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À Meia-Noite dos Tambores Silenciosos

de “Carbono”, de Lenine

2015_Lenine_Carbono

O baque do maracatu estanca no ar;
Das lâmpadas apaga-se a luz branca no ar;
Na sombra onde som-
-Em cor e som,
Somos um,
Ao rés
Do chão, aos pés
De Olorum.

Um lume no negrume vaga dentro de nós;
Um choro insonoro alaga o centro de nós;
Com fé ou não no axé,
No São José,
Todos são
Um nó,
E tudo é só
Comoção.

Ó Largo do Terço,
Quão largo, profundo,
Bendito o teu rito que eu verso.

Em mantras, cantos brandos já ecoam no ar;
Em bando, pombas brancas já revoam no ar;
No chão, na vibração
De nossas mãos,
Somos um,
Irmãos
Na evocação
Dos eguns.

Ó Largo do Terço,
Quão largo, profundo,
Bendito o teu rito que eu verso.

Quede Água?

de “Carbono”, de Lenine

2015_Lenine_Carbono

A seca avança em Minas, Rio, São Paulo.
O Nordeste é aqui, agora.
No tráfego parado onde me enjaulo,
Vejo o tempo que evapora.
Meu automóvel novo mal se move,
Enquanto no duro barro
Do chão rachado da represa onde não chove,
Surgem carcaças de carro.

Os rios voadores da Hileia
Mal deságuam por aqui,
E seca pouco a pouco em cada veia
O Aquífero Guarani.
Assim, do São Francisco a San Francisco,
Um quadro aterra a terra:
Por água, por um córrego, um chuvisco,
Nações entrarão em guerra.

Quede água? Quede água?

Agora o clima muda tão depressa,
Que cada ação é tardia,
Que dá paralisia na cabeça,
Que é mais do que se previa.
Algo que parecia tão distante
Periga agora tá perto;
Flora que verdejava radiante
Desata a virar deserto.

O lucro a curto prazo, o corte raso,
O agrotóxiconegócio;
A grana a qualquer preço, o petrogaso-
Carbocombustível fóssil.
O esgoto de carbono a céu aberto
Na atmosfera, no alto;
O rio enterrado e encoberto
Por cimento e por asfalto.

Quede água? Quede água?

Quando em razão de toda a ação “humana”
E de tanta desrazão,
A selva não for salva e se tornar savana;
E o mangue, um lixão;
Quando minguar o Pantanal, e entra em pane a
Mata Atlântica, tão rara;
E o mar tomar toda cidade litorânea,
E o sertão virar Saara;

E todo grande rio virar areia,
Sem verão virar outono;
E a água for commodity alheia,
Com seu ônus e seu dono;
E a tragédia da seca, da escassez,
Cair sobre todos nós,
Mas sobretudo sobre os pobres, outra vez
Sem terra, teto, nem voz…

Quede água? Quede água?

Agora é encararmos o destino
E salvarmos o que resta;
É aprendermos com o nordestino,
Que pra seca se adestra;
E termos como guias os indígenas,
E determos o desmate,
E não agirmos que nem alienígenas
No nosso próprio habitat.

Que bem maior que o homem é a Terra,
A Terra e o seu arredor,
Que encerra a vida, que na Terra não se encerra,
A vida, a coisa maior,
Que não existe onde não existe água,
Mas que há onde há arte,
Que nos alaga e nos alegra, quando a mágoa
A alma nos parte,

Para criarmos alegria pra viver o
Que houver pra vivermos,
Sem esperanças, mas sem desespero,
No futuro que tivermos.

Quede água? Quede água?

Escrito nas estrelas

2015_douglas_malharo

Você pra mim foi o sol
De uma noite sem fim
Que acendeu o que sou,
Pra renascer tudo em mim.
Agora eu sei muito bem
Que eu nasci só pra ser
O seu parceiro, seu bem, (*)
E só morrer de prazer.

Caso do acaso bem marcado em cartas de tarô,
Meu amor, esse amor de cartas claras sobre a mesa
É assim.
Signo do destino, que surpresa ele nos preparou;
Meu amor, nosso amor estava escrito nas estrelas,
Tava, sim.

Você me deu atenção
E tomou conta de mim.
Por isso, minha intenção
É prosseguir sempre assim.
Pois sem você, meu tesão,
Não sei o que eu vou ser;
Agora preste atenção:
Quero casar com você.

_____________________

Variante:
(*) Sua parceira, seu bem,

Discografia

Lista de composições gravadas

1978

No LP “Tetê e o Lírio Selvagem” (gravadora Philips/PolyGram), de Tetê Espíndola e o Lírio Selvagem:
“Na Catarata” (parceria com Alzira Espíndola)
“Pássaro Sobre o Cerrado” (com Tetê Espíndola)
“Caucaia” (com Celito Espíndola)

1980 

No LP “Tetê Piraretã” (Philips/PolyGram), de Tetê Espíndola:
“Viver Junto” (com Tetê Espíndola)
“Melro” (versão para o português de “Blackbird”, de John Lennon e Paul McCartney)

1982 

No LP “Outros Sons” (Vôo Livre), de Eliete Negreiros:
“Outros Sons” (com Arrigo Barnabé)

No LP “Pássaros na Garganta” (Som da Gente), de Tetê Espíndola:
“Amor e Guavira” (com Tetê Espíndola)
“Olhos de Jacaré” (com Geraldo Espíndola)
“Cuiabá” (com Tetê Espíndola)
“Pássaros na Garganta” (com Tetê Espíndola)

1984 

No LP “Tubarões Voadores” (Barclay/Ariola), de Arrigo Barnabé:
“A Europa Curvou-se Ante o Brasil” (com Arrigo Barnabé e Bozo Barretti), com Vania Bastos e Paulinho da Viola
“Mirante” (com Arrigo Barnabé)

1985

No mix “Tetê Espíndola Escrito nas Estrelas” (PolyGram):
“Escrito nas Estrelas” (com Arnaldo Black)

No LP “Festival dos Festivais” (Som Livre):
“Escrito nas Estrelas” (com Arnaldo Black)

No LP “Bem-Bom” (RCA), de Gal Costa:
“Bem-Bom” (com Arrigo Barnabé e Eduardo Gudim)

1986 

No LP “Gaiola” (PolyGram), de Tetê Espíndola:
“Na Chapada” (com Tetê Espíndola), com Tetê Espíndola e Ney Matogrosso
“Visão da Terra” (com Tetê Espíndola)
“Mais Uma” (com Arnaldo Black)
“Nós” (com Tetê Espíndola)
“Cururu” (com Tetê Espíndola)

No LP “Cidade Oculta” (PolyGram), de Arrigo Barnabé:
“Ronda 2” (com Arrigo Barnabé)

No LP “Ângulos/Tudo Está Dito” (Copacabana), de Eliete Negreiros:
“Domingo Longo” (com Zé Miguel Wisnik)
“Riacho” (com Passoca)

No LP “Vania Bastos” (Copacabana), de Vania Bastos:
“Eu Sou É do Papai” (versão de “My Heart Belongs to Daddy”, de Cole Porter)
“Neblina” (com Otávio Fialho)

