Arquivo da categoria: Canções

Meus Olhos Só Vêem Você (I Only Have Eyes For You)

Tá o céu estrelado?
Eu não sei se tá claro ou nublado
Pois meus olhos só vêem você

A lua ascendeu
Mas eu não vejo nada no céu
Pois meus olhos só vêem você

Não sei se estamos num jardim ou
Numa avenida, num auê

Tô aqui, cê também
Mil pessoas talvez vão e vêm
Todos somem porém, porque
Os meus olhos só vêem você

Escrita em 2012

*

I Only Have Eyes For You

(Harry Warren e Al Dubbin)

Are the stars out tonight? 
I don’t know if it’s cloudy or bright 
‘ Cause I only have eyes for you


The moon may be high 
But I can’t see a thing in the sky 
‘ Cause I only have eyes for you 

I don’t know if we’re in a garden 
Or on a crowded avenue
 
You are here, so am I 
Maybe millions of people go by 
But they all disappear from view 
And I only have eyes for you

Noite e Dia (Night and Day)

Noite e dia, só tu, meu bem,
Sob a Lua e sob o Sol não há mais ninguém.
Longe ou perto, coração,
Não importa onde estejas, não,
Eu penso em ti noite e dia.

Dia e noite, por que será
Que a paixão por ti me segue por onde eu vá?
No rumor das ruas, oh,
No silêncio do meu quarto só,
Eu penso em ti, noite e dia.

Noite e dia, bem fundo, ai de mim,
Uma fome tamanha teima, queima e não sai de mim.
Pra ter fim o meu sofrer,
Deixa te fazer amor enquanto eu viver,
Dia e noite, noite e dia.

Escrita em 2012

*

Night and Day

Night and day, you are the one,
Only you beneath the moon and under the sun.
Whether near to me or far,
It´s no matter, darling, where you are,
I think of you day and night.

Night and day, why is it so
That this longing for you follows wherever I go?
In the roaring traffic´s boom,
In the silence of my lonely room,
I think of you night and day.

Night and day, under the hide of me
There´s an, oh, such a hungry yearning burning inside of me.
And its torment won´t be through,
Till you let me spend my life making love to you,
Day and night, night and day.

Common Place (Lugar Comum)

Down by the sea
A common place
Commencing a journey to
The edge of another space

Down by the sea
And all seas are one
Commencing a journey to
Inside the full deep of blue

The waters will splash
The wind, it will blow
The fire of the sun
The salt of the Lord

And all things, they come
And all things, they go
Go back to that place
From where all things flow

Escrita em 2014

*

Lugar Comum

(Gilberto Gil e João Donato)

Beira do mar
Lugar comum
Começo do caminhar
Pra beira de outro lugar

Beira do mar
Todo mar é um
Começo do caminhar
Pra dentro do fundo azul

A água bateu
O vento soprou
O fogo do sol
O sol do senhor

Tudo isso vem
Tudo isso vai
Pro mesmo lugar
De onde tudo sai

Dês

Dês que você
Ficou aqui,
A mais ninguém
Com quem saí
Eu desejei
Com tal calor
E dediquei
Tão doce amor.

Querer-lhe bem
Assim me faz
Querer também
A quem lhe apraz,
E até por seu bem
Eu tenho afeição,
Que nem por seu pai
E por seu irmão.

Como o sol que desponta,
Esse amor me ilumina;
Nada mais me encanta
Que você, menina.

Canções engajadas

Maria do Céu

Se a Nasa me convidasse
Para um passeio no espaço
Eu viajaria ao léu
Ao lado das lamparinas
Das estrelas peregrinas
Na romaria do céu

E teria o visual
Belíssimo, celestial
Da Terra azul no painel
Qual uma bola boiando
Da qual me distanciando
Me aproximaria do céu

E de repente, de um salto
Que a nave desse pro alto
Subiria sob o véu (*)
Que a chuva de luz de prata
Caindo que nem cascata
Derramaria do céu

Ante o turbilhão de astros
De planetas e desastres
E cometas pra dedéu (de déu em deu)
Meu coração astronauta
Lá do alto exclamaria:
Viche Maria do céu!

