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Esteticar (Estética do Plágio)


de “Defeito de Fabricação”, de Tom Zé

1998_Tom_Ze_Com_defeito_de_fabricacao_1024

Pensa que eu sou um caboclo tolo, boboca,
Um tipo de mico cabeça-oca,
Raquítico típico jeca jacu , (*)
Um mero número zero, um zé à esquerda,
Pateta patético, lesma lerda,
Autômato pato, panaca tatu? (**)

Pensa que eu sou um andróide candango doido,
Algum mamulengo molenga mongo,
Mero mameluco da cuca lelé,
Trapo de tripa da tribo dos pele-e-osso,
Fiapo de carne, farrapo grosso,
Da trupe da reles e rala ralé?

Pensa? Dispenso a mula da sua ótica;
Ora vá me lamber, tradução inter-semiótica.
Se segura milord aí, que o mulato baião
(Tá se blacktaiando)
Smoka-se todo na estética do arrastão.

Ca esteti ca estetu
Ca esteti ca estetu
Ca esteti ca estetu
Ca esteti ca estetu
Ca estética do plágio-iê

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Variantes:

(*) Raquítico típico jeca-tatu,
(**) Autômato pato, panaca tatu?

Letra com Tom Zé (Refrão)

Experiência


de “Respeitem meus Cabelos Brancos”, de Chico César
2002_Chico_Cesar_Respeitem_meus_cabelos__brancos_1024

Era uma luz, um clarão
Era uma luz, um clarãoum insight num blecaute.
Éramos nós sem ação,
Éramos nós sem ação,como quem vai a nocaute.
Era uma revelação
Era uma revelaçãoe era também um segredo;
Era sem explicação,
Era sem explicação,sem palavras e sem medo.

Era uma contemplação
Era uma contemplaçãocomo com lente que aumenta;
Era o espaço em expansão
Era o espaço em expansãoe o tempo em câmara lenta.
Era uma tal comunhão
Era uma tal comunhãocom o um e tudo à solta;
Era uma outra visão
Era uma outra visãodas coisas à nossa volta.

E as coisas eram as coisas:
E as coisas eram as coisas:a folha, a flor e o grão,
O sol no azul e depois as
O sol no azul e depois asestrelas no preto vão.
E as coisas eram as coisas
E as coisas eram as coisascom intensificação,
Que as coisas eram as coisas
Que as coisas eram as coisasporém em ampliação.

Era como se as víssemos,
Era como se as víssemos,entrando nelas então,
Com sentidos agudíssimos
Com sentidos agudíssimosdesvelando seu desvão,
Indo por entre, por dentro,
Indo por entre, por dentro,aprendendo a apreensão
De tudo bem dês do centro,
De tudo bem dês do centro,do fundo, do coração.

Era qual uma lição
Era qual uma liçãodel viejo brujo don Juan;
Uma complexa questão
Uma complexa questãosem nexo qual um koan;
Um signo sem tradução
Um signo sem traduçãono plano léxico-semântico;
Enigma, contradição
Enigma, contradiçãono nível de um campo quântico.

Era qual uma visão
Era qual uma visãode um milagre microscópico,
Do infinito num botão,
Do infinito num botão,e em ritmo caleidoscópico
Ciclos de aniquilação
Ciclos de aniquilaçãoe criação sucessiva,
Átomos em mutação,
Átomos em mutação,cósmica dança de Shiva.

E as coisas ao nosso ver
E as coisas ao nosso verdavam no fundo a impressão
De ser de ser e não-ser
De ser de ser e não-sera sua composição;
Como a onda tão etérea
Como a onda tão etéreae a partícula não tão
Num ponto tal da matéria
Num ponto tal da matériatanto ‘tão quanto não ‘tão.

Até que ponto resistem
Até que ponto resistema lógica e a razão,
Já que nas coisas existem
Já que nas coisas existemcoisas que existem e não?
O que dizer do indizível,
O que dizer do indizível,se é preciso precisão,
Pra quem crê no que é incrível
Pra quem crê no que é incrívelnão devanear em vão?

Era uma vez num verão,
Era uma vez num verão,num dia claro de luz,
Há muito tempo, um tempão,
Há muito tempo, um tempão,ao som das ondas azuis.

E as coisas aquela vez
E as coisas aquela vezeram qual foram e são,
Só que tínhamos os pés
Só que tínhamos os pésum tanto fora do chão.

