemporâneos e seu papel na cultura do país e do mundo em nosso tempo. Em pauta, canções de Caetano Veloso, Chico Buarque; de Noel Rosa e Orestes Barbosa a Vinicius de Moraes e a Arnaldo Antunes; de Cole Porter a Bob Dylan, John Lennon e Prince; além de poemas de Drummond, de concretistas, de Fernando Pessoa, de Edgar Allan Poe, de trovadores provençais.
POESIA ESCRITA E LETRA DE MÚSICA: CONVERGÊNCIAS
Curso sobre os momentos em que, rompendo fronteiras estilísticas, a letra de música se eleva e atinge o plano da letra-arte: poesia. A letra é tomada como uma modalidade de poesia (cantada). Casos de influência da literatura sobre a canção brasileira e a de língua inglesa (sobretudo a americana). Casos especiais de musicalização de poemas literários. A presença e a importância dos elementos musicais na poesia propriamente dita. A produção dos trovadores (provençais), não à toa chamada de canções. Os grandes compositores letristas (brasileiros e americanos) dos últimos cem anos.
AS CANÇÕES DE LUPICÍNIO RODRIGUES
Em foco, a obra de um dos maiores músicos-poetas da tradição da música popular brasileira, perpassando por canções antológicas do compositor gaúcho como “Vingança”, “Nervos de Aço”, “Volta”, “Loucura”, “Se Acaso Você Chegasse” e “Quem Há de Dizer”, entre outras. A iluminação da compreensão de aspectos inusitados dessas e outras peças atesta a grandeza da obra de Lupe, criador inconfundível de um estilo de canção nacional: a dor-de-cotovelo. A permanência da força desse trabalho se evidencia em releituras modernizadoras realizadas por nomes que vão de Caetano Veloso e Gal Costa a Arnaldo Antunes e Adriana Calcanhotto.
“Paixão pela compaixão” (Mesósticos para Gil, o Compassivo)
Publicado no site da exposição “GIL70” (www.gil70.com.br, concepção e direção de André Vallias), de 2012
Em maio de 2012, Gilberto Gil deu ao Museu da Imagem e do Som, do Rio de Janeiro, um daqueles depoimentos para a posteridade que os grandes nomes que fizeram e fazem a história da música brasileira vêm dando ao museu desde a sua fundação, nos anos 60. Ao lado de Jorge Mautner, Hermano Vianna e Marcelo Froes, eu participei do grupo de entrevistadores. Foi quando, entre muitas coisas, Gil falou sobre o que chamou de o seu tipo de paixão: a “paixão pela compaixão”.
Em sua homenagem eu imaginei compor essa série de mesósticos que seguem, trazendo os mais diversos exemplos desse sentimento em suas letras. Pílulas de compaixão colhidas ao longo de sua obra, dos tempos iniciais aos recentes, aqui reconstituídas livremente numa nova sequência e numa nova lógica poética, constituindo-se os oito mesósticos resultantes num mosaico músico-poético inspirado numa forma inventada pelo músicopoeta John Cage.
Com ela Cage homenageou alguns colegas compositores como Conlon Nancarrow, e com ela foi homenageado por Augusto de Campos, o mais músico de nossos poetas hoje, que assim definiu: “mesóstico, na prática de Cage, é um acróstico em vertial intermediária, no qual se inscreve um tema ou um nome recorrente, que é atravessado pelo texto”.
meu amiGo
meu heróI
meu amado, minha Luz
descansa a tua mão cansada soBre a minha
sobrE a minha mão
no quaRto do meu coração
no canTo
esperO
aGasalhar-te à
I-
Lusão
meu amiGo, como dói
saber que a tI também corrói
a dor da soLidão
eu sei a Barra de viver
deus sabE a minha confissão
dRão
Tenho que me achar medonho
e apesar de um mal tamanhO
aleGrar meu coração
(se eu quIser
faLar com deus)
ó, mundo tão desiGual
tudo é tão desIgual
de um Lado este carnaval
(Beleza)
do outro, a fomE total
(nossa desgRaça à luz)
eu sei, você sabe, ele sim sabe Também
o que é sofrer O que é chorar
o que é precisar de alGuém
quem nunca precIsou
de aL-
Guém
aInda está pra nascer
uma estreLa no céu
eu sei e você saBe
se não sabE, há de saber
ajudaR aquela dor
a enconTrar
O seu
luGar
no meIo do chororô
a Luz na escuridão
e o laGo
tranqüI-
Lo da mente
ao balBuciar sua oração
mEu amado
iRmão
eu pensei em mim, eu pensei em Ti
eu chOrei por nós
por todo sanGue derramado
todo Irmão chicoteado
todo animaL
de sanGue quente
atacado a sangue frIo
afinaL
meu Bem
há de havEr mais compaixão
não despedace o coRação
Tenho pena de quem chora
de quem chOra tenho dó
loGo
dIgo
o lume das estreLas te alumiará
meu amiGo
eu cá me ponho a medItar
peLa mania da compreensão
quem puder ser Bom que seja
ondE você mora
mora o meu coRação
quando você chora, chora Tudo que é olho
da minha sOlidão
láGrima a correr
pelo cantInho
do oLhar