Variantes:

(*) Eu me cobriria com o véu
Da chuva de luz de prata
Caindo que nem cascata
Que se derramaria do céu

()Meu coração na vertigem ()
Da visão exclamaria:
Virgem Maria do céu!

*

Canção pra Amazônia

Maior floresta tropical da Terra
A toda hora sofre um duro golpe.
Contra trator, corrente, motosserra,
A bela flora clama em vão: “Me poupe!”
Porém tem uma gente surda e cega
Para a beleza e o valor da mata,
Embora o mundo grite que já chega
Pois é a vida que o desmate mata.

Mais vasta ainda todavia é a devastação e o trauma:
Focos de fogo nos sufocam fauna, flora e até a alma.

Amazônia!
Razão de tanta insânia e tanta insônia!
Amazônia!
Objeto de omissão e ação errônea!
Amazônia!
É sem igual, sem plano B nem clone a
Amazônia!

Desmonte pra desmate e desvario
Liberam a floresta no Brasil
Pro agrobiz e pra mineração,
Pra hidrelétrica, pra exploração.
Recompensando o crime ambiental,
Desregulando o clima mundial,
Negam ciência, incêndio e derrubada.
Negando, vão passando a boiada.

Que ignorância, repugnância, a cada lance, a cada vídeo!
Que grande bioecoetnogenomatrisuicídio!

Amazônia!
Abaixo o (des) governo que abandone a
Amazônia!
Não mais a soja, o pasto que seccione a
Amazônia!
Não mais a carne, o prato que pressione a
Amazônia!

Dos povos da floresta sob pressão,
O indígena, seu grande guardião,
Em comunhão com ela há milênios,
Nos últimos e trágicos decênios
Vem vendo a mata sendo ameaçada
E cada terra deles atacada
Por levas de peões de poderosos
Com planos de riqueza horrorosos.

É invasão!, destruição!, ódio a quem são seus empecilhos!
Eles não pensam no amanhã nem do planeta nem dos próprios filhos!

Amazônia!
Abaixo o madeireiro que detone a
Amazônia!
Abaixo o garimpeiro que infeccione a
Amazônia!
Abaixo o grileiro que fraciona a
Amazônia!

Mais valiosa que qualquer minério,
Tragada pela mata que transpira,
A água que evapora sobe e vira
De veio subterrâneo a rio aéreo.
Mais volumosos do que o Amazonas,
Os rios voadores distribuem
Seus límpidos vapores que afluem
Ao Centro-Sul, chegando noutras zonas.

Então como é que na floresta mais chuvosa o fogo avança,
E ardendo em chamas nela queima de futuro uma esperança?

Amazônia!
Não mais um mandatário que intencione a
Amazônia,
Nem mais um empresário que ambicione a
Amazônia
Pra mais um ciclo de nação-colônia.
Amazônia!

Visão monumental que maravilha
Obra da natureza que exubera
De cores, seres, cheiros, som, de vida
Tão pródiga, tão pura, tão diversa
A fábrica de chuva mais prolixa
A máquina do mundo mais complexa
O doceanoverdeparaíso
O coração pulsante do planeta

Quinze mil árvores contudo agora estão indo pro chão.
Quinze mil vidas derrubadas só durante o tempo desta canção!…

… Amazônia…
Que nem desmatamento desmorone a
Amazônia!
E nem desmandamento deixe insone a
Amazônia!
E nem o aquecimento desfuncione a
Amazônia!

O que o índio viu, previu, falou,
Também o cientista comprovou.
Desmate aumenta, o clima seco aquece
A mata, o céu e a Terra, que estarrece.
Esse é o recado deles, lá no fundo:
Salve-se a selva ou não se salva o mundo!
Pra não torná-los um inferno, um forno,
Salve a Amazônia do ponto sem retorno!

Será que ainda tá em tempo ou o timing disso já perdemos?
Pois, evitemos pelo menos os eventos mais extremos.

Amazônia…
Quando afinal o homem dimensione a
Amazônia,
Que venha a ter valido a nossa insônia
– Amazônia –,
Enquanto nos encante e emocione a…
Amazônia!

