Todos os posts de Carlos Rennó

Do Guarani ao Guaraná

Por nós não vermos como natural
A sua morte sociocultural
Em outros termos, por nos condoermos
E termos como belo e absoluto

Seu contributo do tupi ao tucupi, do guarani ao guaraná.

Demarcação já!
Demarcação já!

Pro índio ter a aplicação do Estatuto
Que linde o seu rincão qual um reduto,
E blinde-o contra o branco mau e bruto
Que lhe roubou aquilo que era seu,

Tal como aconteceu, do pampa ao Amapá,

Demarcação lá!
Demarcação já!

Todas Elas Juntas Num Só Ser [letra variante]

Não canto mais Bebete nem Domingas
Nem Xica nem Tereza, de Ben Jor;
Nem Drão nem Flora, do baiano Gil;
Nem Ana nem Luiza, do maior;
Já não homenageio Januária,
Joana, Ana, Bárbara, de Chico;
Nem Yoko, a nipônica de Lennon;
Nem a cabocla, de Tinoco e de Tonico;

Nem a tigresa, nem a vera gata,
Nem a branquinha, de Caetano;
Nem mesmo a linda flor de Luiz Gonzaga,
Rosinha, do sertão pernambucano;
Nem Risoflora, a flor de Chico Science –
Nenhuma continua nos meus planos.
Nem Kátia Flávia, de Fausto Fawcett;
Nem Anna Júlia, do Los Hermanos.

Só você,
Hoje eu canto só você;
Só você,
Que eu quero porque quero por querer.

Não canto de Melô pérola negra;
De Brown e Herbert, uma brasileira;
De Ari, nem a baiana nem Maria,
Nem a Iaiá também, nem a faceira;
De Dorival, nem Dora nem Marina
Nem a morena de Itapoã;
De Vina, a garota de Ipanema;
Nem Iracema, de Adoniran.

De Jackson do Pandeiro, nem Cremilda;
De Michael Jackson, nem a Billie Jean;
De Jimi Hendrix, nem a doce Angel;
Nem Ângela nem Lígia, de Jobim;
Nem Lia, Lily Braun nem Beatriz,
Das doze deusas de Edu e Chico;
Até das trinta Leilas de Donato
Até Layla de Clapton eu abdico.

Só você,
Canto e toco só você;
Só você,
Que nem você ninguém mais pode haver.

Nem a namoradinha de um amigo
E nem a amada amante de Roberto;
E nem Michelle-ma-belle, do beatle Paul;
Nem Isabel – Bebel – de João Gilberto;
E nem B.B., la femme de Serge Gainsbourg;
Nem, de Totó, na malafemmena;
Nem a Iaiá de Zeca Pagodinho;
Nem a mulata mulatinha de Lalá;

E nem a carioca de Vinicius
E nem a tropicana de Alceu
E nem a escurinha de Geraldo
E nem a pastorinha de Noel
E nem a namorada de Carlinhos
E nem a superstar do Tremendão
E nem a malaguenha de Lecuona
E nem a popozuda do Tigrão

Só você,
Hoje elejo e elogio só você,
Só você,
Que nem você não há nem quem nem quê.

De Haroldo Lobo com Wilson Batista,
De Mário Lago e Ataulfo Alves,
Não canto nem Emília nem Amélia:
Nenhuma tem meus vivas! e meus salves!
E nem Angie do stone Mick Jagger
E nem Roxanne, de Sting, do Police;
E nem a mina do mamona Dinho
E nem as mina – pá! – do mano Xis!

Loira de Hervê e loira do É O Tchan,
Lôra de Gabriel, o Pensador;
Laura de Mercer, Laura de Braguinha
(L´aura de Daniel, o trovador?);
Ana do Rei e Ana de Djavan,
Ana do outro rei, o do baião:
Nenhuma delas hoje cantarei:
Só outra reina no meu coração.

Só você,
Rainha aqui é só você,
Só você,
A musa dentre as musas de A a Z.

Se um dia me surgisse uma moça
Dessas que, com seus dotes e seus dons,
Inspiram parte dos compositores
Na arte das palavras e dos sons,
Tal como Madelleine, de Jacques Brel,
Ou como Madalena, de Martinho,
Ou Mabellene e a sixteen de Chuck Berry,
Ou a manequim do tímido Paulinho;

Ou como, de Caymmi, a moça pRosa
E a musa inspiradora Doralice;
Se me surgisse uma moça dessas,
Talvez há um tempo atrás não resistisse,
Mas, veja bem, meu bem, minha querida,
Eu não a trocaria uma só vez,
Nem uma vez, em toda a minha vida,
Por duas delas nem por mais de três!