No LP “Balãozinho” (Copacabana), de Eduardo Gudim:
“Bem-Bom” (com Arrigo Barnabé e Eduardo Gudim)

1987 

No LP “Suspeito” (3M), de Arrigo Barnabé:
“So Cool” (com Arrigo Barnabé)

1989

No LP “Eduardo Gudim & Vania Bastos” (Eldorado):
“Bem-Bom” (com Arrigo Barnabé e Eduardo Gudim)

1990 

No CD “Vania Bastos” (Eldorado), de Vania Bastos:
“Sky of My Blues” (com Arrigo Barnabé e Hermelino Neder)

1991

No CD “Sarajane” (EMI-Odeon), de Sarajane:
“Não Sei Por Quê” (com Dino Vicente)

1992 

No CD “Roberto de Carvalho” (WEA), de Roberto de Carvalho
“Meu ABC” (com Roberto de Carvalho)

1993 

No CD “Rita Lee” (Som Livre), de Rita Lee:
“Mille Baci” (com Rita Lee)

No CD “Tetê Espíndolla” (Camerati), de Tetê Espíndolla:
“Nossos Momentos” (com Arnaldo Black)
“Ajoelha e Reza” (com Arnaldo Black)
“Serenata do Prado” (versão de “Meadow Serenade”, de George e Ira Gershwin)

1994 

No CD “Suzana Salles” (Camerati), de Suzana Salles:
“Rapto Rápido” (com Hermelino Neder)

1995 

No CD “Ficar com Você” (Lux), de Patricia Marx:
“Sem Preconceito” (com Skowa e Tadeu Eliezer)

1997 

No CD “Quanta” (Warner), de Gilberto Gil:
“Átimo de Pó” (com Gilberto Gil)

1998 

No CD “Canções do Divino Mestre” (integrado ao livro “Canção do Divino Mestre, de Rogério Duarte – Companhia das Letras):
“O Comedor de Cachorro” (com Cid Campos e Rogério Duarte)

1999 

No CD “Defeito de Fabricação” (Trama), de Tom Zé:
“Esteticar” (com Tom Zé e Vicente Barreto)

No CD “Na Pressão” (BMG), de Lenine:
“Tubi Tupy” (com Lenine)

2000

No CD “Cole Porter e George Gershwin – Canções, Versões” (Geléia Geral):
“Eu Só Me Ligo em Você” (versão para o português de “I Get a Kick Out of You”, de Cole Porter), com Zélia Duncan
“Que De-lindo” (de “It’s De-lovely”, de CP), com Caetano Veloso
“Façamos” (de “Let’s Do It”, de CP), com Chico Buarque e Elza Soares
“Um Dia de Garoa” (“A Foggy Day”, de George e Ira Gershwin), com Gilberto Gil
“Blablablá” (de “Blah, Blah, Blah”, de GG e IG), com Rita Lee
“Toda Vez Que Eu Digo Adeus” (de “Ev’ry Time We Say Goodbye”, de CP), com Cássia Eller
“Abraçável Você” (de “Embraceable You”, de GG e IG, parceria com Nelson Ascher), com Jane Duboc
“Fascinante Ritmo” (de “Fascinatin’ Rhythm”, de GG e IG), com Ed Motta
“Ó Dama, Tem Dó” (de “Oh Lady, Be Good”, de GG e IG, com Charles Perrone), com Carlos Fernando
“Enfim, o Amor” (de “At Long Last Love”, de CP), com Sandra de Sá
“Quem Tome Conta de Mim” (de “Someone To Watch Over Me”, de GG e IG, com Nelson Ascher), com Paula Toller
“Lorelai” (de “Lorelei”, de GG e IG), com Mônica Salmaso
“A Garota Mais Vagal da Cidade” (“The Laziest Gal in Town”, de CP), com Jussara Silveira

2001

No CD “Maricotinha” (BMG), de Maria Bethânia:
“Antes que Amanheça” (com Chico César)

No CD “É Isso Aí” (Regata Música), de Paula Lima:
“Vem, Amor” (com Dom Betto)

2002 

no CD “Respeitem Meus Cabelos, Brancos” (Abril), de Chico César:
“Quando Eu Fecho os Olhos” (com Chico César)
“Antes que Amanheça” (com Chico César)
“Experiência” (com Chico César)

No CD “Falange Canibal” (BMG), de Lenine:
“Ecos do ‘Ão’” (com Lenine)
“Quadro Negro” (com Lenine)

No CD “Pare, Olhe, Escute” (Universal), de Sandra de Sá:
“Eu e Você” (versão de “Cruisin’”, com Sandra de Sá), com Sandra de Sá e Smokey Robinson

No CD “Todo Mundo É Igual” (Abril Music), de Beto Lee:
“Ceia de Natal” (com Beto Lee)

No CD “Bossa Tropical” (MZA/Abril Music), de Gal Costa:
“Quando Eu Fecho os Olhos” (com Chico César)

2003 

No CD “Pra Você Me Ouvir” (Indie Records), de Eliana Printes:
“Vaidade” (com Chico César)

2004 

No CD “Lenine In Cité” (BMG), de Lenine:
“Vivo” (com Lenine)
“Todas Elas Juntas Num Só Ser” (com Lenine)

No CD “Uma Beleza Estranha” (independente), de Daniel Taubkin:
“Sky of My Blues” (com Arrigo Barnabé e Hermelino Neder)

No CD “Aço do Açúcar”, de Aldo Brizzi:
“A Fêmea, o Gêmeo” (com Aldo Brizzi)

No CD “Luar – Canções de Arrigo Barnabé” (YB), de Tuca Fernandes:
“Mirante” (com Arrigo Barnabé)

No CD “Pulsar”, de Regina Machado:
“Quadro Negro” (com Lenine)

2005

No CD “Words and Music By Cole Porter”, de Fred Hines:
“Só Me Ligo em Você” (“I Get a Kick Out of You”, de Coler Porter)
“Ser Milionário, Quem Não Quer?” (“Who Wants To Be a Millionaire?”, de Cole Porter)

No CD “Hoje”, de Gal Costa:
“Mar e Sol” (com Lokua Kanza)
“Te Adorar” (com Lokua Kanza)
“Sexo e Luz” (com Lokua Kanza)

2006

No CD “Sol a Girar”, de Flávio Henrique (cantada por Ná Ozzetti):
“Lud” (com Flávio Henrique)

No CD “Eu Sou 300”, de Sérgio Britto:
“Nós” (com Sérgio Britto)

No CD “Onda Tropicale” (Itália), de Fiorella Manoia:
“Vivo” (com Lenine – versão em italiano de P. Fabrizi)

No DVD “Acústico MTV” (Sony/BMG), de Lenine:
“Ecos do ´Ão´” (com Lenine)

2007

No CD “Que Belo Estranho Dia Pra Se Ter Alegria”, de Roberta Sá:
“Fogo e Gasolina” (com Pedro Luís), cantada com Lenine
“Samba de Amor e Ódio” (com Pedro Luís)

2008

No CD “Pássaro Pênsil”, de Flávio Henrique:
“O Pássaro Pênsil” (com Flávio Henrique), cantada com Lô Borges