Salve a Amazônia!
Salve-se a selva ou não se salva o mundo!

O Relógio do Juízo Final

No mar, no rio, na lagoa, a água clara;
No céu mais limpo, o pôr mais lindo, a imagem rara;
E um ar tão puro que ninguém imaginara.
Por um período breve apenas, anormal,
Na quarentena humana inédita, afinal,
Medrou na cena urbana a vida natural.

E enquanto um índio dono de um saber profundo
Propaga ideias pra adiar o fim do mundo,
Um cara-pálida fascista em potencial,
Negativista violento do real,
Tão virulento quão pandêmico-viral,
Acelera o Relógio do Juízo Final.

Quando é que vamos aprender a diferença
Entre quem quer que a Terra-Gaia lhe pertença
E quem pertence a ela, é dela de nascença?
Somos do mal, o mal da Terra, não o sal.
Matamos a metade do reino animal,
Tamos rapando o vegetal e o mineral.

Se um povo dito primitivo e vagabundo
Trabalha e dança pra adiar o fim do mundo,
A tal da civilização ocidental,
“Desenvolvida, evoluída, racional”,
Queima e arrasa a própria casa, com quintal,
E apressa o Relógio do Juízo Final.

Quando é que vamos nos guiar por uma lógica
Mais ecológica do que mercadológica
Ou econômica, por uma bio-lógica?
Ver que não somos uma espécie central
Na biodiversidade da Terra, da qual
Nós temos sido parasitas, na real.

Enquanto um quilombola de onde é oriundo
Batuca e samba pra adiar o fim do mundo,
O ruralista duma escola colonial,
O pecuarista numa escala industrial,
Monocultura e racismo ambiental,
Adiantam o Relógio do Juízo Final.

E como para o homem vai haver escape se
A emissão de gases atingiu um ápice,
E há previsão de que a Amazônia colapse?
E tá na gênese um “Apocalypse Now”,
Em que a temperatura média mundial
Aumenta igual ou mais que um e meio grau?

Enquanto um cientista de um labor fecundo
Emite alertas pra adiar o fim do mundo,
Negacionistas do aquecimento global,
Negociantes do petróleo, do pré-sal,
Fiéis à fé neoliberal do capital,
Aceleram o Relógio do Juízo Final.

Quando é que vamos acordar em quanto é vão
Um crescimento que produz destruição?
Que não há redenção sem distribuição,
Sem queda na desigualdade social
E na pegada de carbono atual,
E sem um “bem viver” em um “novo normal”?

Enquanto uma ativista foda, que vai fundo,
Protesta e luta pra adiar o fim do mundo,
A companhia múlti, pan, transnacional,
Qual o sinistro antiministro ambiental,
Qual o grileiro, o garimpeiro ilegal,
Acelera o Relógio do Juízo Final.

Pensando nisso tudo, em hora tão dramática,
Temendo nossa sina trágica e errática,
Me assombra a sombra de uma mutação climática
E duma guerra cibernética fatal,
Dum uso mau da inteligência artificial
E dum conflito nuclear final, total.

Se tudo, entanto, pode estar por um segundo,
Eu canto cantos pra adiar o fim do mundo,
Pra me reconectar à mãe original,
Recontactar minha memória ancestral
E ter o júbilo de estar vivo afinal,
Atrasando o Relógio…
Atrasando o Relógio…
Atrasando o Relógio… do Juízo Final.

The Doomsday Clock (O Relógio do Juízo Final)

Clean were the waters in the river, in the sea;

A lovely blue sky sunset was a sight to see; 

And none imagined air so pure and oh so free.

For just a brief abnormal span we’d never seen,

In social distancing, in human quarantine,

Like never Nature thrived in many urban scenes.

And while a native sage with wise and holy words

Transmits ideas to delay the end of the world,

A fascist pale-face who can´t even think or feel

Denies with violence what is right and what is real,
And all he does and says with virulence some way

Daily speeds up the Doomsday Clock, the Judgment Day.

When will we learn how different in their worth

Are those who strive to own our Gaia, our sweet Earth,

From those who just belong to her, ever since birth?