Só você…
Mais que tudo é só você;
Só você…
As coisas mais queridas você é:

Você pra mim é o sol da minha noite;
É como a rosa, luz de Pixinguinha;
É como a estrela pura aparecida,
A estrela a refulgir, do Poetinha;
Você, ó flor, é como a nuvem calma
No céu da alma de Luiz Vieira;
Você é como a luz do sol da vida
De Stevie Wonder, ó minha parceira.

Você é para mim e o meu amor,
Crescendo como mato em campos vastos,
Mais que a gatinha para Erasmo Carlos;
Mais que a cigana pra Ronaldo Bastos;
Mais que a divina dama pra Cartola;
Que a domna pra De Ventadorn, Bernart;
Que a honey baby para Waly Salomão
E a funny valentine pra Lorenz Hart.

Só você,
Mais que tudo e todas, só você;
Só você,
Que é todas elas juntas num só ser.

Blablablá

Sem mais embromação na mesa do Palácio,
Nem mais embaço na gaveta da Justiça,
Nem mais demora nem delonga no processo,
Nem retrocesso nem pendenga no Congresso,
Nem lengalenga, nhenhenhém nem blablablá!
Demarcação já!
Demarcação já!

Já que “tal qual o negro e o homossexual,
O índio é ´tudo que não presta´”, como quer
Quem quer tomar-lhe tudo que lhe resta,
Seu território, herança do ancestral,
E já que o que ele quer é o que é dele já,
Demarcação, “tá”?
Demarcação já!

Ornitologia

Há aves que avoam como naves
Há aves que povoam, rasgam o ar
Algumas migram pelo mar
Umas rebrilham tais e quais metais
Umas resistem pelos pantanais
Algumas nem existem mais
E tem mais
Umas tem plumas ornamentais
Umas tem timbres suaves

Assim o passarinho é das aves
A ave da mais leve asa veloz
A ave da mais bela voz
Ávida de canto e encantação
Ávida de vôo e renovação
De seda e de sedução
Revoa, voa, soa e ressoa
Ave, ave!
Avião!

Doce Loucura

Feito Pra Acabar – 10 anos

Doce Loucura

Não quero coco nem cocada,
Não quero trufa nem pudim nem strudel,
Não quero bomba nem bom-bom em celofane.

Quero ficar me lambuzando
Em longos beijos, lânguidas lambidas,
Entre seus lábios, suas pernas, baby-honey.

Doçura é o seu amor, amor:
Não há bom-bom tão bom, com tal sabor.
Eis o mel melhor, o mel dos méis:
Amor da cuca até os pés.

Não quero ácido nem álcool,
Não quero êxtase nem tapioca,
Não quero gota na jujuba nem no “beize”…

Quero pirar com seu sorriso
E por seu corpo perder o juízo,
Transando sexo com você; you drive me crazy.

Loucura é o seu amor, amor:
Nenhum barato pode ser maior.
Eis o coquetel dos coquetéis:
Amor do coco até os pés.

Não quero doce,
Não quero bala,
Não quero coca nem tampouco chocolate.

Loucura, eu quero seu amor – amor:
Nenhum barato pode ser maior.
Eis o coquetel dos coquetéis:
Amor do coco até os pés.

Rara

Feito Pra Acabar – 10 anos

Rara

Como narrar a vinda
Da vida à vida mais que linda?

… E sussurrar a sutil melodia
E com a fala macia

Seu nome no seu ouvido.
É muito amor envolvido.

Como narrar a lenda
De um novo ser em nossa senda?

… E me amarrar a alguém minha cara
Tal qual à mãe me amarrara.

E ver jorrar a beleza
De vir à luz uma alteza,

Alguém que em nós engendramos,
E em quem nós continuamos…

*

Choro-Jazz Song

It is one, it is two, it is three, it is four, it is jazz
What I have, what you have, what we have, what she has, what he has
It has never gone, is never done, has never passed
It will forever live, forever give, forever last

It is cool, it is hot, it is free, it is more, it is jazz
What a joy, what a jam, what a gem, what a cream, what a class
It is a real gift, a real gig, a real gas
It is one, it is two, it is three, it is four, it is jazz

Uma Lenda do Reno (Rheinlegendchen)

Eu ceifo às vezes
Na margem do Reno.
Meu bem vem às vezes
Comigo ao terreno .

De que serve a ceifa,
Se a foice é ruim?
Meu bem de que serve,
Se longe de mim?