Antes Que Amanheça

Passa da uma, tudo emudeceu.
A lua é um CD de luz no céu
E aqui o meu apê é um deserto.
Agora cada um está na sua.
Você sumiu, você que é de lua,
E eu a queria tanto aqui por perto.

Meu bem, meu doce bem, minha senhora,
Eu poderia declarar agora
Meu grande amor, minha paixão ardente.
Em minha mente insone, só seu nome
Ecoa, só não soa o telefone;
E a sua ausência se faz mais presente.

Passa das duas na cidade nua;
Ao longe carros rugem para a lua
E alguma coisa fica mais distante.
Eu sinto a sua falta no meu quarto;
Será que você volta antes das quatro?
É tudo que eu queria nesse instante.

Quando Eu Fecho Os Olhos

de “Respeitem Meus Cabelos Brancos”, de Chico César

Aí você surgiu na minha frente,
E eu vi o espaço e o tempo em suspensão.
Senti no ar a força diferente
De um momento eterno desde então.

E aqui dentro de mim você demora;
Já tornou-se parte mesmo do meu ser.
E agora, em qualquer parte, a qualquer hora,
Quando eu fecho os olhos, vejo só você.

E cada um de nós é um a sós,
E uma só pessoa somos nós,
Unos num canto, numa voz.

O amor une os amantes em um ímã,
E num enigma claro se traduz;
Extremos se atraem, se aproximam
E se completam como sombra e luz.

E assim viemos, nos assimilando,
Nos assemelhando, a nos absorver.
E agora, não tem onde, não tem quando:
Quando eu fecho os olhos, vejo só você.

E cada um de nós é um a sós,
E uma só pessoa somos nós,
Unos num canto, numa voz.

Escrito nas Estrelas

Você pra mim foi o sol
De uma noite sem fim
Que acendeu o que sou,
Pra renascer tudo em mim.
Agora eu sei muito bem
Que eu nasci só pra ser
O seu parceiro, seu bem, (*)
E só morrer de prazer.

Caso do acaso bem marcado em cartas de tarô,
Meu amor, esse amor de cartas claras sobre a mesa
É assim.
Signo do destino, que surpresa ele nos preparou;
Meu amor, nosso amor estava escrito nas estrelas,
Tava, sim.

Você me deu atenção
E tomou conta de mim.
Por isso, minha intenção
É prosseguir sempre assim.
Pois sem você, meu tesão,
Não sei o que eu vou ser;
Agora preste atenção:
Quero casar com você.

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Variante:
(*) Sua parceira, seu bem,

Sem Preconceito


de “Ficar com você”, de Patrícia Marx
1995_Patricia_Marx_Ficar_com_voce_1024

Uma branquinha que nem sal
Um pretinho tal e qual azeviche (hã hã)
Uma gracinha o casal
Só um cara tão careta mete o pau
Dizendo viche!

Uma boneca de cal
Um boneco de piche
Combina tão legal
Mas tem quem piche
E fale mal

Ele que piche
E ele que se lixe

Sem preconceito (Yeah!)

Quem tem raça e cor
E tem graça também
De que raça que for
Pode ser meu bem
Pode ser confusão
Pode ser meu amor
Porque esse meu coração
Não tem cor

Átimo de Pó


de “Quanta”, de Gilberto Gil

Átimo de Pó

Entre a célula e o céu
O DNA e Deus
O quark e a Via-Láctea
A bactéria e a galáxia

Entre agora e o eon
O íon e Órion
A lua e o magnéton
Entre a estrela e o elétron
Entre o glóbulo e o globo blue

Eu
Um cosmos em mim só
Um átimo de pó
Assim: do yang ao yin

Eu
E o nada, nada não
O vasto, vasto vão
Do espaço até o spin

Do sem-fim além de mim
Ao sem-fim aquém de mim
Den´ de mim

Rapto Rápido


de “Suzana Salles”, de Suzana Salles
1994_Suzana_Salles_Camerati_1024

Você lembra quanto eu te raptei?
(Ei)
Você passava
(Psiu…)
Na calçada
Te achei
Uma graça
E já fui à caça
Você vinha vindo caminhando linda e depressa
Que presa!
Eu previa tudo
Dali de cima do viaduto
Do chá
E você me topou, eu pensei:
– Puxa,
Ganhei!
No ato eu fui muito apto
Achei que era fácil
Chamei logo um táxi
Ao som das buzinas
E foi tão rápido o rapto
Nem deu tempo de dizer não

Mother’s Heart (Coração Materno)

“Say what you want, oh my dearest,”
Said the loving peasant to the one he loved.
“For you I will steal, I will kill,
Though you cause me sorrow and pain, my beloved.
I just want to prove I adore you,
And worship your being, and for you I sigh.
So say what you want, I implore you,
For me it won´t matter to kill or to die.”