We are the evil of the Earth and not the salt.           

We killed most animals and yes we still assault

The realms of trees and minerals to a fault.

While peoples said to be still primitive do work
And dance so lively to delay the end of the world,

So modern, the civilization of the West,

“Developed, rational, evolved”, just the best,

Is burning, razing its own house and by the way

Now is hurrying the Doomsday Clock, the Judgment Day.

Oh when will we be guided by a logic
More ecological and cool than economical, 
And above all by what we´d call a bio-logic?   

And see that in the Earth´s bio-diversity 
We´re not the central species, not at all, 

But we´ve been parasites and that´s reality.

While in their homeland rural blacks have danced and whirled,
And go play samba to delay the end of the world,

The livestock farmer´s and the soy landowner´s ways,

With their colonial school and eco-racist sway,

Their monoculture and industrial scales, they

Always hurry the Doomsday Clock, the Judgment Day.

And will man manage any way out of the traps,
If gas emissions reach a peak and if perhaps

All Amazonia is forecast to collapse?

If an apocalypse begins in times like these,

When average global temperature comes to increase,

Oh God forbid, by more than one point five degrees?

While scientists of fruitful work who love the world

Are raising warnings to delay the end of the world,

Oil dealers and loud neoliberals who stay

Denying global warming, lying anyway,

With faith in capital do prey from June to May,

Thus they speed up the Doomsday Clock, the Judgment Day.

Oh when will we wake up and see how vain

Is growth that brings destruction with such pain,

No income distribution, no release from chains,

No drop at all in social inequality,

Nor in the current carbon footprint that we see,

No “living well” in a “new normal”, clean and free?          

And while a kick ass activist, a damn good girl  ,      

May cry and get up to delay the end of the world,    

The multi, pan, transnational company

And the environment-adverse un-ministry,       

Land-grabbers and all miners who laws won´t obey,

They all speed up the Doomsday Clock, the Judgment Day.

Thinking about it all in this dramatic hour,

Fearing this tragic and erratic fate of ours,

I’m haunted by the phantoms of climate mutations,

And of the use of AI with such vile vocation,

And of a fatal cyber war that some predict,

And of the end atomic conflict will inflict.

If all is on the verge of ending as I´ve heard,   

I sing and play songs to delay the end of the world,

To reconnect to Mother Nature naturally,

And to recontact my ancestral memory,

To feel the joy to be alive and to delay

And to slow down the clock…

And to slow down the clock…

And to slow down the clock…

And to slow down the Doomsday Clock, the Judgment Day.

O Relógio do Juízo Final

No mar, no rio, na lagoa, a água clara;
No céu mais limpo, o pôr mais lindo, a imagem rara;

E um ar tão puro que ninguém imaginara.
Por um período breve apenas, anormal,
Na quarentena humana inédita, afinal,
Medrou na cena urbana a vida natural.

E enquanto um índio dono de um saber profundo
Propaga ideias pra adiar o fim do mundo,
Um cara-pálida fascista em potencial,
Negativista violento do real,
Tão virulento quão pandêmico-viral,
Acelera o Relógio do Juízo Final.

Quando é que vamos aprender a diferença
Entre quem quer que a Terra-Gaia lhe pertença
E quem pertence a ela, é dela de nascença?
Somos do mal, o mal da Terra, não o sal.
Matamos a metade do reino animal,
Tamos rapando o vegetal e o mineral.

Se um povo dito primitivo e vagabundo
Trabalha e dança pra adiar o fim do mundo,
A tal da civilização ocidental,
“Desenvolvida, evoluída, racional”,
Queima e arrasa a própria casa, com quintal,
E apressa o Relógio do Juízo Final.

Quando é que vamos nos guiar por uma lógica
Mais ecológica do que mercadológica
Ou econômica, por uma bio-lógica?
Ver que não somos uma espécie central
Na biodiversidade da Terra, da qual
Nós temos sido parasitas, na real.

Enquanto um quilombola de onde é oriundo
Batuca e samba pra adiar o fim do mundo,
O ruralista duma escola colonial,
O pecuarista numa escala industrial,
Monocultura e racismo ambiental,
Adiantam o Relógio do Juízo Final.