Na água do Reno,
Eu jogo um anel
De ouro, que rola
No rio ao léu.

Na água do Reno,
O anel a rolar
Vai indo, correndo
Pro fundo do mar.

O anel cai na boca
De um peixe e eu sei
Que o peixe é servido
Na mesa do rei,

Do rei que pergunta
De quem é o anel;
Meu bem lhe responde:
“O anel é só meu” .

Meu bem sai correndo
Os montes enfim,
Trazendo de volta
O anel para mim.

Na água do Reno,
Então como eu,
Não deixe também de
Jogar seu anel!

*

Rheinlegendchen

Bald gras ich am Neckar,
Bald gras ich am Rhein,
Bald hab ich ein Schätzel,
Bald bin ich allein!

Was hilft mir das Grasen,
Wann die Sichel nicht schneidt,
Was hilft mir ein Schätzel,
Wenn´s bei mir nicht bleibt!

So soll ich denn grasen
Am Neckar, am Rhein;
So werf ich mein goldi-
Ges Ringlein hinein!

Es fliesset im Neckar
Und fliesset im Rhein,
Soll schwimmen hinunter
Ins tief Meer hinein!

Und schwimmt es das Ringlein,
So frisst es in Fisch!
Das Fischlein soll kommen
Aufs König sein Tisch!

Der König tät fragen,
Wem’s Ringlein sollt’ sein?
Da thät mein Schaz sagen:
“Das Ringlein g’hört mein!”

Mein Schäzlein thät springen
Berg auf und Berg ein,
Tät mir wiedrum bringen
Das Gold Ringlein fein!

Kannst grasen am Neckar,
Kannst grasen am Rhein!
Wirf du mir nur immer
Dein Ringlein hinein!

Música de Gustav Mahler e letra de autor anônimo
1893

*

É Assim Que Tu És (C’est Ainsi Que Tu Es)

Carne, d´alma enleada,
Cabeleira enrolada,
O pé correndo o tempo,
A sombra que se estende
Me murmura na têmpora.
Eis teu retrato, vês?
É assim que tu és.
Te escrever isso eu quero,
Pra que, já noite, aí
Tu creias ao dizeres
Que eu bem te conheci.

*

C’est ainsi que tu es
(Música de Poulenc, letra de Paul Eluard)

Ta chair, d’âme mêlée,
Chevelure emmêlée,
Ton pied courant le temps,
Ton ombre qui s’étend
Et murmure à ma tempe,
Voilà, c’est ton portrait,
C’est ainsi que tu es,
Et je veux te l’écrire
Pour que la nuit venue,
Tu puisses croire et dire,
Que je t’ai bien connue.

*

A Canção de Nana (Nanna´s Lied)

A Canção de Nana

Meu senhor, vim adolescente
Ao mercado do amor.
Me tornei experiente.
Era tanto mal,
Era um jogo tal,
Mas nem sempre eu fui uma flor…
(Afinal, também sou um ser humano.)

Felizmente, tudo logo passa –
Tanto a mágoa quanto o amor, tanto faz.
Cadê o pranto de ontem à noite?
Cadê o frio de um ano atrás?

Com o tempo, mais facilmente
Vai-se à banca do amor.
E se abraça um montão de gente.
Mas o coração
Fica frio e vão,
Se não poupa um pouco de calor.
(Afinal, todo estoque um dia chega ao fim.)

Felizmente, tudo logo passa –
Tanto a mágoa quanto o amor, tanto faz.
Cadê o pranto de ontem à noite?
Cadê o frio de um ano atrás?

Mesmo não sabendo pouco
Do negócio do amor,
Converter tesão num troco
Não é mole, pô.
Té aqui rolou.
Mas a idade chega, sim, senhor.
(Afinal, ninguém permanece adolescente sempre.)

Felizmente, tudo logo passa –
Tanto a mágoa quanto o amor, tanto faz.
Cadê o pranto de ontem à noite?
Cadê o frio de um ano atrás?

*

Nanna´s Lied
(Hanss Eisler, Kurt Weill e Bertolt Brecht)

Meine Herren, mit siebzehn Jahren
Kam ich auf den Liebesmarkt
Und ich habe viel erfahren.
Böses gab es viel
Doch das war das Spiel
Aber manches hab’ ich doch verargt.
(Schließlich bin ich ja auch ein Mensch.)

Gott sei Dank geht alles schnell vorüber
Auch die Liebe und der Kummer sogar.
Wo sind die Tränen von gestern abend?
Wo ist die Schnee vom vergangenen Jahr?

