Sem mais embromação na mesa do Palácio,
Nem mais embaço na gaveta da Justiça,
Nem mais demora nem delonga no processo,
Nem retrocesso nem pendenga no Congresso,
Nem lengalenga, nhenhenhém nem blablablá!
Demarcação já!
Demarcação já!
Já que “tal qual o negro e o homossexual,
O índio é ´tudo que não presta´”, como quer
Quem quer tomar-lhe tudo que lhe resta,
Seu território, herança do ancestral,
E já que o que ele quer é o que é dele já,
Demarcação, “tá”?
Demarcação já!
Há aves que avoam como naves
Há aves que povoam, rasgam o ar
Algumas migram pelo mar
Umas rebrilham tais e quais metais
Umas resistem pelos pantanais
Algumas nem existem mais
E tem mais
Umas tem plumas ornamentais
Umas tem timbres suaves
Assim o passarinho é das aves
A ave da mais leve asa veloz
A ave da mais bela voz
Ávida de canto e encantação
Ávida de vôo e renovação
De seda e de sedução
Revoa, voa, soa e ressoa
Ave, ave!
Avião!
It is one, it is two, it is three, it is four, it is jazz What I have, what you have, what we have, what she has, what he has It has never gone, is never done, has never passed It will forever live, forever give, forever last
It is cool, it is hot, it is free, it is more, it is jazz What a joy, what a jam, what a gem, what a cream, what a class It is a real gift, a real gig, a real gas It is one, it is two, it is three, it is four, it is jazz
Carne, d´alma enleada,
Cabeleira enrolada,
O pé correndo o tempo,
A sombra que se estende
Me murmura na têmpora.
Eis teu retrato, vês?
É assim que tu és.
Te escrever isso eu quero,
Pra que, já noite, aí
Tu creias ao dizeres
Que eu bem te conheci.
*
C’est ainsi que tu es
(Música de Poulenc, letra de Paul Eluard)
Ta chair, d’âme mêlée,
Chevelure emmêlée,
Ton pied courant le temps,
Ton ombre qui s’étend
Et murmure à ma tempe,
Voilà, c’est ton portrait,
C’est ainsi que tu es,
Et je veux te l’écrire
Pour que la nuit venue,
Tu puisses croire et dire,
Que je t’ai bien connue.
Meu senhor, vim adolescente
Ao mercado do amor.
Me tornei experiente.
Era tanto mal,
Era um jogo tal,
Mas nem sempre eu fui uma flor…
(Afinal, também sou um ser humano.)
Felizmente, tudo logo passa –
Tanto a mágoa quanto o amor, tanto faz.
Cadê o pranto de ontem à noite?
Cadê o frio de um ano atrás?
Com o tempo, mais facilmente
Vai-se à banca do amor.
E se abraça um montão de gente.
Mas o coração
Fica frio e vão,
Se não poupa um pouco de calor.
(Afinal, todo estoque um dia chega ao fim.)
Felizmente, tudo logo passa –
Tanto a mágoa quanto o amor, tanto faz.
Cadê o pranto de ontem à noite?
Cadê o frio de um ano atrás?
Mesmo não sabendo pouco
Do negócio do amor,
Converter tesão num troco
Não é mole, pô.
Té aqui rolou.
Mas a idade chega, sim, senhor.
(Afinal, ninguém permanece adolescente sempre.)
Felizmente, tudo logo passa –
Tanto a mágoa quanto o amor, tanto faz.
Cadê o pranto de ontem à noite?
Cadê o frio de um ano atrás?
*
Nanna´s Lied
(Hanss Eisler, Kurt Weill e Bertolt Brecht)
Meine Herren, mit siebzehn Jahren
Kam ich auf den Liebesmarkt
Und ich habe viel erfahren.
Böses gab es viel
Doch das war das Spiel
Aber manches hab’ ich doch verargt.
(Schließlich bin ich ja auch ein Mensch.)
Gott sei Dank geht alles schnell vorüber
Auch die Liebe und der Kummer sogar.
Wo sind die Tränen von gestern abend?
Wo ist die Schnee vom vergangenen Jahr?
Freilich geht man mit den Jahren
Leichter auf den Liebesmarkt
Und umarmt sie dort in Scharen.
Aber das Gefühl
Wird erstaunlich kühl
Wenn man damit allzuwenig kargt.
(Schließlich geht ja jeder Vorrat zu Ende.)
Gott sei dank geht alles schnell vorüber, usw.
Und auch wenn man gut das Handeln
Lernte auf der Liebesmess’:
Lust in Kleingeld zu verwandeln
Ist doch niemals leicht.
Nun, es wird erreicht.
Doch man wird auch älter unterdes.
(Schließlich bleibt man ja nicht immer siebzehn.)
Orixá que das folhas detém
O segredo que a força repõe,
Ele mesmo um mistério também,
Que se guarda e pouco se expõe;
Me proteja por onde eu caminhe,
Pra que meu coração não definhe,
E me livre daquilo que é ruim
E que tal como um bicho que grunhe
Nos ataca ou nos indispõe;
Que doença comigo nem sonhe.