cada coisa em seu luGar
as flores caÍram no chão
quando eLa chorava, eu dizia
(Baixinho):
“tá cErto, maria
você tem Razão”
pessoa nefasTa, praga
que se arrasta tão baixO no chão
que tu, que a tua bruxa e a tua estranha saGa
– estou pedIndo a deus –
escapem pela Luz do coração
Gil aos 70: rimando como sempre – e como nunca
Publicado no jornal “Valor”, em 26/6/2012
Há algumas semanas, no final de uma entrevista com Augusto de Campos dentro de uma série de encontros com poetas na Casa das Rosas, em São Paulo, quando as perguntas se abriram para o público, eu quis saber dele qual a sua visão da rima. Por ser ele um vanguardista, muita gente supõe que esse fenômeno seja de pouca ocorrência em seus poemas, o que não é verdade; de fato, o inventor do concretismo, o mais visual de nossos poetas, rima com bastante freqüência. Além de dizer que em sua poesia a rima participa de um domínio de eventos sonoros de maior abrangência, o das paranomásias, Augusto me respondeu que ela constitui para ele uma oportunidade para promover uma associação inesperada de sentidos a que um poema pode levar.
Imediatamente eu me lembrei do que me disse certa vez Gilberto Gil, a propósito de “Domingo no Parque”, mais exatamente do trecho: “O José como sempre no fim de semana / Guardou a barraca e sumiu / Foi fazer no domingo um passeio no parque / Lá perto da Boca do Rio”. Está registrado no seu comentário sobre a gênese da canção, em “Gilberto Gil – Todas as Letras” (Companhia das Letras; 1996, 2003):
“Algumas pessoas pensam que rima é só ornamento, mas a rima descortina paisagens e universos incríveis; de repente, você se depara no lugar mais absurdo. Eu, que a procuro primeiro na cabeça, no alfabeto interno, […], vejo três fatores simultâneos para a escolha da rima: além do som, o sentido e o necessário deslocamento. Em ´Domingo no Parque´, pra rimar com ´sumiu´, eu cheguei à Boca do Rio (bairro de Salvador). E quando eu pensei na Boca do Rio, me veio um parque de diversões que eu tinha visto, não sei quantos anos antes, instalado lá […]”.
Nada menos que quatro décadas e meia se passaram desde a criação desse grande clássico, que apresentou a primeira grande letra de Gil. Com 25 anos à época, ele apenas começava a aperfeiçoar a sua dicção poética própria, que logo faria dele um grande e genial letrista e, com o tempo, a exemplo de colegas e amigos de profissão e geração da linhagem de Caetano Veloso, Chico Buarque e Jorge Ben Jor, um verdadeiro poeta. Um digno praticante da genuína modalidade de poesia – cantada – que é a letra de música em seus momentos mais especiais, em seus pontos mais altos.
Hoje, ao completar 70 anos de vida e 50 de obra, Gil atesta isto com um imenso conjunto de canções em que pontos luminosos evidenciam o brilhantismo de sua melopeia, a espécie de poesia musical em que a sonoridade e o ritmo orientam os significados das palavras, e na qual a exploração de efeitos sonoros, entre eles a rima, desempenha um papel de enorme relevância. Aproveitando a oportunidade, eu gostaria de chamar a atenção aqui para determinados exemplos (de minha predileção) desses recursos em composições de Gil.
Em matéria de rimário, merecem destaque, ao meu ver, algumas daquelas rimas que são ao mesmo tempo de som e de sentido, e que foram por um certo período a único espécie de rima que Carlos Drummond de Andrade pareceu se permitir praticar. Elas são encontráveis na bela canção que se tornou uma das mais comoventes expressões poético-musicais de compaixão pelas vítimas das desigualdades do mundo, sobretudo as desigualdades sociais no Brasil: “A Novidade” (parceria com os três integrantes dos Paralamas do Sucesso), na qual ocorrem nos pares sereia/baleia e sereia/areia. E se fazem presentes também na canção-jingle “Jurubeba” (jurubeba/beba) e em uma das mais recentes canções de Gil, a forte “Praga” (que eu deixo pra comentar ao fim desse texto).
Gil já praticou igualmente outro tipo formalmente sofisticado de rima, que se dá entre uma palavra e duas ou mais, em “Palco” (cântaro/cantar o), “Metáfora” (metáfora/meta fora) e “O Mar e o Lago” (O Mário Lago/O mar e o lago). E ainda uma outra – cujos termos, homofônicos homógrafos, apresentam contudo sentidos distintos – em grande parte responsável pela graça do refrão de “Punk da Periferia”; aqui, o “Ó” substantivo próprio é imediatamente seguido do “ó” interjeição: um caso, portanto, de rima rica (feita de palavras de classes gramaticais diferentes), tecnicamente falando.