E como para o homem vai haver escape se
A emissão de gases atingiu um ápice,
E há previsão de que a Amazônia colapse?
E tá na gênese um “Apocalypse Now”,
Em que a temperatura média mundial
Aumenta igual ou mais que um e meio grau?

Enquanto um cientista de um labor fecundo
Emite alertas pra adiar o fim do mundo,
Negacionistas do aquecimento global,
Negociantes do petróleo, do pré-sal,
Fiéis à fé neoliberal do capital,
Aceleram o Relógio do Juízo Final.

Quando é que vamos acordar em quanto é vão
Um crescimento que produz destruição?
Que não há redenção sem distribuição,
Sem queda na desigualdade social
E na pegada de carbono atual,
E sem um “bem viver” em um “novo normal”?

Enquanto uma ativista foda, que vai fundo,
Protesta e luta pra adiar o fim do mundo,
A companhia múlti, pan, transnacional,
Qual o sinistro antiministro ambiental,
Qual o grileiro, o garimpeiro ilegal,
Acelera o Relógio do Juízo Final.

Pensando nisso tudo, em hora tão dramática,
Temendo nossa sina trágica e errática,
Me assombra a sombra de uma mutação climática
E duma guerra cibernética fatal,
Dum uso mau da inteligência artificial
E dum conflito nuclear final, total.

Se tudo, entanto, pode estar por um segundo,
Eu canto cantos pra adiar o fim do mundo,
Pra me reconectar à mãe original,
Recontactar minha memória ancestral
E ter o júbilo de estar vivo afinal,
Atrasando o Relógio…
Atrasando o Relógio…
Atrasando o Relógio… do Juízo Final.

Maria do Céu

Se a Nasa me convidasse

Para um passeio no espaço

Eu viajaria ao léu

Ao lado das lamparinas

Das estrelas peregrinas

Na romaria do céu

E teria o visual

Belíssimo, celestial

Da Terra azul no painel

Qual uma bola boiando

Da qual me distanciando

Me aproximaria do céu

E de repente, de um salto

Que a nave desse pro alto

Subiria sob o véu         

Que a chuva de luz de prata

Caindo que nem cascata

Derramaria do céu

Ante o turbilhão de astros

De planetas e desastres

E cometas pra dedéu                   

Meu coração astronauta

Lá do alto exclamaria:    

Viche Maria do céu!

Uma Vez, Uma Voz

Uma vez

Num lugar

Há muito tempo atrás

Uma voz

Pelo ar

O vento e nada mais

O luar

E bilhões

De brilhos no alto astral

No olhar

As visões

De um homem ancestral

De vagar

Devagar

O tempo se desfaz

Onde o ar

Som lunar

Momento que me apraz

Sombra e luz

Tons azuis

Penumbra prateada

Sonhos mil

No vazio

Da vista estrelada

Uma vez

Num lugar

A história se desfaz

Através

Do luar

Mistérios, nada mais

Escrita nos anos 1980

Do Guarani ao Guaraná

Por nós não vermos como natural
A sua morte sociocultural
Em outros termos, por nos condoermos
E termos como belo e absoluto

Seu contributo do tupi ao tucupi, do guarani ao guaraná.

Demarcação já!
Demarcação já!

Pro índio ter a aplicação do Estatuto
Que linde o seu rincão qual um reduto,
E blinde-o contra o branco mau e bruto
Que lhe roubou aquilo que era seu,

Tal como aconteceu, do pampa ao Amapá,

Demarcação lá!
Demarcação já!

Blablablá

Sem mais embromação na mesa do Palácio,
Nem mais embaço na gaveta da Justiça,
Nem mais demora nem delonga no processo,
Nem retrocesso nem pendenga no Congresso,
Nem lengalenga, nhenhenhém nem blablablá!
Demarcação já!
Demarcação já!

Já que “tal qual o negro e o homossexual,
O índio é ´tudo que não presta´”, como quer
Quem quer tomar-lhe tudo que lhe resta,
Seu território, herança do ancestral,
E já que o que ele quer é o que é dele já,
Demarcação, “tá”?
Demarcação já!