And she coyly answered this way:
“If you love me as much as you say,
If you´re madly in love, then depart,
Go and bring to me your mother´s heart.”
But believing in what he was told,
He ran fast as a flash down the road.
And his dear became so stupefied
That she fell on the pathway and cried.

The peasant enters the cabin,
In front of the altar his mother he sees;
Then he, the demon, starts stabbing
The breast of the lady, who prayed on her knees.
He cuts out her heart, that´s bleeding,
The heart that he wanted, all other hearts above,
And shouts with a voice full of pleading:
“Victoria! Victoria! Here´s my proof of love.”

He was coming back running again,
When he tumbled and broke one leg then.
And his poor mother´s heart fell and rolled
Away from his hard hands down the road.
So a voice echoed under the sun:
“Are you hurt, oh my poor darling son?
Come embrace me, darling, I´m still here,
Come embrace me, I´m still yours, my dear.”

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Disse um campônio à sua amada:
“Minha idolatrada, diga o que quer.
Por ti vou matar, vou roubar,
Embora tristezas me causes, mulher.
Provar quero eu que te quero,
Venero teus olhos, teu porte, teu ser.
Mas diga tua ordem, espero,
Por ti não importa matar ou morrer”.

E ela disse ao campônio, a brincar:
“Se é verdade tua louca paixão,
Parte já e pra mim vai buscar
De tua mãe inteiro o coração”.
E a correr o campônio partiu;
Como um raio na estrada sumiu.
E sua amada qual louca ficou,
A chorar na estrada tombou.

Chega à choupana o campônio;
Encontra a mãezinha ajoelhada a rezar.
Rasga-lhe o peito o demônio,
Tombando a velhinha aos pés do altar.
Tira do peito sangrando
Da velha mãezinha o pobre coração,
E volta a correr proclamando:
“Vitória! Vitória! Tem minha paixão”.

Mas em meio da estrada caiu
E na queda uma perna partiu,
E à distância saltou-lhe da mão
Sobre a terra o pobre coração.
Nesse instante uma voz ecoou:
“Magoou-se, pobre filho meu?
Vem buscar-me, filho, aqui estou,
Vem buscar-me que ainda sou teu!”

Letra e música de Vicente Celestino, 1937

Ajoelha e Reza

E aí, ele disse pra mim
Como vai?
E aí, eu me disse taí
Minha chance
Respondi
Tudo bem e você onde vai?
Foi daí
Que saímos dali prum romance

E de repente na nossa história
De amor e de glória
Ele vem e me agarra,
eu me amarro
ele ajoelha e reza
E então me confessa

Que tá na maior paixão
e nunca esteve assim
Nem sente seus pés no chão
E até se realça por causa de mim

E assim, o que ele me faz
Pode ser
Pode sim, pode até parecer uma cena
Mas pra mim, é uma cena real
Radical!
Tão real, que parece igual no cinema

E nesse filme de amor e ventura
Verdade e mentira
um pornô com ternura
Ele vem e se atira,
eu morro
E depois me comovo
quando me diz de novo

Que tá na maior paixão
e nunca esteve assim
Nem sente seus pés no chão
E até se realça por causa de mim

E assim, o que ele me faz
Pode ser
Pode sim, pode até parecer uma cena
Mas pra mim, é uma cena real
Radical!
Tão real, que parece igual no cinema

E de repente na nossa história
De amor e de glória
Ele vem e me agarra,
eu me amarro
ele ajoelha e reza
E então me confessa

Que tá na maior paixão
e nunca esteve assim
Nem sente seus pés no chão
E até se realça por causa de mim
Tá na maior paixão
e nunca esteve assim
Nem sente seus pés no chão
E até se realça por causa de mim
Tá na maior paixão
e nunca esteve assim
Nem sente seus pés no chão
E até se realça por causa de mim