No CD “Da Maior Importância”, de Elisa Paraíso:
“O Pássaro Pênsil” (com Flávio Henrique)

No CD “Inclassificáveis” (EMI), de Ney Matogrosso:
“Lema” (com Lokua Kanza)
“Coragem, Coração” (com Claudio Monjope)

No DVD “Inclassificáveis” (EMI), de Ney Matogrosso:
“Lema” (com Lokua Kanza)
“Coragem, Coração” (com Claudio Monjope)

No CD “Labiata” (Universal), de Lenine:
“É Fogo” (com Lenine)

No CD “Ponto Enredo” (EMI), de Pedro Luís e a Parede:
“Repúdio” (com Pedro Luís)

No CD “Vicente” (Joala Records, no Japão e no Brasil), de Vicente Barreto:
“Esse Rio” (com Vicente Barreto)

2009

No filme “Fiel” (direção de Andrea Pasquini):
“Sou Fiel” (com Rita Lee)

No CD “Peixes Pássaros Pessoas” (Universal), de Mariana Aydar:
“Tá?” (com Pedro Luís e Roberta Sá)

No CD “Nego” (Biscoito Fino):
“Meu Romance” (versão para o português de “My Romance”, de Richard Rodgers e Lorenz Hart), com Gal Costa
“Encantada” (de “Bewitched , Bothered and Bewildered”, de RR e LH), com Maria Rita
“Tão Fundo É o Mar” (de “How Deep Is The Ocean”, de Irving Berlin), com Moreno Veloso
“Verão” (de “Summertime”, de George e Ira Gershwin e Dubose Heyward), com Erasmo Carlos
“Estava Escrito nas Estrelas” (de “It Was Written in The Stars”, de Harold Arlen e Leo Robin), com Emílio Santiago
“Nego” (de “Lover”, de RR e LH), com Paula Morelenbaum
“Sábio Rio” (de “Ol´ Man River”, de Jerome Kern e Oscar Hammerstein, parceria com Nelson Ascher), com João Bosco
“Fruta Estranha” (de “Strange Fruit”, de Lewis Allan), com Seu Jorge
“Tenho um Xodó por Ti” (de “I´ve Got a Crush on You”, de G e IG), com Elba Ramalho, Dominguinhos e João Donato
“Queria Estar Amando Alguém” (de “I Wish I Were in Love Again”, de RR e LH), com Ná Ozzetti e Wilson Simoninha
“O Homem que Partiu” (de “The Man That Got Away”, de Harold Arlen e Ira Gershwin), com Luciana Souza
“Mais Além do Arco –Íris” (de “Over The Rainbow”, de Harold Arlen e E.Y. Harburg), com
Zélia Duncan
“Natal Lindo” (de “White Christmas”, de IB), com Olivia Hime
“Meu Romance”, com Gal Costa e Carlinhos Brown

2010

No DVD “Pra se Ter Alegria” (Universal), de Roberta Sá:
“Agora Sim” (com Pedro Luís e Roberta Sá)
“Samba de Amor e Ódio”
“Fogo e Gasolina”

No CD “Não Vou Pro Céu Mas Já Não Vivo no Chão” (MP,B / Universal), de João Bosco:
“Pronto Pra Próxima” (com João Bosco)
“Pintura” (com João Bosco)

No CD “Vam-Bo-Ra” (independente), de Glaucia Nahsser:
“Canto, Logo Existo” (com Glaucia Nahsser e Tiago Vianna)

No CD “Feito Pra Acabar” (Slap – Som Livre), de Marcelo Jeneci:
“Show de Estrelas” (com Marcelo Jeneci)

No CD “Olhos” (independente), de Patricia Talem:
“Lua Brilhante” (“Moonglow”, de Will Hudson, Edgar DeLange e Irving Mills)

2011

No CD “Chão” (Universal), de Lenine:
“Envergo Mas Não Quebro” (com Lenine)
“Isso É Só o Começo” (com Lenine)

No CD “Tempo de Menino” (MP,B Discos), de Pedro Luís:
“Tá?” (com Pedro Luís e Roberta Sá)
“Rio Moderno” (com Pedro Luís)

No CD “Vida Nova” (independente), de Edu Leal:
“Não Dá Pé” (com Edu Leal), com Adriana Godoy

2012

No CD “Segunda Pele” (Universal), de Roberta Sá:
“Segunda Pele” (com Gustavo Ruiz)

No CD “Ensaio de Cores – Ao Vivo” (Sony Music), de Ana Carolina:
“Todas Elas Juntas Num Só Ser” (com Lenine)

No DVD “Ensaio de Cores – Ao Vivo” (Sony Music), de Ana Carolina:
“Todas Elas Juntas Num Só Ser” (com Lenine)

No CD “Contigo Aprendi”, do MPB4:
“A Barca” (versão de “La Barca”, de Roberto Cantoral)

2013

No CD “Por Que Nós?”, de Camilo Frade:
“Nara, Nara, Nara” (com Lula Queiroga)

No CD “Vambora Dançar” (Sala de Som Records), de Elba Ramalho:
“Quando Eu Fecho os Olhos” (com Chico César)

No CD “Drê”, de Drê:
“Sem Ti, Contigo” (com Walter Santos)

No CD “Alta Fidelidade” (Som Livre/S de Samba), de Simoninha:
“Paixão (Meu Time)” (com Simoninha)

No CD “#AC” (Sony Music), de Ana Carolina:
“Canção pra Ti” (com Ana Carolina e Moreno Veloso)

No CD “Cores de Acolá”, de Tito Lys:
“Nara, Nara, Nara” (com Lula Queiroga)

No CD “Muito Pouco Para Todos” (Sony), de Paulinho Moska:
“Somente Nela” (com Paulinho Moska)

No DVD “Muito Pouco Para Todos” (Sony), de Paulinho Moska:
“Somente Nela” (com Paulinho Moska)

No CD “Forças da Natureza”, do Grupo Ecco:

“Terra Desolada” (com Grupo Ecco)

2014

No CD “Despertador”, de Leo Cavalcanti:
“O Momento” (com Leo Cavalcanti)

No álbum duplo “Tetê Espíndola” (Sesc):
No CD “Pássaros na Garganta” (de 1982), de Tetê Espíndola:
“Amor e Guavira” (com Tetê Espíndola)
“Olhos de Jacaré” (com Geraldo Espíndola)
“Cuiabá” (com Tetê Espíndola)
“Pássaros na Garganta” (com Tetê Espíndola)
No CD “Asas do Etéreo”, de Tetê Espíndola:
“Crisálida-Borboleta” (com Tetê Espíndola)

2015

No CD “Carbono” (Casa 9), de Lenine:
“Quede Água” (com Lenine)
“À Meia-Noite dos Tambores Silenciosos” (com Lenine)

No CD “Estado de Poesia”, de Chico César:
“Reis do Agronegócio” (com Chico César)

No CD “Locura Total” (Sony Music), de Fito Paez e Moska:
“Onde Você Passou a Noite” (com Moska)
“Mais Que Tudo Que Existe” (com Moska)