No campo das rimas puras, simples e completas, há também a célebre “Flamengo/Realengo” (poucos substantivos em nossa língua possuem a terminação “engo”), de “Aquele Abraço”, canção de despedida do Rio de Janeiro – e do Brasil, antes da partida para o exílio em Londres, em fins dos anos 60.
Passagem especialmente destacável no rimário gilbertogiliano constitui-se o início de “Pessoa Nefasta”, onde duas sequências de rimas carregadamente aliterativas (uma em efes, esses e tês; outra em bês, esses e tês), algumas internas, como que exprimem, com aspereza, no plano fônico, o sentimento de repulsa e aversão pelo protagonista da canção: “Tu, pessoa nefasta / Vê se afasta teu mal / Teu astral que se arrasta / […]; / Tu, pessoa nefasta / Tens a a aura da besta / Essa alma bissexta…”
Exibindo uma carga mais leve e sutil, mas não menos impressionantes no efeito que causam, há as quase rimas, também aliterativas, que em versos de uma única palavra, sempre seguidos por um longo, estruturam a letra de “Extra”: “Baixa / […] / Acha / […] / Flecha / […] / Puxa / […] / Racha / […]” e “Baixa / […] / Rocha / […] / Bicho / […] / Brecha / […] / Deixa / […]”.
A propósito de aliteração, essa figura de linguagem tão cara a dois outros grandes poetas maiores de nossa música popular – Caetano e Chico – e que contribui notavelmente para a comunicação poética, mais um trecho a ser lembrado é o do delicioso verso de “Marcha da Tietagem”: “Pro mato, pro motel, de moto ou de metrô”. E, com mais virtuosismo ainda, este outro, do rock “Chuck Berry Fields Forever”: “Tambor de tinto timbre tanto tonto tom tocou”. Aqui, como no trecho citado de “Pessoa Nefasta”, a paronomásia adquire funções isomórficas, fazendo sons e sentidos vocabulares corresponderem-se biunivocamente. Ao empregar nada menos que dez tês num verso de catorze sílabas, Gil não teve outro objetivo senão o de mimetizar a sonoridade inebriante dos tambores “trazidos d´África para Américas de Norte a Sul”, do verso imediatamente anterior, que abre a canção.
Por falar em equivalência entre som e sentido (análoga à entre signo e significante), fenômeno que enriquece esteticamente qualquer verso, quando se trata de canção, arte resultante da combinação da música com a poesia, uma correspondência sempre desejável é a que se pode instaurar entre as frases verbais e as musicais: o casamento, enfim, de letra e música. Nesse aspecto, ganham relevo determinados instantes em que uma e outra coisa parecem falar exatamente a mesma linguagem.
Um caso antológico desses acontece em “Beatriz”, de 1982, como apontou o próprio autor da música, Edu Lobo, quando falou o que Chico Buarque fez, ao letrá-la. Colocando a palavra “chão” sobre a nota mais grave, e a palavra “céu” sobre a nota mais aguda da melodia pré-composta por seu parceiro, Chico estabeleceu assim o tão buscado casamento verbo-musical. É claro que tal procedimento colaborou, subconscientemente – isto é: profundamente – para a transmissão da emoção que o poeta quis passar.
Desde a publicação do comentário de Edu, o fato com certeza já foi várias vezes comentado por pessoas ligadas nesses detalhes internos do processo de composição de canções. Mas eu ainda não vi alguém observar que Gil fez a mesma coisa dois anos antes, em “Se Eu Quiser Falar Com Deus”, de 1980. Nessa que também virou um standard da moderna MPB, e em cujas linhas nosso poeta místico-religioso enumera com intensidade de sentimento as posições e atitudes reverentes que ele deve tomar para alcançar o que o título indica, ao final do verso “Tenho que lamber o chão” ele também canta “chão” sobre a nota mais baixa, e do verso “Tenho que subir aos céus”, também a palavra “céus” atinge no canto a nota mais alta da música.
Numa de suas mais recentes canções, “Praga”, feita para sua filha Preta Gil cantar (e para defendê-la de ataques ofensivos feitos covardemente pela internet), Gil escreve: “Que a tua boca suja na internet / Não me alfinete ou canivete nunca mais / Estou pedindo a Deus no meu tablete / Que delete os teus ataques virtuais”. Percebe, leitor, as rimas entre internet, tablete e (internamente) delete? E entre alfinete e canivete? Sim: rimas não só de som, mas também de sentido. Pois é, poesia é (também) isso. Num tempo em que, por força da força de um gênero – o rap – que privilegia o poético, a palavra “rima” se tornou sinônimo de “poesia” (de música), e “rimar”, de “fazer poesia” (cantada ou cantofalada), o poeta-músico Gil, septuagenário, mostra que segue rimando como sempre – e como nunca.