Tá na maior paixão

Roupa

Tua veste é como o penacho
Que reveste o pássaro macho

Tua roupa é tua plumagem
E plumagem pouca é bobagem

Por isso, meu amor
Te produz
seduz
reluz
na rotina do cotidiano
na retina dos dias medianos

Pois a roupa é tua imagem
Tua linhagem
Tua linguagem
A roupa é tua mensagem

Pois a roupa fala
não cala
E tudo que se pensa e diz
Na roupa se diz e pensa
Por isso é que se dispensa
Cuidado com a aparência

Pois as aparências não enganam
não empanam
As aparências emanam
o que é real e humano

E em cada peça de baixo
E em cada peça de cima
De cima abaixo
De baixo acima
Dos pés à cabeça
Da cabeça aos pés
A roupa é o que te expressa
A roupa é o que és

Por isso, meu amor
Instaura o teu modelo e tua moda
E a aura do que é belo em tua roda

Pois a roupa
é tua outra
pele

Pele
e embalagem da pele
a roupa
é embalagem e conteúdo
Embalagem da beleza
embalagem de tudo

Por isso, não guarda, não poupa
Investe no teu guarda-roupa
Investe no que te veste
Investe no que te despe
Pois ainda mais que vestir
O que a roupa faz é despir

A roupa não cobre
Descobre
A roupa não vela
Revela
A roupa te mostra
De todos os ângulos
De frente, de costas
Nos flancos

Por isso, te desinibe
Pois a roupa te conceitua
A roupa te exibe
A roupa te deixa nua

Mille Baci


de “Rita Lee”, de Rita Lee

1993_Rita_Lee_1024

Amami se vuoi,
Tienimi se puoi
Braccia, labbra, faccia, mani, piedi.
Sii benvenuto;
Tutto, baby, tutto,
Baby, ti do tutto se lo chiedi.

Ma dammi dammi dammi mille baci
E cento e mille e cento e mille e cento.
Cosi tra mille baci ed abbracci,
Godiamici la vita e il momento.

Vieni per saziarmi,
Per accarezzarmi
I peli e la pelle più segreta.
Tu, amore mio,
Mi sembri un Dio;
Fammi sentire come il poeta.

Ma dammi dammi dammi mille baci
E cento e mille e cento e mille e cento.
Cosi tra mille baci ed abbracci,
Godiamoci la vita e il momento.

Nossos Momentos


de “Tetê Espíndola”, de Tetê Espíndola

Sozinhos e juntos
Na dor e no prazer,
Nas fases difíceis
E nas fáceis de viver,
Tivemos, dia a dia,
Tristezas e alegrias,
Belezas, fantasias
E tantas outras coisas em comum.

Em busca dos sonhos
De felicidade e dois,
Por vezes estranhos
À realidade a dois,
Nós temos, mais que um dia,
Momentos de poesia
Tão claros e tão raros,
Que neles nós vivemos algo incomum.

Neles tudo mais para;
Nada mais se compara
Ao par, ao casal
Que somos nós dois,
Sem par, sem igual,
Nossos momentos não têm antes nem depois.

Sozinhos e juntos
Na dor e no prazer,
Nas fases difíceis
E nas fáceis de viver,
Tenhamos outras vezes
Momentos como esses,
Instantes transcendentes,
Instantes em que somos como dois em um.

Serenata do Prado (Meadow Serenade)

Serenata do Prado (Meadow Serenade)

Eu ouço folhas em farfalhos
Trinados, trilos
Onde voa a cotovia
E o pintassilgo silva sem parar

Eu ouço coros de chocalhos
Cri-cri de grilos
Onde a aranha se arranha
E o sanhaço se assanha com seu par

E eu ouço a vibração da brisa
Na flora feliz
Colibris colibrisam em flores de liz
Há música no ar, minha mente voa
Onde a serenata soa
Na madrugada gris

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(George Gershwin e Ira Gershwin)

I hear the rustle of the trees
From the nearby thicket
Where the oriole is calling
And the bobolink is falling
For his mate

I hear the sighing of the breeze
And the chirping cricket
Where the whippoorwill is wooing
And the katydid is cooing
To his Kate

And I can hear a cowbell chorus
That’s now being played
Hummingbirds humming for us
From deep in the shade

There’s music in my heart
As my thoughts go winging
Where the spring is ever singing
That meadow serenade

Meu ABC

Hello, my dear
No que posso servir?
Pode me usufruir
So nice to see you here
Qu´est-ce que vous fait plaisir?