No CD “Locura Total”, edição estrangeira (Sony Music), de Fito Paez e Moska:
“Todas Las Cosas Que Están En El Mundo” (versão de Fito Paez para “Mais Que Tudo Que Existe” – com Moska)

No CD “Os maiores sucessos… do famoso quem”, de Douglas Malharo:
“Escrito nas Estrelas” (com Arnaldo Black)

No CD “De Lá Pra Cá, Daqui Pra Lá”, do Grupo Carona Brasil:
“Lud” (Carona Brasil)

2016

No CD “Mira”, de Bianca Luar:
“Partas Não” (com Lokua Kanza)

2017

No CD “Samba pra Elas”, de Thiago Miranda:
“Todas Elas Juntas Num Só Ser” (com Lenine)

No CD “Isaca-Volume 1”, da Isca de Polícia:
“Atração pelo Diabo” (com Paulo Lepetit)

2018

No CD “Dentro Desse Mar”, de Danças Ocultas:

“As Viajantes” (com Felipe Ricardo), com Zélia Duncan

No CD “Poesia”, de Carlos Rennó:
“Pintura” (com João Bosco), com João Bosco
“Nova Trova” (com Zeca Baleiro), com Zeca Baleiro
“Canção Pra Ti” (com Moreno Veloso), com Moreno Veloso
“Todas Elas Juntas Num Só Ser” (com Lenine), com Ellen Oléria, Felipe Cordeiro, Junio Barreto, Leo Cavalcanti, Pedro Luis e Wilson Simoninha
“Nus” (com Arnaldo Antunes), com Arnaldo Antunes
“Suaí” (com Livio Tragtenberg), com Lívia Nestrovski
“Outros Sons” (com Arrigo Barnabé), com Tetê Espindôla, Arrigo Barnabé e Carlos Rennó
“Eu Disse Sim” (com José Miguel Wisnik), com José Miguel Wisnik
“Seta de Fogo” (com Chico César), com Chico César
“O Momento” (com Leo Cavalcanti), com Leo Cavalcanti
“Minha Preta” (com Geronimo Santana), com Geronimo Santana
“Só” (com Paulinho Moska), com Paulinho Moska
“Exaltação dos Inventores” (com Luiz Tatit), com Luiz Tatit
“Tá?” (com Pedro Luís), com Pedro Luís
“Hidrelétricas Nunca Mais” (com Felipe Cordeiro), com Felipe Cordeiro
“Átimo de Pó” (com Gilberto Gil), com Gilberto Gil

No álbum digital “Miscelânea” (no livro “Canções”, editora Perspectiva), de Carlos Rennó:
“Eu Vou Escrever Um Livro” (com Luiz Tatit), com Luiz Tatit
“Doce Loucura” (com Marcelo Geneci), com Marcelo Geneci
“Caterina” (com Gilberto Gil), com Cacá Machado e Gilberto Monte
“Luzia Luzia” (com Guito Argolo), com Jota Veloso e Guito Argolo
“Verônica” (com Marcelo Geneci), com Marcelo Geneci
“Todas Elas Juntas Num Só Ser -Número 3” (com Felipe Cordeiro), com Felipe Cordeiro
“Eu Pra Você, Você Pra Mim” (com Gerônimo Santana), com Gerônimo Santana e Edfran
“Com Você, Sem Você” (com Edu Krieger), com Edu Krieger
“Dói…Dói…” (com Zeca Baleiro), com Zeca Baleiro
“Star- Filled Night” (com Marcelo Tápia), com Marcelo Tápia e Daniel Tápia
“Solidão Cósmica” (com Mário Céve), com Mário Céve, Cecília Stanzione e Adriano Souza
“Para Onde Vamos?” (com Beto Villares e Dustan Gallas), com Beto Villares e Dustan Gallas
“Signs of Life on Mars” (com Antonio Pinto), com Antonio Pinto, Ensemble São Paulo, Tadeu Jungle e Fred Rahau Mauro
“Quede Água, Quede?” (com Chico César), com Chico César
“Vó” (com Vicente Barreto), com Vicente Barreto
“Idade Média Moderna” (com Pedro Luís), com Pedro Luís
“The Tragedy of América” (com Hique Gomez), com Hique Gomez

2019

No álbum “Entropia”, de Edu Aguiar:
“Força Que Vem Do Vento” (Com Edu Aguiar)

“Para Onde Vamos?” (com Beto Villares), com Antonio VillaresArnaldo AntunesArtemisa XakriabáBeto VillaresChico BrownClara ItoCéuDora MorelenbaumEdivan Fulni-ôFabiana CozzaLuzia BarrosMC SoffiaManu JulianMarcia KambebaMoreno VelosoNá OzzettiPaulinho MoskaPedro VillaresProjeto GuriRoberta SáTaciana BarrosThalma de FreitasTheo de Miranda JordãoTom KarabashianTom WisnikViola CorullonZeca Baleiro e Zélia Duncan.

2020

No álbum “Fabiana Cozza dos Santos”, de Fabiana Cozza:
“Oração a Ossain” (com Pedro Luís)

No álbum “Cenas De Um amor”, de Leila Pinheiro:
“Canções Que Mamãe Me Ensinou” (versão de “Als Die Alte Mutter”, de Dvorak e Adolf Heyduk), com Leila Pinheiro
“A Canção de Nana” (versão de Nanna´s Lied, de Hanss Eisler, Kurt Weill e Bertolt Brecht), com Leila Pinheiro
“É Assim Que Tu És ” (versão de “C’est Ainsi Que Tu Es”, de Poulenc e Paul Eluard), com Leila Pinheiro
“Uma Lenda do Reno” (versão de Rheinlegendchen, com Música de Gustav Mahler e letra de autor anônimo), com Leila Pinheiro

No álbum “Feito Pra Acabar”, de Marcelo Geneci:
“Rara” (com Marcelo Geneci), com Marcelo Geneci
“Doce Loucura” (com Marcelo Geneci), com Marcelo Geneci

Single “Ornitologia” (com Danilo Penteado), com Danilo Penteado e Paula Mirhan

2021

No álbum “Demarcação Já”, de Chico César:
“Blablablá” (com Criolo e Elza Soares)
“Do Guarani Ao Guaraná” (com Gilberto Gil)

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OBS.: Faltam dados das gravações de:

“Life”, gravada por Paula Lima, no Japão;
“Eu Só Me Ligo em Você” (versão de “I Get a Kick Out of You”, de Cole Porter), gravada por Elza Soares;
“Flecha” (com Otávio Fialho), gravada por Muricy Costa.

*

Canção pra Ti

Canção Pra Ti

de “AC”, de Ana Carolina

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Por te querer de cara e coracão
Preciso te fazer uma canção

Que seja bela, que se possa amar
Como um golaço, um passe de Neymar
Como um passo do Grupo Corpo no ar
O cello de Jaques Morelenbaum
A rima e o ritmo de Mano Brown
Em cada frase, estrofe e no refrão
Será que eu sou capaz de tal canção?

Que tenha algo em excesso ou algo excelso
Como uma peça, um ato de Zé Celso
Como um poema de Augusto de Campos
Ou como um rock de Arnaldo Antunes
Que toque nos ipods e no iTunes
E tenha graça como o Zé Simão
Será que eu sou capaz de tal canção?