Caetano, em forma e com estilo
Publicado no jornal “Valor”, em 3-4-5/8/2012, sob o título “Caetano Veloso em forma e com estilo”
Se um jovem potencial poeta, para decidir-se pelo ofício ou arte da poesia cantada, precisasse da confirmação de que é possível se fazer poesia de verdade a partir da conjugação de letras e músicas, bastaria a ele ser apresentado à obra de Caetano Veloso. Assim como Bob Dylan, o seu “irmão” contemporâneo norteamericano, Caetano se tornou um grande poeta de nosso tempo, expressando-se no campo da canção popular, como compositor-letrista.
Que, sob o aspecto do fundo, do tema e do conteúdo, a amplitude e a profundidade poética de suas letras sejam facilmente comprováveis, parece não haver dúvida. Ao longo das últimas quase cinco décadas de obra (de suas sete de vida, que se comemoram agora), ele vem demonstrando constantemente ser o cantor libertário por excelência do Brasil moderno. Aquele por cujas canções passam, em visões agudas e interpretações finas, as transformações, os anseios e os problemas centrais de nossa sociedade nos campos social, político, estético, individual e comportamental.
No entanto, simultaneamente ao que ocorre no terreno dos significados, também nos domínios da forma e do estilo – no plano concreto da linguagem poética – evidencia-se e se confirma tal alto grau de qualidade poética aplicada à música. Cabem aqui alguns exemplos disso.
É notável a destreza com que ele maneja, exibindo um rigor espontâneo, formas poético-literárias há muito estabelecidas e praticadas, para além das redondilhas maiores de “Alegria Alegria” e menores de “Lua de São Jorge”. Assim, duas canções lindíssimas como “O Quereres” e “Cajuína” são feitas de versos metrificados de medidas mais longos e eloqüentes; a primeira, letra de longo fôlego, de oito estrofes de seis decassílabos cada, e a segunda, de uma única estrofe de oito dodecassílabos.
Ao mesmo tempo Caetano é capaz de incursionar com igual naturalidade em terreno mais movediço, o da vanguarda, escrevendo letras no limite entre a canção e o poema concreto, como “Julia/Moreno” e “De Palavra em Palavra”, ambas faixas de um disco deliberadamente experimental, “Araçá Azul”, de 1972 (a segunda, não à toa, dedicada ao poeta e amigo de sempre Augusto de Campos). E outras marcadas pela presença de palavras-valise, de inspiração joyceana, como a tropicalista “Acrilírico” (onde cintilam termos como “colírico”, “telástico”, “grandicidade”, “Santo Amargo da Putrificação”) e “Outras Palavras”, de 1981.
Nesta, em mais um texto de fatura extensa, reponta a última estrofe, toda ela construída com esses vocábulos compostos, inventados (usados pioneiramente por Lewis Carroll e posteriormente por James Joyce em seu livro formalmente mais radical, Finnegans Wake). De modo sugestivamente libertário, empregando termos de conotação sexual, Caetano a finaliza com essas – “outras” – palavras: “Lambetelho frúturo orgasmaravalha-me, Logun / Homenina nel paraís de felicidadania”.
Pelas referências eruditas que fazem, explícita ou implicitamente, várias letras suas correspondem ao que, no contexto literário, é chamado de cult poetry. Assim, numa simples e graciosa canção de amor como “Lindeza”, podemos nos deparar surpreendentemente com duas definições de beleza, uma dada pelo poeta romântico inglês John Keats (“Uma alegria pra sempre”, citação do célebre verso “A thing of beauty is a joy forever”), a outra pelo romancista realista francês Stendhal (“Promessa de felicidade”, da frase “La beauté n´est que la promesse du bonheur”).
O procedimento constitui um elemento do estilo de Caetano desde os tempos de tropicalismo, quando o refrão de “Os Argonautas” (“Navegar é preciso, viver não é preciso”) citou Fernando Pessoa – o “ele mesmo”, o de “Mensagem”. Outro escritor de língua portuguesa, o poeta maranhense Sousândrade, que na época do Romantismo viveu em Nova York e escreveu um espantoso poema épico mesclando índios sulamericanos e Wall Street, “O Guesa”, também é apropriadamente referido em “Manhatã”, na qual o cantor-compositor baiano rima “cunhã” com “Manhattan”.
De Sousândrade, poeta por longo tempo marginalizado e resgatado a partir dos anos 1960 pelos irmãos Augusto e Haroldo de Campos num importante trabalho de caráter revisionista, Caetano musicou um enigmático verso – “Gil-engendra em gil rouxinol…” – que dessa forma se transformou na canção “Gil Misterioso”. Outra musicalização de sua autoria foi feita para “O Pulsar”, de Augusto. É significativo que o trabalho – uma transposição, para a linguagem sonora, de um poema visual, empregando uma solução simples e perfeita – tenha sido elogiado por ninguém menos que o compositor norte-americano John Cage, ícone da música de vanguarda do século 20, e se tornado ainda por cima um hit (para os padrões da poesia experimental).