Ornitologia

Há aves que avoam como naves
Há aves que povoam, rasgam o ar
Algumas migram pelo mar
Umas rebrilham tais e quais metais
Umas resistem pelos pantanais
Algumas nem existem mais
E tem mais
Umas tem plumas ornamentais
Umas tem timbres suaves

Assim o passarinho é das aves
A ave da mais leve asa veloz
A ave da mais bela voz
Ávida de canto e encantação
Ávida de vôo e renovação
De seda e de sedução
Revoa, voa, soa e ressoa
Ave, ave!
Avião!

Doce Loucura

Feito Pra Acabar – 10 anos

Doce Loucura

Não quero coco nem cocada,
Não quero trufa nem pudim nem strudel,
Não quero bomba nem bom-bom em celofane.

Quero ficar me lambuzando
Em longos beijos, lânguidas lambidas,
Entre seus lábios, suas pernas, baby-honey.

Doçura é o seu amor, amor:
Não há bom-bom tão bom, com tal sabor.
Eis o mel melhor, o mel dos méis:
Amor da cuca até os pés.

Não quero ácido nem álcool,
Não quero êxtase nem tapioca,
Não quero gota na jujuba nem no “beize”…

Quero pirar com seu sorriso
E por seu corpo perder o juízo,
Transando sexo com você; you drive me crazy.

Loucura é o seu amor, amor:
Nenhum barato pode ser maior.
Eis o coquetel dos coquetéis:
Amor do coco até os pés.

Não quero doce,
Não quero bala,
Não quero coca nem tampouco chocolate.

Loucura, eu quero seu amor – amor:
Nenhum barato pode ser maior.
Eis o coquetel dos coquetéis:
Amor do coco até os pés.

Rara

Feito Pra Acabar – 10 anos

Rara

Como narrar a vinda
Da vida à vida mais que linda?

… E sussurrar a sutil melodia
E com a fala macia

Seu nome no seu ouvido.
É muito amor envolvido.

Como narrar a lenda
De um novo ser em nossa senda?

… E me amarrar a alguém minha cara
Tal qual à mãe me amarrara.

E ver jorrar a beleza
De vir à luz uma alteza,

Alguém que em nós engendramos,
E em quem nós continuamos…

*

Choro-Jazz Song

It is one, it is two, it is three, it is four, it is jazz
What I have, what you have, what we have, what she has, what he has
It has never gone, is never done, has never passed
It will forever live, forever give, forever last

It is cool, it is hot, it is free, it is more, it is jazz
What a joy, what a jam, what a gem, what a cream, what a class
It is a real gift, a real gig, a real gas
It is one, it is two, it is three, it is four, it is jazz

Uma Lenda do Reno (Rheinlegendchen)

Eu ceifo às vezes
Na margem do Reno.
Meu bem vem às vezes
Comigo ao terreno .

De que serve a ceifa,
Se a foice é ruim?
Meu bem de que serve,
Se longe de mim?

Na água do Reno,
Eu jogo um anel
De ouro, que rola
No rio ao léu.

Na água do Reno,
O anel a rolar
Vai indo, correndo
Pro fundo do mar.

O anel cai na boca
De um peixe e eu sei
Que o peixe é servido
Na mesa do rei,

Do rei que pergunta
De quem é o anel;
Meu bem lhe responde:
“O anel é só meu” .

Meu bem sai correndo
Os montes enfim,
Trazendo de volta
O anel para mim.

Na água do Reno,
Então como eu,
Não deixe também de
Jogar seu anel!

*

Rheinlegendchen

Bald gras ich am Neckar,
Bald gras ich am Rhein,
Bald hab ich ein Schätzel,
Bald bin ich allein!

Was hilft mir das Grasen,
Wann die Sichel nicht schneidt,
Was hilft mir ein Schätzel,
Wenn´s bei mir nicht bleibt!

So soll ich denn grasen
Am Neckar, am Rhein;
So werf ich mein goldi-
Ges Ringlein hinein!

Es fliesset im Neckar
Und fliesset im Rhein,
Soll schwimmen hinunter
Ins tief Meer hinein!