Que valha o investimento de neurônios
Como o cimento de Antônio Ermírio
Como um cenário de Helio Eichbauer
(De verso-power, como um pau ereto)
Um pensamento de Antônio Cícero
O dicionário de Antônio Houaiss
E acenda em ti o sol no coração
Será que eu sou capaz de tal canção?

Que revele um requinte em mots et son
Como um desfile de Gisele Bundchen
Como uma foto de Bob Wolfenson
Como o gênio de Rogério Duarte
Como um ensaio de Risério, Antônio
Mistura de mistério e clarão
Preciso te fazer essa canção

Que luza qual poema em raio laser
Como a ciência de Marcelo Gleiser
O axé de Mãe Carmen do Gantois
O fôlego e a yoga de Iyengar
E a palavra-chave de Kikuchi
Que um outro escute com muita atenção
Será que eu sou capaz de tal canção?

Que alegre e que comova no seu auge
Como o cinema de Pedro Almodóvar
Como a Tanztheater de Pina Bausch
Como a chegada da Estação Primeira
Como a saída do Ilê Ayê
E um querer que não acaba, não
Será que eu sou capaz de tal canção?

Na qual não haja nada fosco ou tosco
Como um artigo de Francisco Bosco
Como uma estampa de Alberto Pitta
Como uma atuação de João Miguel
E uma edição de Luiz Schwarcz
Do todo com as partes na relação
Será que eu sou capaz de tal canção?

Que seja foda, aguda, fina, chique
Como um livro de Zé Miguel Wisnik
E a moda na São Paulo Fashion Week
E fique no youtube e se remixe
E passe como tudo mas se fixe
Eu te quero tanto, com tanta paixão
Que é capaz de eu ser capaz de tal canção

OFICINA DE LETRAS E MÚSICAS

Oficina de composição de canções, da perspectiva de um letrista. Destina-se a compositores experientes ou iniciantes (incluindo os que são somente letristas ou que desejem criar letras). Cada participante apresenta canções de sua autoria para apreciação, avaliação, considerações e estímulos do ministrante, além de colocações de toda a turma (quem quiser, pode apresentar versões para o português de canções estrangeiras, por exemplo). O objetivo é abrir um espaço para que cada canção seja alvo de uma reflexão e discussão por parte do autor, dos demais participantes e do ministrante.

Eu Gosto do Meu Corpo

eu gosto do meu corpo
quando ele está com o seu
eu gosto do seu corpo
do que ele faz com o meu

é o que há de novo
e que se dá de novo

dia após dia
mês após mês
a cada dia
a cada vez
nunca é demais
sempre é demais

eu gosto do meu corpo
e gosto do seu corpo
eu sei do que ele gosta
e gosto do que ele faz

gosto disso, daquilo
daqui, dali
e de tudo mais
e de nada mais

eu gosto do seu corpo
e de fazer o que ele faz
eu gosto do seu corpo
e do prazer que ele me traz

O Momento


de “Despertador”, de Leo Cavalcanti

capa_DESPERTADOR

Tem um momento (que de todos é diverso)
Em que você se une ao todo, ao universo

O tempo então congela (feito lá no pólo)
Seu ego some, seu eu ergue-se do solo

E sai voando entre as estrelas na amplidão
Você se torna uma delas na explosão

Dentro de si você vê uma grande luz
Rompem-se todas as amarras e tabus

Você mergulha e chega à raiz da vida
Bebe na fonte do seu jorro sem medida

Enquanto escuta a doce música distante
Que toca fundo, ao fundo, infinda, nesse instante

A eternidade então num lapso encapsula
E a divisão entre você e o outro é nula

Esse estado não é nenhum sonho impossível
Algo irreal ou ideal, ou desse nível

Nem tá vedado à multidão de abandonados
E reservado só a alguns iluminados

Mas ao alcance de nós todos, qualquer um
De qualquer homem ou qualquer mulher comum

Você não chega lá por uma fé num deus
Cê chega lá porque então cê é um deus

Já cega por um raio de um clarão tremendo
A carne do seu ser põe-se a vibrar, tremendo

Esse é o momento, enfim, de sol e nebulosa
Em que você, meu caro, minha cara, …

– Go-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-za!… –

… goza

Ajoelha e Reza

E aí, ele disse pra mim
Como vai?
E aí, eu me disse taí
Minha chance
Respondi
Tudo bem e você onde vai?
Foi daí
Que saímos dali prum romance

E de repente na nossa história
De amor e de glória
Ele vem e me agarra,
eu me amarro
ele ajoelha e reza
E então me confessa

Que tá na maior paixão
e nunca esteve assim
Nem sente seus pés no chão
E até se realça por causa de mim

E assim, o que ele me faz
Pode ser
Pode sim, pode até parecer uma cena
Mas pra mim, é uma cena real
Radical!
Tão real, que parece igual no cinema

E nesse filme de amor e ventura
Verdade e mentira
um pornô com ternura
Ele vem e se atira,
eu morro
E depois me comovo
quando me diz de novo

Que tá na maior paixão
e nunca esteve assim
Nem sente seus pés no chão
E até se realça por causa de mim

E assim, o que ele me faz
Pode ser
Pode sim, pode até parecer uma cena
Mas pra mim, é uma cena real
Radical!
Tão real, que parece igual no cinema

E de repente na nossa história
De amor e de glória
Ele vem e me agarra,
eu me amarro
ele ajoelha e reza
E então me confessa

Que tá na maior paixão
e nunca esteve assim
Nem sente seus pés no chão
E até se realça por causa de mim
Tá na maior paixão
e nunca esteve assim
Nem sente seus pés no chão
E até se realça por causa de mim
Tá na maior paixão
e nunca esteve assim
Nem sente seus pés no chão
E até se realça por causa de mim

Tá na maior paixão

Carlos Rennó ganha show-tributo

Um show dia 21 de junho 2014 vai reunir 13 artistas cantando canções de Carlos Rennó: Tetê Espíndola, José Miguel Wisnik, Hermelino Neder, Beto Villares, Filipe Catto, Leo Cavalcanti, China, Livia Nestrovski, Tó Brandileone, Vinicius Calderoni, Daniel Belleza, Mã e Marcelo Tápia. Antes, haverá novo lançamento e seção de autógrafos do livro “O Voo das Palavras Cantadas” (editora Dash), lançado dia 11 de junho. O evento vai ac ontecer no Centro Cultural Rio Verde, na Vila Madalena, em São Paulo.

O Voo das Palavras Cantadas

livro_2014_O_Voo_das_Palavras_Cantadas

Reunião de textos sobre canção escritos da perspectiva de um letrista e jornalista: priorizando a poesia da música popular. Artigos publicados na imprensa (“Folha de S.Paulo”, “Bravo”, “Valor” e outros), em livros, portal, encartes de disco, programas de espetáculos, exposições. Inclui releases, letras, mesósticos, poema visual, pseudo-doublets, entrevistas. Dos anos 1980 até hoje.