E como não pensar que o verso final da letra de “A Rã”, feita sobre música de João Donato, mais do que uma oblíqua alusão, seja uma espécie de tradução, para o plano musical, do superclássico haikai do sapo na água, de Bashô? É o que podemos depreender da observação feita pelo compositor, cantor, escritor e professor de Literatura Brasileira José Miguel Wisnik, que na frase “A rama, o sapo, o salto de uma rã” destacou a relação isomórfica, verbo-musical, que se estabelece quando a sílaba “sal”, de “salto”, é cantada uma nota acima daquela em que são cantadas as sílabas das demais palavras do verso. Tipo da correspondência existente na transcrição original do poema, em cujo desenho o salto é sugerido, numa relação de afinidade entre signo e significado própria da natureza do ideograma.
Aqui, que tal lançarmos um olhar um pouco mais fundo para o refrão de “A Luz de Tieta”? “Eta, eta, eta, eta / É a lua, é o sol, é a luz de Tieta / Eta, eta!”? Não bastasse o fato de que a rima, além de agradável aos ouvidos, é rica por se dar entre termos de classes gramaticais distintas (sendo uma delas uma interjeição, o que a torna ainda menos comum), há o fato de que, na escrita chinesa, o ideograma de luz é formado pela sobreposição dos ideogramas de lua e de sol… Não nos enganemos: Caetano é profundo mesmo quando não parece ser. Eis por que, quando ele não nos parece ser, exige de nosso olhar que assim seja: profundo.
É natural que, por essas e muitas outras, sua poesiamúsica seja objeto da observação e da admiração de poetas. Décio Pignatari, num pequeno livro chamado “Comunicação Poética”, chama a atenção, no verso “Acho que a chuva ajuda a gente a se ver”, para a aliteração de consoantes fricativas (ch, j, g), cujo som, chiado, parece sugerir o da chuva. Esses fonemas aparecem ao longo da maior parte da letra (como em seus versos-chave: “A gente se olha, se beija, se molha/ De chuva, suor e cerveja”), num frevo que afinal de contas trata do que diz seu título: “Chuva, Suor e Cerveja”.
Em “Sampa”, rebrilha a sonoridade das aliterações da linha: “Do povo oprimido nas filas, nas vilas, favelas”. As em vês e efes, particularmente, como que acentuam a expressão do sentido do verso – que lembra os problemas da parcela da população com menos recursos –, já que seu modo de articulação em série representa certa dificuldade de pronúncia, por exigirem que a passagem do ar se dê por um espaço estreito do buraco da boca.
“Sampa”, diga-se, constitui uma síntese do que se está querendo dizer aqui. Como se não bastasse a intrincada construção de trechos como “E à mente apavora o que ainda não é mesmo velho / Nada do que não era antes quando não somos mutantes” (e o que dizer de “Porque és o avesso do avesso do avesso do avesso”?), há ainda o caráter carregadamente alusivo de certos versos que os vincularia mais a uma poesia literária, erudita: “Tuas oficinas de florestas, teus deuses da chuva / Pan-Américas de Áfricas utópicas, túmulo do samba / Mas possível novo quilombo de Zumbi”.
É quase inacreditável que uma canção assim tenha se tornado tão popular como é. Deve ser motivo de orgulho para São Paulo que ela o seja. Da mesma forma que um poeta como Caetano tenha, entre nós, brasileiros, a popularidade que tem.
Paixão
de “Alta Fidelidade”, de Wilson Simoninha
Que maravilha é meu time
Que entorna o céu aqui no chão
Pois não há nada mais sublime
Que ver meu time campeão
Em meio aos fogos e ao frisson
Eu grito com
entusiasmo
Os grandes jogos são um show
E cada gol
é um orgasmo
É campeão! – E eu vou com tudo
Com o escudo bem no coração
Um coração que ri e chora
E comemora cheio de paixão
Uma paixão assim absurda
Ninguém exprime numa frase, não
Devo dizer, sem o meu time
Eu não concebo a vida, meu irmão
Meu time agora me eletriza
E o seu hino eu vou cantar
Com a bandeira e a camisa
E mil buzinas pelo ar
Somente Nela
Estar apaixonado é uma coisa louca,
Que alguém lhe causa e você mal dorme.
Se perto desse alguém a eternidade é pouca,
Distante, cada instante é um tempo enorme.
Estar apaixonado é mesmo uma doença,
Que alguém lhe passa e aí você mal come.
Tão-só nessa pessoa você pensa,
Enquanto a outra fome o consome.
´Tava tremendo, com febre e com frio,
A estremecer de amor por causa dela.
Corria a minha espinha um arrepio,
E eu nem pensava em mim, somente nela.