Que tal ma belle
Una luna de miel
Na nossa louca Babel?
Endiabrados no céu
Like two angels from hell

Com você, meu ABC
Je suis enchanté con te
Con te, à coté
Em turnê por você

Mon amour
Baixa a luz do abajur
E beija a espada de Artur
Espalha em mim seu glamour
Minha belle de jour

Pra ser seu rei
Me escravizarei
So, lady, stay, lady, lay
Adesso io direi
Baby, I just want to play

Com você, meu ABC
Je suis enchanté con te, con te à coté
Em turnê por você

Niña
Que canto em la canción
Seja minha
Non, non, non me dire non
Yo te quiero
Con obscena obceción
El dia entero
On and on and on and on

Bem-bom


de “Eduardo Gudin e Vânia Bastos”, de Eduardo Gudin e Vânia Bastos

É
Só tem que ser é com você
Porque senão não tem porquê
Porque seu tom é tão pro meu
E eu sou mais você e eu

Vem me cantar, me tentar
Vem me tocar, me pegar
Como uma canção de amor
Que nasce agora no ar
Com o frescor da brisa, o calor
A cor do teu olhar
Que me alisa a pele em plena flor
Pra te dar
Meu amor, meu bem
Vem mais pra cá, está demais
Mais vai ficar pra lá de bom
Em corpo, em cor, em som de vai
E vem que tem, cai no bem-bom

Vem me cantar, me tentar
Vem me tocar, me pegar
Com uma canção de amor
Que nasce agora no ar
Com o frescor da brisa, o calor
A cor do teu olhar
Que me alisa a pele em plena flor
Pra te dar
Meu amor, meu bem

Vem me amar, me chamar
Vem me pegar, me levar
A uma festa a dois
É só o que resta pra nós
Tem tanta gente, a gente nem vê
A hora de ficar
Eu e você, nós dois, como tem que ser
Sem pensar
Em depois, enfim

Só mesmo a gente noite adentro
Dentro e fora, agora sim
O nosso amor vai ser assim
Eu pra você, você pra mim

Flecha

Ela surgiu, total

Foi tão sutil, brutal

O que eu senti

Ela me viu – parou

Depois seguiu – passou

Não esqueci

Uma beleza o que faz

De vê-la se deseja mais

Ela sumiu dali

E no vazio me vi

E não foi só

Ela ficou em mim

Mas só ficou assim

Eu fiquei só

Meninas, tinha até demais

Ela mais linda que as demais

E a sua beleza dança

Na minha cabeça dança

Em vão

Em vão o relance me atravessa

Lança sua flecha

(Em meu coração)

Mas vê-la uma vez

Não é nenhuma vez

Uma, jamais

Desejo tê-la dez

Vezes dez vezes dez

Vezes e mais

De frente, flancos e de trás

De qualquer ângulo apraz

A Minha Lógica

Com
Aqueles bons e velhos dons
De uns joões e outros johns
Juntei palavra, cor e som
Com a cabeça e o coração
E certamente com tesão
Armei no ar uma canção
Harmoniosa de artesão
Da arte que tem bossa

Mas você
Com desdém
Vem com essa prosa
– Num-sei-quê,
Num-sei-quem –
Que já é famosa
Ora, ora, ora
Pouco faz
E desfaz
Muito de quem faz e elabora

É
Que a sua ótica não vê
A minha lógica, nem crê
Na onda mágica, o bom
Da matemática do som
De uma música no ar
Arquitetura a flutuar
No ato puro de tocar
Samba, canção ou rock

Se você
É capaz
Cante, dance, toque
Mas não dê
Nunca mais
Um tão tonto toque
Se o seu palpite
Infeliz
Me maldiz
Me diz bem quão chão é o seu limite

Sim
Que a mim é dado e cabe a mim
O mais sonoro e claro sim
À arte, à vida, à criação
Tudo que eu canto com paixão
E tal clareza que transluz
Com vida própria e traduz
A própria vida e traz à luz
Seus sonhos escondidos

Pra você
Me ouvir
Meu rapaz, se deixe
Envolver
Seduzir
Ou em paz me deixe
Antes não evite
Venha cá
Vamos lá
Ao deleite, aceite o meu convite

Pois
Acima dessas discussões
Só a beleza das canções
É o que ficará depois
De tanto quanto se compôs
Brilhando como essa voz
Voando e ecoando em nós
Em pleno espaçotempo