Em foco, as obras de grandes compositores-letristas surgidos na primeira metade do século vinte (Orestes Barbosa, Noel, Lamartine, Caymmi; Gershwin, Porter, Berlin); nos anos 1960 (Caetano, Gil, Chico, Tom Zé, Dylan, Lennon etc.); as relações entre poesia literária e de canção; Vinicius; além de uma diversidade de criadores – de Itamar aos Racionais, Peninha a Aldo Brizzi.

Direção de criação: Lenora de Barros; arte: Renata Zincone. Introduções de Francisco Bosco, Marcelo Tápia, Zeca Baleiro, Péricles Cavalcanti e Luiz Chagas.

Preço: R$ 42

CR apresenta curso sobre Chico Buarque no CeU Maria Antonia

O curso TEMA, FORMA E ESTILO EM CHICO BUARQUE será ministrado no Centro Universitário Maria Antonia (São Paulo) nos próximos dias 28 de maio, 3 e 10 de junho 2014 – das 20h às 22h30. Mais informações podem ser obtidas em
http://www.mariantonia.prceu.usp.br/?q=encontros/chico-buarque-tema-forma-e-estilo ou pelos telefones (11) 3123-5213 / 5214.

Em foco, a poesia da música de um dos maiores autores de canção do mundo. A sua magistral combinação de palavras e sons; o status literário de suas letras; o rimário sofisticado e a exploração da sonoridade. As aliterações criativas; os originais jogos lingüísticos; os sistemas rímicos eruditos; o virtuosismo no manejo dos versos. A poesia social e libertária.

Sincronicidade

Se eu penso em você
Meu marrom-glacê
Logo você dá de
Me ligar sem ninguém saber por quê

Se você, meu bem
Pensa em mim também
Por casualidade
Logo eu apareço aí, vindo do além

Nossa sincronicidade é tão mágica
Que nos conecta sem nenhuma lógica
(Nossa) sincronicidade maluca, é
Tal como um beque tal como um néctar
Para mim e pra você

Se eu penso em ti
Oh meu açaí
Sem causalidade
Chega um torpedo teu logo por aqui

Sim, é sempre assim
Pra você e pra mim
E pra sempre há de
Ser assim para nós dois até o fim

Nossa sincronicidade é tão mágica
Que nos conecta sem nenhuma lógica
(Nossa) sincronicidade maluca, é
Tal como um beque tal como um néctar
Para mim e pra você

Nossa sincronicidade é tão mágica

Artigo do Professor Pasquale sobre “Ecos do ´Ão´”

“Ecos do ão”
ENQUANTO ECOA pelo país o “Pentacampeão!”, minha mente viaja e se lembra de uma bela letra da moderna canção brasileira, “Ecos do Ão”, de Lenine e Carlos Rennó: “Rebenta na Febem rebelião/ um vem com um refém e um facão/ a mãe aflita grita logo: não!/ e gruda as mãos na grade do portão/ aqui no caos total do cu do mundo cão/ tal a pobreza, tal a podridão/ que assim nosso destino e direção/ são um enigma, uma interrogação/ e, se nos cabe apenas decepção,/ colapso, lapso, rapto, corrupção?/ e mais desgraça, mais degradação?/ concentração, má distribuição?/ então a nossa contribuição não é senão canção, consolação?/ não haverá então mais solução?/ não, não, não, não, não…/ (…) mas, se nós temos planos, e eles são/ o fim da fome e da difamação/ por que não pô-los logo em ação?/ tal seja agora a inauguração/ da nova nossa civilização/ tão singular igual ao nosso ão/ e sejam belos, livres, luminosos os nossos sonhos de nação”.
Quanto ao conteúdo, a letra dispensa comentários. Como diria Belchior, “ao vivo, é muito pior”. Concentremo-nos, pois, num dos aspectos formais do texto. O leitor certamente notou que à triste e dura temática foi associado um dado linguístico importante: o “ão” (“tão singular igual ao nosso ão”). Eis um belo exemplo de como é possível unir forma e conteúdo. Em outras palavras, os autores pregam a idéia de que a solução de nossos problemas deve ter nossa marca.
Mas o “ão” nem sempre é solução. Guimarães Rosa já dizia que “pão ou pães, é questão de opiniães”. Em rigor, Guimarães tem razão, uma vez que são as “opiniães” dos usuários que estabelecem que o plural de “mão” seja “mãos”, que o de “cão” seja “cães” e que o de “coração” seja “corações”.
Mas a coisa nem sempre é tão simples assim. Atire a primeira pedra aquele que nunca se viu perdido diante do plural de alguma palavra terminada em “ão”! Genericamente, essas palavras fazem o plural em “ões” (portão/ portões, sabão/sabões etc.), mas não são poucas as que o fazem em “ães” (alemão/alemães, pão/ pães) ou “ãos” (grão/grãos, mão/ mãos). Na dúvida, a melhor saída é mesmo um dicionário.
Bem, sobre essa história do “ão”, parece conveniente pôr o dedo numa questão importante: se o “nosso” da letra de “Ecos do Ão” (“tão igual ao nosso ão”) se refere à língua dos brasileiros, refere-se à de todos os lusoparlantes. Posto isso, não resisto à tentação de lembrar que, em Portugal, terminam em “ão” (“protão”, “eletrão”, “neutrão”, oxítonas) algumas das palavras que no nosso português terminam em “on” (“próton”, “elétron”, “nêutron”). Como se vê, as “opiniães” vão mais longe do que supomos.
Para encerrar, duas palavras sobre “pentacampeão” etc. Mal terminou o jogo contra a Alemanha, o pessoal de rádio e televisão se pôs a falar do “hexa”. “Hexa”, que vem do grego e significa “seis”, está presente em vários termos técnicos (“hexápode”, “hexágono”, “hexagonal” etc.). O problema é a pronúncia: o “Aurélio”, o “Vocabulário Ortográfico” e o dicionário de Caldas Aulete recomendam que o “x” de todas essas palavras seja lido como “cs”; o “Houaiss” sugere que se leia esse “x” como “z”. É isso.

Pasquale Cipro Neto

(Publicado no jornal “Folha de São Paulo”, em 4 de Julho de 2002)

Crisálida-Borboleta

teteasasdoetereocapacd

(composição de 1984)

De palavra a palavreta
Crisalita a brisoleta
De lagarta a borboletra
A crisálida

Desencasula a crisálida
Aquarela alada, crisálita
Em lazulita, crisólita
Quem deslinda uma linguagem insólita?

Criso-briso-bribo-boiboleta ao pleniléu
Asalegre bela pelepétala de papel
Libralisa a brisa lindesliza a lisabrir
Butterflyingflower deflowerer fleeting like a flee

Borboleta
Extravagante e travessa
Vagabunda transmutante qual um travesti

Soneto de Glauco Mattoso dedicado a Carlos Rennó

#1199 SONETO DO AQUECIMENTO GLOBAL (para Carlos Rennó) [abril/2007]

Fallar de “aquecimento” ja não faz
apenas referencia ao jogador
de bola ou ao commercio: o divisor
das aguas é o que existe por detraz.