Und schwimmt es das Ringlein,
So frisst es in Fisch!
Das Fischlein soll kommen
Aufs König sein Tisch!

Der König tät fragen,
Wem’s Ringlein sollt’ sein?
Da thät mein Schaz sagen:
“Das Ringlein g’hört mein!”

Mein Schäzlein thät springen
Berg auf und Berg ein,
Tät mir wiedrum bringen
Das Gold Ringlein fein!

Kannst grasen am Neckar,
Kannst grasen am Rhein!
Wirf du mir nur immer
Dein Ringlein hinein!

Música de Gustav Mahler e letra de autor anônimo
1893

*

É Assim Que Tu És (C’est Ainsi Que Tu Es)

Carne, d´alma enleada,
Cabeleira enrolada,
O pé correndo o tempo,
A sombra que se estende
Me murmura na têmpora.
Eis teu retrato, vês?
É assim que tu és.
Te escrever isso eu quero,
Pra que, já noite, aí
Tu creias ao dizeres
Que eu bem te conheci.

*

C’est ainsi que tu es
(Música de Poulenc, letra de Paul Eluard)

Ta chair, d’âme mêlée,
Chevelure emmêlée,
Ton pied courant le temps,
Ton ombre qui s’étend
Et murmure à ma tempe,
Voilà, c’est ton portrait,
C’est ainsi que tu es,
Et je veux te l’écrire
Pour que la nuit venue,
Tu puisses croire et dire,
Que je t’ai bien connue.

*

A Canção de Nana (Nanna´s Lied)

A Canção de Nana

Meu senhor, vim adolescente
Ao mercado do amor.
Me tornei experiente.
Era tanto mal,
Era um jogo tal,
Mas nem sempre eu fui uma flor…
(Afinal, também sou um ser humano.)

Felizmente, tudo logo passa –
Tanto a mágoa quanto o amor, tanto faz.
Cadê o pranto de ontem à noite?
Cadê o frio de um ano atrás?

Com o tempo, mais facilmente
Vai-se à banca do amor.
E se abraça um montão de gente.
Mas o coração
Fica frio e vão,
Se não poupa um pouco de calor.
(Afinal, todo estoque um dia chega ao fim.)

Felizmente, tudo logo passa –
Tanto a mágoa quanto o amor, tanto faz.
Cadê o pranto de ontem à noite?
Cadê o frio de um ano atrás?

Mesmo não sabendo pouco
Do negócio do amor,
Converter tesão num troco
Não é mole, pô.
Té aqui rolou.
Mas a idade chega, sim, senhor.
(Afinal, ninguém permanece adolescente sempre.)

Felizmente, tudo logo passa –
Tanto a mágoa quanto o amor, tanto faz.
Cadê o pranto de ontem à noite?
Cadê o frio de um ano atrás?

*

Nanna´s Lied
(Hanss Eisler, Kurt Weill e Bertolt Brecht)

Meine Herren, mit siebzehn Jahren
Kam ich auf den Liebesmarkt
Und ich habe viel erfahren.
Böses gab es viel
Doch das war das Spiel
Aber manches hab’ ich doch verargt.
(Schließlich bin ich ja auch ein Mensch.)

Gott sei Dank geht alles schnell vorüber
Auch die Liebe und der Kummer sogar.
Wo sind die Tränen von gestern abend?
Wo ist die Schnee vom vergangenen Jahr?

Freilich geht man mit den Jahren
Leichter auf den Liebesmarkt
Und umarmt sie dort in Scharen.
Aber das Gefühl
Wird erstaunlich kühl
Wenn man damit allzuwenig kargt.
(Schließlich geht ja jeder Vorrat zu Ende.)

Gott sei dank geht alles schnell vorüber, usw.

Und auch wenn man gut das Handeln
Lernte auf der Liebesmess’:
Lust in Kleingeld zu verwandeln
Ist doch niemals leicht.
Nun, es wird erreicht.
Doch man wird auch älter unterdes.
(Schließlich bleibt man ja nicht immer siebzehn.)

Gott sei dank geht alles schnell vorüber, usw.

*