Eu ria e chorava um rio;
Nunca uma dor foi tão bela.
Por dias, noites e horas a fio
Eu nem pensava em mim, somente nela.
Estar apaixonado é parecer um ser ridículo
E não estar com isso nem aí.
Você se sente livre e solto mesmo num cubículo,
Tal como eu me sentia então ali.
Em sons e sentidos, Caetano não tem fim
Publicado na revista “L’Officiel Brasil”, em agosto de 2012, sob o título “Outras palavras”
Existe uma coisa fundamental para a comunicação da beleza numa letra de música: a sonoridade das palavras. Além do sentido, é o som delas, cantadas, que faz uma canção nos arrebatar com um poder de sedução tal, que às vezes nem temos consciência do que fez com que nos encantássemos e nos persuadíssemos.
Entre dezenas de compositores muito bons nisso, há alguns, raros e caros, que já deixaram a sua marca indelével na história dessa arte. Cole Porter foi um deles. Um outro é Caetano Veloso. Esse velho sempre novo, agora com setenta anos, não se cansa de nos brindar com exemplos da mais aperfeiçoada combinação de palavras e sons em poesia de música. Em suas letras, a força e a graça poéticas não provém apenas do que é dito, mas também de como é dito. O que elas são deve muito ao como elas soam.
Inventivo por excelência, Caetano já começou desarvorando: foi dos primeiros a usar uma rima que até então nem era considerada rima em MPB, a toante (em que só as vogais rimam, não as consoantes). Rima de origem pop, empregada no rock´n´roll desde os anos 50 e no blues desde os anos 20 do século passado, nos Estados Unidos. E ao mesmo tempo erudita, introduzida em nossa literatura pelo poeta João Cabral de Melo Neto, que a assimilou da poesia de língua inglesa modernista.
“Alegria Alegria” está cheia delas: guerrilhas / bonitas, nome / telefone, preguiça /notícia. Nesse sentido, porém, uma outra canção do período tropicalista, a belíssima “A Tua Presença”, é paradigmática: as quinze palavras que nela rimam terminam em e-a, na maioria das vezes como toantes: cabeça, orelhas, presença, pernas, amarela, negra, janelas, motocicletas, reza, sangrenta… Mais tarde, ele forjaria outro clássico somente com rimas com a terminação i-o, quase todas toantes, “Oração ao Tempo” (“És um senhor tão bonito / Quanto a cara do meu filho / Tempo tempo tempo tempo / Vou te fazer um pedido”).
E o que dizer de rimas raras, novas, imprevistas, como mãe / champagne (em “Meu Bem, Meu Mal”)? Ou como rapte-me, adapte-me e capte-me ressoando, simplesmente, em up to me (em “Rapte-me, Camaleoa”)?
Ou então, mais sofisticadas ainda, aquelas que se dão entre uma palavra e duas ou mais, muito mais facilmente encontráveis em poesia inglesa e norteamericana por causa da estrutura do idioma, cheio de monossílabos. Em “Trilhos Urbanos” há a célebre rima interna dos versos “Pena de pavão de Krishna / Maravilha, vixe Ma-/ria mãe de Deus”. E, menos conhecidas, mas até mais abusadas, as de “Escândalo”, canção feita para Ângela Rô Rô cantar: sândalo / sã da lo(ucura), vândalo e escândalo / irmã-luz, manhã da luz e maçã da lux(úria) /escândalo.
Um fator a mais a chamar a atenção nessas rimas é o fato de a coincidência fônica não se dar entre os finais das palavras, mas entre o fim de uma e o começo de outra. Em matéria de rimário, Caetano é, sim, um luxo, um escândalo.
Melopeia é o nome que se dá para a modalidade poética na qual as palavras estão impregnadas de propriedade musical. As rimas desempenham um papel muito importante aqui, mas, além delas, há as aliterações – as sequências de fonemas caracterizados pela repetição de consoantes de espécies similares, que contribuem para a criação de um efeito sonoro esteticamente interessante. Também aqui Caetano exubera.
Lembremo-nos de um verso de “London London”, feita no exílio. Não bastasse o vigor da imagem que lança na imaginação do receptor – de notável força de síntese de um lugar e de um tempo, colaborando para a transmissão da emoção de um sentimento de profunda melancolia passada pela canção –, a sucessão das sílabas é de um poder encantatório: “Green grass, blue eyes, grey Sky, God bless [Silent pain…]”. Por quê? Por causa da sequência de três grs (além de um quarto gê) e de dois bls, além da proximidade de três ditongos, dois em ai e um em ei.