Agora de “emissão”, de “estufa” e “gaz”
se falla. Antigamente, o defensor
da Terra, em vez de guerra, fez amor,
foi “hippie” e “ecologista”… Hoje, é mordaz:

– Bem feito! Não fallei? Vocês diziam
que estavamos no mundo mais lunar!
Tardou, mas disso se penitenciam!

Si esperam do planeta algum logar
de vida e não de morte, não me riam
do rotulo: “Lar, agua doce lar”!

(Publicado no livro “Mil e uma línguas”, de 2008)

TEMA, FORMA E ESTILO EM CHICO BUARQUE

Em foco, fatores importantes no processo de criação de Chico, particularmente a sua poesia, como a correspondência entre seus versos e melodias e o status literário, paralelamente aos temas abordados (de implicações políticas, sociais, o lírico-amoroso, o “feminino”), de suas letras; o rimário sofisticado e a exploração da sonoridade. Aí se incluem tópicos como as aliterações criativas; os originais jogos lingüísticos; as relações de som e sentido, significado e significante; os sistemas rímicos eruditos, como os polifônicos; o virtuosismo no manejo dos versos. O compositor-letrista é situado, ao lado de Caetano Veloso, Cole Porter e Bob Dylan, entre os maiores compositores-letristas dos últimos cem anos. Partindo da abordagem das inventivas e magistrais combinações de palavras e sons que ele promove em suas canções, o curso destaca análises, entre outras, das seguintes canções: “Construção”, “O Futebol”, “Bancarrota Blues”, “Iracema Voou”, “A História de Lily Braun”, “O Que Será (À Flor da Pele)”, “Atrás da Porta”, “Bárbara”, “A Rosa”, “Paratodos” e “Flor da Idade”.

Carreira

– Carlos Rennó é letrista de música popular, produtor artístico e jornalista.

– Entre outras canções com letras suas, destacam-se: “Todas Elas Juntas Num Só Ser” (composta com e gravada por Lenine no CD “In Cittè” e por Ana Carolina em “Ensaio de Cores”); “Escrito nas Estrelas” (composta com Arnaldo Black e gravada por Tetê Espíndola); “Façamos” (versão de “Let’s Do It”, de Cole Porter, gravada por Chico Buarque e Elza Soares no CD “Cole Porter e George Gershwin – Canções, Versões” e tema de abertura da novela “Desejos de Mulher”, da Rede Globo); “To Be Tupi” (composta com e gravada por Lenine no CD “Na Pressão” e música-tema do filme “Caramuru”); “Mar e Sol” e “Sexo e Luz” (com Lokua Kanza, por Gal Costa, no CD “Hoje”); “Fogo e Gasolina” (com Pedro Luís, gravada por Roberta Sá e Lenine, no CD “Que Belo Estranho Dia Pra Se Ter Alegria”); “Átimo de Pó” (com e por Gilberto Gil, no CD “Quanta”); e “Bem-Bom” (com Arrigo Barnabé e Eduardo Gudim, gravada por Gal Costa no disco “Bem-Bom”).

– Seus principais parceiros até hoje são Tetê Espíndola, Arrigo Barnabé, Lenine, Pedro Luís, Lokua Kanza, Chico César, Paulinho Moska e Arnaldo Black. O autor também já fez músicas com Gilberto Gil, João Bosco, Rita Lee, Tom Zé, Vicente Barreto, Marcelo Jeneci, Roberta Sá, Moreno Veloso, Ana Carolina, Gustavo Ruiz, Leo Cavalcanti, Zé Miguel Wisnik, Hermelino Neder, Eduardo Gudim, Walter Santos e Wilson Simoninha (mais parceiros, mais abaixo).

– Os cantores que mais gravaram canções com letras suas até hoje são Tetê Espíndola, Gal Costa, Roberta Sá, Lenine e Arrigo Barnabé. Vêm a seguir: Chico César e João Bosco; Ana Carolina, Carlinhos Brown, Elba Ramalho, Eliete Negreiros, Elza Soares, Flávio Henrique, Gilberto Gil, Ná Ozzetti, Ney Matogrosso, Paula Lima, Paula Morelenbaum, Sandra de Sá, Vania Bastos, Wilson Simoninha e Zélia Duncan.

– Outros intérpretes: Beto Lee, Caetano Veloso, Carlos Fernando, Cássia Eller, Chico Buarque, Dominguinhos, Ed Motta, Emilio Santiago, Erasmo Carlos, Fiorella Manoia, Jane Ducob, Jussara Silveira, Lô Borges, Luciana Souza, Maria Bethânia, Mariana Aydar, Maria Rita, Monica Salmaso, Moreno Veloso, MPB-4, Negra Li, Olivia Hime, Patricia Marx, Paula Toller, Paulinho da Viola, Sarajane, Sérgio Britto, Seu Jorge, Suzana Salles e Tom Zé.

– Em 1985, Carlos Rennó venceu o Festival dos Festivais, da Rede Globo, como co-autor de “Escrito nas Estrelas” (parceria com Arnaldo Blak), defendida por Tetê Espíndola.

– Em 2000, lançou, como produtor artístico e versionista, o CD “Cole Porter e George Gershwin – Canções, Versões” (Geléia Geral, 2000), com versões de sua autoria cantadas por nomes da MPB (Caetano Veloso, Gilberto Gil, Chico Buarque, Elza Soares, Rita Lee, Tom Zé, Cássia Eller, Zélia Duncan, Sandra de Sá, Paula Toller, Ed Motta, Carlos Fernando, Jane Duboc, Jussara Silveira e Mônica Salmaso) e produção musical de Rodolfo Stroeter.

– Em 2005, recebeu, com seu parceiro Lenine, o prêmio Tim de “Canção do Ano”, pela composição “Todas Elas Juntas Num Só Ser”.

– Em 2009, lançou, como versionista e produtor artístico, o CD “Nego” com versões para o português de standards norte-americanos dos anos 20 a 40 do século passado, produção musical e arranjos de Jaques Morelenbaum e participação de Gal Costa, Erasmo Carlos, João Bosco, Elba Ramalho, Dominguinhos, João Donato, Maria Rita, Seu Jorge, Moreno Veloso, Carlinhos Brown, Gabriel o Pensador, Zélia Duncan, Paula Morelenbaum, Ná Ozzetti, Simoninha, Emilio Santiago e Olivia Hime; pela gravadora Biscoito Fino.

– Três canções e, por nove vezes, versões suas já integraram trilhas de novelas, a maioria da Rede Globo.

– Carlos Rennó é autor do livro “Cole Porter – Canções, Versões” (Paulicéia, 1991), com participações de Augusto de Campos, Caetano Veloso e Cláudio Leal Ferreira, e organizador de “Gilberto Gil – Todas as Letras” (Companhia das Letras, 1996; edição atualizada e ampliada, 2003).

– Tem textos publicados em livros de autoria coletiva como “Música Popular Brasileira Hoje” (da coleção “Folha Explica”; Publifolha, 2002; com um artigo sobre Caetano Veloso) e “Literatura e Música” (Senac São Paulo e Itaú Cultural; com o ensaio “Poesia literária e poesia de música: convergências”).