Freilich geht man mit den Jahren
Leichter auf den Liebesmarkt
Und umarmt sie dort in Scharen.
Aber das Gefühl
Wird erstaunlich kühl
Wenn man damit allzuwenig kargt.
(Schließlich geht ja jeder Vorrat zu Ende.)

Gott sei dank geht alles schnell vorüber, usw.

Und auch wenn man gut das Handeln
Lernte auf der Liebesmess’:
Lust in Kleingeld zu verwandeln
Ist doch niemals leicht.
Nun, es wird erreicht.
Doch man wird auch älter unterdes.
(Schließlich bleibt man ja nicht immer siebzehn.)

Gott sei dank geht alles schnell vorüber, usw.

*

Canções Que Mamãe Me Ensinou

(versão de “Als Die Alte Mutter”, de Dvorak e Adolf Heyduk)

Quando mamãe me ensinava
Canções que me cativavam
Normalmente dos seus olhos
Lágrimas rolavam

Quando eu ensino agora
Canções a cada pequeno
Lágrimas também escorrem
Lágrimas correm
Pelo meu rosto moreno

*
Als Die Alte Mutter
Dvorak: Adolf Heyduk

Als die alte Mutter
Mich noch lehrte singen,
Tränen in den Wimpern
Gar so oft ihr hingen.

Jetzt, wo ich die Kleinen
Selber üb im Sange,
Rieselt’s in den Bart oft,
Rieselt’s oft
Von der braunen Wange.
*

SONGS MY MOTHER TAUGHT ME

(by Natalia Macfarren)

Songs my mother taught me,
In the days long vanished;
Seldom from her eyelids
Were the teardrops banished.

Now I teach my children,
Each melodious measure.
Off the tears are flowing,
Off they flow from my memory’s treasure.

*

Oração a Ossain

Orixá que das folhas detém
O segredo que a força repõe,
Ele mesmo um mistério também,
Que se guarda e pouco se expõe;

Me proteja por onde eu caminhe,
Pra que meu coração não definhe,
E me livre daquilo que é ruim
E que tal como um bicho que grunhe
Nos ataca ou nos indispõe;
Que doença comigo nem sonhe.

Na moléstia, me trate, porém,
Com a erva que cura e que vem
Da natura, da mata, da mãe;
Recomponha-me e me acompanhe,
Pois saúde é o bem que se impõe
Mais que ouro, dindim ou bitcoin.

Que meu canto que não se contém
A nenhum outro deus não assanhe,
Pois quem canto, quem chamo e já vem
É Ossain! É Ossain! É Ossain!

Para Onde Vamos?

Para onde vamos? Ah, onde vamos parar?
Nessa encruzilhada, que estrada vamos pegar?
Que perigo de mau tempo, temporal,
De temperatura em alta e de desastre existe pra todos nós afinal?

Que desmatamento ou incêndio ou inundação
Nossos olhos tristes ainda inundarão?
Que geleira tem que ainda derreter,
Pra quebrar a pedra de gelo que tem no peito quem tem um alto e podre poder?

Quanto tempo vamos seguir sem de fato agir
Contra a gana por grana que só faz destruir?
Quantos homens, aos milhares, aos milhões,
Vão morrer de fome e de sede, vítimas de ações de outros homens, de outras nações?

Que será do mundo que vemos, que mundo nós
Deixaremos às gerações que virão após?
Que futuro preparamos, que manhã?
Nosso tino ou desatino hoje define nosso destino aqui amanhã.

*

Força Que Vem do Vento

Força que tem, que tá no ar
em movimento natural
Força que vem do vento que dá
na torre alta vertical
E faz a hélice girar
no ar qual um anel
E a pá que é tríplice rodar
no alto contra o céu

Força que produz e que traduz
uma nova força e luz
Força que evolui e não polui
terra, mar e céu azuis
Que deixa pura a mãe natura salva e sã
e que nos lança uma esperança de amanhã

Força nova que é gerada
em qualquer lugar enfim
e que sempre se renova
e que nunca tem fim

As Viajantes

As Viajantes

As Viajantes,
Gêmeas errantes,
Originais visitantes
Dos gigantes do Sistema Solar –
Lá…

As Viajantes
Vão mais distantes
Do que jamais outra antes
Pôde ir daqui ao céu estelar –
Lá…

(Vai na viagem
Uma mensagem
Na garrafa a vagar
No oceano da imensidão.)

Que viajante
Assim distante
Daqui da Terra e do Sol
Há de evocar o Além, o Longe a rolar,
Lá…?