Outro verso antológico merece alusão aqui: “Do povo oprimido nas filas, nas vilas, favelas”, de outro clássico, “Sampa”, de 1978. A Caetano podem ter ocorrido primeiramente os termos “nas filas, nas vilas”, e ele ter então sentido necessidade de completar a linha com um plus de inventividade, já que fila e vila, aliterando, já haviam sido usadas por Chico Buarque – outro gênio das aliterações – alguns anos antes, na absurdamente linda “Flor da Idade” (“A gente faz hora, faz fila, na vila do meio-dia/ Pra ver Maria”), que o baiano, com toda razão, adora e até já gravou. Nesse sentido, a complementação do seu verso foi genial, pois favelas vem complementar filas e vilas tanto em termos semânticos quanto sônicos, com suas sílabas em efe, vê e ele.
E em “Vaca Profana”, com suas referências a Madri e Barcelona, o que temos? Nada menos que essa marcadíssima sequência de pês (além de duas sílabas em enes e o atrito de ks com cas: “Napoli, Pino, Pi, Pau, punks / Picassos… ”. E em “A Rã”? Essa lindeza, remetendo ao célebre haikai de Bashô: “A rama, o sapo, o salto de uma rã”. Na qual ressalta não apenas a sucessão de ras, mas e sas, mas também os elementos anagramáticos de “rama” e “uma rã”.
Anagramas. Por falar nos tais, todo o refrão de uma composição dos anos 2 mil – “Zera a Reza” – é erguido, barrocamente, com exemplares deles: “Vela leva a seta tesa / Rema na maré / Rima mira a terça certa / E zera a reza”. Uma outra, dos 80, “Itapuã” – bela canção de reminiscências do início da vida amorosa com a primeira mulher do artista – traz o verso “Itapuã, tuas lamas, algas, almas que amalgamas”, em que a última palavra, “amalgamas”, literal, concreta e efetivamente amalgama os termos imediatamente anteriores – “lamas, algas, almas”…
(Em “Gente”, por sinal, ocorre algo semelhante no verso “Gente quer respirar ar pelo nariz”, em que o fonema “ar”, integrante de “respirAR”, entra literalmente – literalmente mesmo – “pelo nariz”, no meio, por dentro da palavra “nARiz”).
Indo mais longe, dos três anagramas do samba “Os Passistas” – cada um ocorrendo precisamente no mesmíssimo ponto de cada uma das estrofes –, dois constituem-se também em palíndromos: Roda / a dor e Roma / amor.
Assim como em termos de sentido, também em matéria de sons, Caetano não tem fim.
Noite e Dia (Night and Day)
Como o beat-beat-beat do tantã,
Quando à selva desce um breu;
Como o tique-tique-taque sem nenhum destaque
De um relógio como o meu;
Como o pingo-pingo-pingo das gotas,
Quando já choveu pra chuchu;
Uma voz em mim repete assim: tu, tu, tu…
Noite e dia, só tu, meu bem,
Sob a Lua e sob o Sol não há mais ninguém.
Longe ou perto, coração,
Não importa onde estejas, não,
Eu penso em ti noite e dia.
Dia e noite, por que será
Que a paixão por ti me segue por onde eu vá?
No rumor das ruas, oh,
No silêncio do meu quarto só,
Eu penso em ti, noite e dia.
Noite e dia, bem fundo, ai de mim,
Uma fome tamanha teima, queima e não sai de mim.
Pra ter fim o meu sofrer,
Deixa te fazer amor enquanto eu viver,
Dia e noite, noite e dia.
____________________________________________________
Night and Day
Like the beat beat beat of the tom-tom
When the jungle shadows fall,
Like the tick tick tock of the stately clock
As it stands against the wall,
Like the drip drip drip of the raindrops
When the summer shower is through,
So a voice within me keeps repeating: you – you – you.
Night and day, you are the one,
Only you beneath the moon and under the sun.
Whether near to me or far,
It´s no matter, darling, where you are,
I think of you day and night.
Night and day, why is it so
That this longing for you follows wherever I go?
In the roaring traffic´s boom,
In the silence of my lonely room,
I think of you night and day.
Night and day, under the hide of me
There´s an, oh, such a hungry yearning burning inside of me.
And its torment won´t be through,
Till you let me spend my life making love to you,
Day and night, night and day.
Música e letra de Cole Porter
1935
Noite e Dia (Night and Day)
Como o beat-beat-beat do tantã,
Quando à selva desce um breu;
Como o tique-tique-taque sem nenhum destaque
De um relógio como o meu;
Como o pingo-pingo-pingo das gotas,
Quando já choveu pra chuchu;
Uma voz em mim repete assim: tu, tu, tu…
Noite e dia, só tu, meu bem,
Sob a Lua e sob o Sol não há mais ninguém.
Longe ou perto, coração,
Não importa onde estejas, não,
Eu penso em ti noite e dia.
Dia e noite, por que será
Que a paixão por ti me segue por onde eu vá?
No rumor das ruas, oh,
No silêncio do meu quarto só,
Eu penso em ti, noite e dia.
Noite e dia, bem fundo, ai de mim,
Uma fome tamanha teima, queima e não sai de mim.