– Tem dezenas de artigos sobre música popular publicados em jornais (principalmente “Folha de S.Paulo”) e revistas (como “Bravo”), ao longo dos últimos trinta anos. Em 2001/2, escreveu os textos dos vinte sites (cada um sobre um compositor ou cantor da primeira metade do século vinte) da série “Os Inventores da Música Brasileira”, para o portal UOL.

– Entre 1994 e 1995, concebeu e produziu, no Museu da Imagem e do Som de São Paulo, duas séries de espetáculos. “Sempre-Novas” – 14 espetáculos sobre compositores brasileiros do passado, com Luiz Melodia (em show cantando Geraldo Pereira), Jorge Mautner (Wilson Batista), Itamar Assumpção (Ataulfo Alves) e Carlos Fernando (Ary Barroso), entre outros. E “Encontros com o Século XX” – de espetáculos sobre compositores eruditos de vanguarda, com músicos como Clara Sverner, John Boudler, Martha Herr, Luís Eugênio Afonso e Paulo Álvares.

– Em 1998, concebeu e produziu o CD “Canções do Divino Mestre”, encartado no livro “Canção do Divino Mestre” (Companhia das Letras, 1998), do poeta Rogério Duarte, com as participações de Arnaldo Antunes, Arrigo Barnabé, Belchior, Cássia Eller, Chico César, Elba Ramalho, Gal Costa, Geraldo Azevedo, Gilberto Gil, Jussara Silveira, Lenine, Moreno Veloso, Siba e Tom Zé.

– Em 2004, no MIS-SP, foi curador e produtor da série “Estudos”, misto de palestra e show, sobre cantores e compositores do passado da música brasileira. Participaram, entre outros, Zélia Duncan (em apresentação sobre Aracy de Almeida), Tom Zé (João Gilberto), Max de Castro (Ataulfo Alves), Moreno Veloso (Assis Valente), Ná Ozzetti (Carmen Miranda) e Luiz Tatit (Dorival Caymmi).

– Em 2005, se responsabilizou pela pesquisa e pelo levantamento do repertório do disco de Gal Costa “Hoje”.

– Em 2006, apresentou (e roteirizou) o programa “Uma Vez, Uma Canção”, da TV Cultura, de São Paulo.

– No mesmo ano, concebeu e foi o diretor artístico do projeto “Pais e Filhos”, série de shows por unidades do Sesc de São Paulo em 2006-7 (com apresentações de Caetano e Moreno Veloso, Moraes Moreira e Davi Moraes, Edu e Bena Lobo, Ivan e Claúdio Lins, Beto, Gabriel e Ian Guedes, entre outros).

– Carlos Rennó já ministrou cursos, oficinas e palestras sobre canção popular em São Paulo e outras cidades (do interior de São Paulo e de outros estados, como Rio Grande do Sul, Paraná, Mato Grosso do Sul, Paraíba). De 2001 para cá, vem dando cursos, oficinas e workshops em eventos e locais como: Festival Brasil NoAr, na Universidade de Barcelona, Espanha; Jornada Literária de Passo Fundo-RS; Festival de Inverno de Bonito-MS; Conjunto Cultural da Caixa, em Brasília e em São Paulo; unidades do Sesc de Vila Mariana, da Pompeia, de Pinheiros e da Consolação, em São Paulo, e de Santos, São Carlos, Santo André, Araraquara, Piracicaba e Taubaté-SP; Instituto Cultural Itaú, Universidade Livre de Música, Museu da Imagem e do Som, Casa Guilherme de Almeida, Instituto Tomie Ohtake, Centro Universitário Maria Antonia (USP), USP (Faculdade de Letras), Fasm (Faculdade Santa Marcelina de Música) e O Beco, em São Paulo. Os temas têm variado, indo das convergências entre poesia literária e poesia de canção, tradução de poesia literária e versão de canção, às relações e ao casamento entre letras e músicas; de canções de Chico Buarque e Caetano Veloso a canções de Lupicínio Rodrigues.

– Outros parceiros de Carlos Rennó: Aldo Brizzi, Alzira Espíndola, Antonio Pinto, Arnaldo Antunes, Beto Lee, Beto Villares, Bozo Barretti, Celito Espíndola, Cid Campos, Geraldo Espíndola, Glauco Mattoso, Iara Rennó, João Cavalcanti, Jota Veloso, Kiko Dinucci, Luiz Tatit, Lula Queiroga, Mário Adnet, Mário Sève, Moraes Moreira, Nelson Ascher, Paçoca, Paulo Tatit, Peninha, Roberto de Carvalho, Rogério Duarte, Sandra de Sá, Sérgio Britto, Skowa, Vitor Ramil, Wagner Argolo, Zé Renato e Zeca Baleiro.

– Outros intérpretes: Alzira Espíndola, Camilo Frade, Drê, Elisa Paraíso, Lírio Selvagem, Patricia Talem, Regina Machado, Roberto de Carvalho, Tito Lys e Tuca Fernandes.

– Carlos Rennó nasceu em 1956, em São José dos Campos, estado de São Paulo. Nos anos 70 morou em Campinas e Campo Grande. Vive em São Paulo desde 1978. Formou-se jornalista pela Faculdade Cásper Líbero, de São Paulo, em 1985.

TEMA, FORMA E ESTILO EM GILBERTO GIL

A análise dos versos de Gil sob o aspecto sonoro, pondo em foco a criatividade de seu rimário – no qual sobressaem rimas de som e de sentido, raras e leoninas – e o alto nível de suas aliterações, ressaltando nestas as relações especiais entre signos e significados. São focalizadas, também, as relações de equivalência entre certas palavras cantadas e as notas correspondentes na melodia (isomorfismo verbomusical), além de jogos de palavras e ideias entre os versos. Enfim, uma série de procedimentos que colaboram para fazer de Gil um mestre da melopeia, a espécie de poesia impregnada de musicalidade, de nossos tempos. No repertório, canções como “Domingo no Parque”, “A Novidade”, “Palco”, “Metáfora”, “Punk da Periferia”, “Pessoa Nefasta”, “Se Eu Quiser Falar com Deus” e “A Linha e o Linho”, entre outras.

TEMA, FORMA E ESTILO EM CAETANO VELOSO

Em relevo, os elementos que colaboram para a riqueza formal e estilística na poética da obra de Caetano. Aspectos de suas letras como: a sonoridade, com destaque para o seu rimário rico, inventivo e sofisticado; para o emprego de aliterações e anagramas; de medidas poéticas clássicas e de formas de natureza vanguardista; as composições de palavras de inspiração joyceana; as citações poéticas cultas; as musicalizações de poemas concretistas; as relações de equivalência entre palavras e notas musicais. Enfim, uma série de procedimentos que concorrem para fazer de Caetano um grande mestre da melopeia, a espécie de poesia impregnada de musicalidade, de nossos tempos. Um artista que, atuando no âmbito da canção pop, rompe com os limites entre alta e baixa cultura, cultura popular e erudita, poesia e letra de música. Em pauta, canções como “Alegria, Alegria”, “A Tua Presença”, “Oração ao Tempo”, “London London”, “Sampa”, “Escândalo”, “Vaca Profana” e “Rapte-me, Camaleoa”, entre várias outras.