Na moléstia, me trate, porém,
Com a erva que cura e que vem
Da natura, da mata, da mãe;
Recomponha-me e me acompanhe,
Pois saúde é o bem que se impõe
Mais que ouro, dindim ou bitcoin.
Que meu canto que não se contém
A nenhum outro deus não assanhe,
Pois quem canto, quem chamo e já vem
É Ossain! É Ossain! É Ossain!
Para onde vamos? Ah, onde vamos parar?
Nessa encruzilhada, que estrada vamos pegar?
Que perigo de mau tempo, temporal,
De temperatura em alta e de desastre existe pra todos nós afinal?
Que desmatamento ou incêndio ou inundação
Nossos olhos tristes ainda inundarão?
Que geleira tem que ainda derreter,
Pra quebrar a pedra de gelo que tem no peito quem tem um alto e podre poder?
Quanto tempo vamos seguir sem de fato agir
Contra a gana por grana que só faz destruir?
Quantos homens, aos milhares, aos milhões,
Vão morrer de fome e de sede, vítimas de ações de outros homens, de outras nações?
Que será do mundo que vemos, que mundo nós
Deixaremos às gerações que virão após?
Que futuro preparamos, que manhã?
Nosso tino ou desatino hoje define nosso destino aqui amanhã.
Força que tem, que tá no ar
em movimento natural
Força que vem do vento que dá
na torre alta vertical
E faz a hélice girar
no ar qual um anel
E a pá que é tríplice rodar
no alto contra o céu
Força que produz e que traduz
uma nova força e luz
Força que evolui e não polui
terra, mar e céu azuis
Que deixa pura a mãe natura salva e sã
e que nos lança uma esperança de amanhã
Força nova que é gerada
em qualquer lugar enfim
e que sempre se renova
e que nunca tem fim
Nos miramos nos admiramos
Nos sentimos nos consentimos
Nos colamos nos descolamos
Nos pegamos nos apegamos
Nos laçamos nos enlaçamos
Nos tentamos nos contentamos
Nos velamos nos revelamos
Nus
Nos cedemos nos excedemos
Nos deitamos nos deleitamos
Nos manchamos nos desmanchamos
Nos provamos nos aprovamos
Nos gostamos nos degustamos
Nos comemos nos comovemos
Nos amamos nos amarramos
Nos prendemos nos surpreendemos
Nus
Nos ilhamos nos maravilhamos
Nus
Luzia um raio de sol
Um pôr-de-sol em Trancoso
Um sinal um girassol
Um anúncio luminoso
Luzia uma nuvem rosa
Uma neve cintilante
Uma pedra preciosa
Um verdadeiro brilhante
Luzia um feixe de gêiser
Uma taça de cristal
Um poema em raio laser
Uma aurora boreal
Luzia uma mina de ouro
Uma aura um tesouro
Uma tela de TV
Luzia você
Luzia a pétala fina
Luzia a pérola clara
Luzia a gema da mina
Luzia a jóia mais rara
Luzia o fogo mais lindo
Do Rio no réveillon
Copacabana explodindo
E o seu nome em neon
Luzia a gota de orvalho
Numa pétala de flor
Uma camélia no galho
Uma lágrima de amor
Luzia o grão da alegria
A fonte da fantasia
Luzia a flor do querer
Luzia
Luzia você
Luzia a chuva de prata
Do meu luar do sertão
Luzia o facho na mata
Da serra na cerração
Luzia o farol de Olinda
O pingo de mel na boca
Mistério que se deslinda
E o botão da rosa louca
Luzia a cálida chama
Dessa flor desabrochando
Luzia a pálida flama
Do olhar da santa gozando
Luzia um brinco um farol
Um anel um videowall
Luzia um véu um buquê
Luzia
Luzia você
Luzia uma lantejoula
Do rural maracatu
Luzia a flor da papoula
De um ipê no Pacaembu
Luzia o fogo do afago
O claro brilho do olhar
Luzia a lua no lago
No qual eu fui me afogar
Luzia a estrela no véu
Da minha noite sem fim
Luzia o espelho do céu
Luzia o céu para mim
Luzia tudo que eu via
Tudo que eu vejo e veria
Tudo que eu desejo ver
Luzia
Luzia você
Pra bom entendedor meia palavra bas-
Eu vou denunciar a sua ação nefas-
Você amarga o mar, desflora a flores-
Por onde você passa, o ar você empes-
Não tem medida a sua sanha imediatis-
Não tem limite o seu sonho consumis-
Você deixou na mata uma ferida expos-
Você descora as cores dos corais na cos-
Você aquece a terra e enriquece à cus-
Do roubo do futuro e da beleza augus-
Mas de que vale tal riqueza, grande bos-
Parece que de neto seu você não gos-
Você decreta morte à vida ainda em vis-
Você declara guerra à paz por mais benquis-
Não há em toda a fauna um animal tão bes-
Mas já tem gente vendo que você não pres-
Não vou dizer seu nome porque me desgas-
Pra bom entendedor meia palavra bas-