Pra ter fim o meu sofrer,
Deixa te fazer amor enquanto eu viver,
Dia e noite, noite e dia.
Night and Day
Like the beat beat beat of the tom-tom
When the jungle shadows fall,
Like the tick tick tock of the stately clock
As it stands against the wall,
Like the drip drip drip of the raindrops
When the summer shower is through,
So a voice within me keeps repeating: you – you – you.
Night and day, you are the one,
Only you beneath the moon and under the sun.
Whether near to me or far,
It´s no matter, darling, where you are,
I think of you day and night.
Night and day, why is it so
That this longing for you follows wherever I go?
In the roaring traffic´s boom,
In the silence of my lonely room,
I think of you night and day.
Night and day, under the hide of me
There´s an, oh, such a hungry yearning burning inside of me.
And its torment won´t be through,
Till you let me spend my life making love to you,
Day and night, night and day.
Música e letra de Cole Porter
1935
Escrito nas Estrelas
Você pra mim foi o sol
De uma noite sem fim
Que acendeu o que sou,
Pra renascer tudo em mim.
Agora eu sei muito bem
Que eu nasci só pra ser
O seu parceiro, seu bem, (*)
E só morrer de prazer.
Caso do acaso bem marcado em cartas de tarô,
Meu amor, esse amor de cartas claras sobre a mesa
É assim.
Signo do destino, que surpresa ele nos preparou;
Meu amor, nosso amor estava escrito nas estrelas,
Tava, sim.
Você me deu atenção
E tomou conta de mim.
Por isso, minha intenção
É prosseguir sempre assim.
Pois sem você, meu tesão,
Não sei o que eu vou ser;
Agora preste atenção:
Quero casar com você.
_____________________
Variante:
(*) Sua parceira, seu bem,
Soneto de Glauco Mattoso sobre estrelas citando Carlos Rennó
#5024 CRENÇA SUSPENSA [29/12/2011]
Na roça, um céu de estrellas é bonito.
Novella sem estrellas não tem graça.
Bilac, ouvindo estrellas, tempo passa.
Rennó lê nas estrellas algo escripto.
David, pelas estrellas, foi bemdicto.
De esquerda, enchem estrellas uma praça.
Natal exige estrellas: que Elle nasça!
Maldicto, em más estrellas acredito.
Estou cego, não posso mais revel-as,
mas lembro-me das ultimas que vi:
brilhavam, scintillantes, taes estrellas.
Chamadas de “escotomas”, bem aqui,
no fundo do meu olho, as vi: foi, pelas
fugazes, breves luzes, que em Deus cri.
Segunda Pele
de “Segunda Pele”, de Roberta Sá
À noite eu lhe convido:
“Querido, vem pra cá”
Um som no seu ouvido
Sussurra logo: “Vá!”
Por perto alguma gata
Já grita que nem fã
E logo o amor nos ata
Na noite, nossa irmã
Quando ele vem, faço dele
Minha luva, meu colant
A minha segunda pele
O meu cobertor de lã
São Paulo tá tão frio
Três graus, a sensação
Mas o seu arrepio
Não é de frio, não
Sou eu na sua pele
Que afago com afã
Pra que seu fogo pele
A sua anfitriã
Quando ele vem, faço dele
Minha luva, meu colant
A minha segunda pele
O meu cobertor de lã
Enquanto a noite passa
Aos braços da manhã
A gente ainda passa
Os dentes na maçã
O nosso amor é massa
Pra lá de Amsterdan
O resto é o resto, e passa
O resto é espuma, é spam
Quando ele vem, faço dele
Minha luva, meu colant
A minha segunda pele
O meu cobertor de lã
Quando ele vem, faço dele
Minha luva ou sutiã
A minha segunda pele
O meu cobertor de lã
Hasta! *
* Versão Feminina
Que amor é esse…
Mais parece desamor.
Você ama odiar
Aquilo que cê ama, o seu amor.
Você me aborrece,
Corta o meu tesão;
Por qualquer razão, sem razão,
Arma logo um barraco no meu barracão.
Que amor, que nada…
Quem entende o seu humor
E o seu gosto em desgostar
Aquela que cê gosta, o seu amor?!
Isso me enfada;
Foda, meu irmão;
E como reclama, oh não;
Inclusive na cama faz reclamação.
Basta!
Você só me afasta de você.
Pasto
E só me desgasto com você.
Paz!
Disso eu sou capaz,
Vou seguir em paz sem você.
Basta!
Hasta!
Desse amor me arranco,
Pra fugir do seu rancor.
Você briga por brigar
Com sua grande amiga, o seu amor.
Você nem é franco;
Homem sem noção.
Eu perco a razão, com razão,
Se você cria caso e causa discussão.
Basta!
Você só me afasta de você.
Pasto
E só me desgasto com você.
Paz!
Disso eu sou capaz,
Vou seguir em paz sem você.
Basta!
Hasta!