(Vão na mensagem
Sons e imagens
Do planeta, nosso lar;
Da nossa civilização.)

As Viajantes,
Sem navegantes,
Bilhões de anos ao léu
Hão de vagar no espaço interestelar…
Lá…

Do Álbum “Miscelânea” de 2018

Ficou pra trás,
E nada traz
De volta mais
Aquilo, ó!
No tempo jaz,
E tempo faz
Que virou gás
Ou virou pó.

Se já não há,
Por que será,
Em mim, que ‘tá,
E dói que só?
Aonde eu vá,
Aquilo lá
Saudade dá
E dá um nó.

Saudade, quando mais se adensa,
E traz a presença
Do que não está,
E que ressurge para nós
Do tempo, dos seus cafundós;

O tempo, com sua matéria
Dura, seu mistério
Puro, sem parar,
Resumindo a nada,
Reduzindo a pó
Pedra, vida, estrada,
Com a sua mó –

A sua máquina,
Que o mundo mói
E fundo rói,
Sem pena, nem dó,
Quem pena, tão só.

Saudade dói
Do que vivi,
Do que morreu
E virou pó;
Do que se foi,
Do que eu vi,
Do que fui eu,
Da minha vó.

Outros Sons


Do Álbum “Poesia” de 2018

Num ritmo, num signo
Ígneo
De erres e orras
De esses e zorras
Num rito em urros
Risos, sussurros
Retecnizada
A tribo
Se desencerra
Na Terra

Rataplãs retumbantes, tantãs, tumbadoras, tambores
Sacra, sã sangração, sagra o clã em clamantes louvores

Em danças, transas, transes
Felizes e velozes
Vorazes e ferozes

Oh yeahvoé shazam!

bababadalgharaghtakamminarronnkonnbronntonnerronntuonnthunntrovarrnawnskawn […] !

Outros fins e outros trons
Outros timbres, outros tons
Outrossim outros a-tons
Outros sins e outros sons

Nus


Do “Álbum” Poesia de 2018

Nos miramos nos admiramos
Nos sentimos nos consentimos
Nos colamos nos descolamos
Nos pegamos nos apegamos
Nos laçamos nos enlaçamos
Nos tentamos nos contentamos
Nos velamos nos revelamos
Nus
Nos cedemos nos excedemos

Nos deitamos nos deleitamos
Nos manchamos nos desmanchamos
Nos provamos nos aprovamos
Nos gostamos nos degustamos
Nos comemos nos comovemos
Nos amamos nos amarramos
Nos prendemos nos surpreendemos
Nus
Nos ilhamos nos maravilhamos
Nus

Luzia Luzia


Do Álbum “Miscelânea” de 2018

Luzia um raio de sol
Um pôr-de-sol em Trancoso
Um sinal um girassol
Um anúncio luminoso
Luzia uma nuvem rosa
Uma neve cintilante
Uma pedra preciosa
Um verdadeiro brilhante
Luzia um feixe de gêiser
Uma taça de cristal
Um poema em raio laser
Uma aurora boreal
Luzia uma mina de ouro
Uma aura um tesouro
Uma tela de TV
Luzia você

Luzia a pétala fina
Luzia a pérola clara
Luzia a gema da mina
Luzia a jóia mais rara
Luzia o fogo mais lindo
Do Rio no réveillon
Copacabana explodindo
E o seu nome em neon
Luzia a gota de orvalho
Numa pétala de flor
Uma camélia no galho
Uma lágrima de amor
Luzia o grão da alegria
A fonte da fantasia
Luzia a flor do querer
Luzia
Luzia você

Luzia a chuva de prata
Do meu luar do sertão
Luzia o facho na mata
Da serra na cerração
Luzia o farol de Olinda
O pingo de mel na boca
Mistério que se deslinda
E o botão da rosa louca
Luzia a cálida chama
Dessa flor desabrochando
Luzia a pálida flama
Do olhar da santa gozando
Luzia um brinco um farol
Um anel um videowall
Luzia um véu um buquê
Luzia
Luzia você

Luzia uma lantejoula
Do rural maracatu
Luzia a flor da papoula
De um ipê no Pacaembu
Luzia o fogo do afago
O claro brilho do olhar
Luzia a lua no lago
No qual eu fui me afogar
Luzia a estrela no véu
Da minha noite sem fim
Luzia o espelho do céu
Luzia o céu para mim
Luzia tudo que eu via
Tudo que eu vejo e veria
Tudo que eu desejo ver
Luzia
Luzia você