Mácula

Como negar esse mal,

Essa mácula,

Essa marca trágica,

A bruta chaga                

Tão real,

Tão áspera,

Da brutal diáspora.

Sendo já um mal implícito,

Alguns alegam que não há.

Porém negar o ilícito

Ao negro é negar

O seu direito de viver

E de ser

Livre, sem temor,

Sem ser

Preso pela sua cor

Um terror!

Como apagar esse borrão
Dessa página

Duma tal abolição

Sem uma paga?

Já outra lágrima
Cai por mais um negro irmão.

Eis aí mais uma vítima

Da desumanização.

Por isso tão legítima

É a reparação

E seu direito de viver

E de ser

Livre, sem temor,

Sem ser
Morto  pela sua cor.

Um terror!

Para negar esse mal,
Essa mácula,

Essa marca estrutural

Que tudo estraga,

Só sendo um crápula,

Um sinhô ou um boçal,

Uma praga.

Já um chamado à prática

Convida o branco a se alinhar

Na luta democrática

E ao negro se aliar

Por seu direito de viver

E de ser

Livre, sem temor,

Sem ser
Suspeito pela sua cor.

Como apagar esse mal,

Essa mácula!

Georgia Na Minha Mente (Georgia On My Mind)

Georgia, Georgia… as horas vão 

E da minha mente Georgia não sai mais

Georgia, Georgia, tua canção 

Vem tão clara como o luar nos coqueirais

Outras mãos me dão aqui

Outro olhar sorri prá mim

Mas num sonho em paz eu vi

Que eu vou voltar prá ti 

Georgia, Georgia, não tenho paz 

Pois da minha mente Georgia não sai mais

Escrita em 2012

*

Georgia on my Mind

Georgia, Georgia

The whole day through
Just an old sweet song keeps Georgia on my mind

Georgia, Georgia, a song of you
Comes as sweet and clean as moonlight through the pines

Other arms reach ot to me
Other eyes smile tenderly
Still in peaceful dreams

I see  The roads leads back to you

Georgia, Georgia, no peace I find
Just an old sweet song keeps Georgia on my mind

Raia o Luar (How High The Moon)

Onde tem música
Encanto há
No paraíso
Raia o luar

No céu não há luar
Pra quem o amor nunca vê
Até você me amar
Como eu amo você

Onde tem música
Você está
No paraíso
Aqui ou lá

A noite irá brilhar
Se você não demorar
Por ora chora o coração
Sai o luar

Escrita em 2012

*

How High The Moon

(Morgan Lewis e Nancy Hamilton)

Somewhere there’s music
How faint the tune
Somewhere there’s heaven
How high the moon

There is no moon above
When love is far away too
Till it comes true
That you love me as I love you

Somewhere there’s music
It´s where you are
Somewhere there’s heaven
How near, how far

The darkest night would shine
If you would come to me soon
Until you will, how still my heart
How high the moon

Desejo Amor (I Wish You Love)

Eu lhe desejo uma canção
De um sabiá pro coração
E um beijo mas
Um algo mais,
Desejo amor.

E lhe desejo o frescor
De uma cerveja no calor,
E aí, tintim,
Mais que dindim,
Desejo amor.

Pra mim e o pobre peito meu,
Você e eu não dá, não deu.
Então, sem mais,
Tudo de bom,
Lhe deixo em paz.

E lhe desejo algum chalé
Com a lareira, a chaminé
E o principal,
No inverno mau,
Desejo amor.

Escrita em 2012

*

I Wish You Love

(Léo Chauliac e Charles Trenet; Albert A. Beach) 

I wish you bluebirds in the spring,
To give your heart a song to sing,
And then a kiss,
But more than this,
I wish you love.

And if you like a lemonade
To cool you in some lazy glade,
I wish you health,
And more than wealth,
I wish you love.

My breaking heart and I agree
That you and I could never be.
So with my best,
My very best,
I set you free.

I wish you shelter from the storm,
A cozy fire to keep you warm,
But most of all,
When snowflakes fall,
I wish you love.

Ninguém Irá Tirar de Mim (They Can’t Take That Away From Me)

O jeito que tu pões
Chapéu e tomas chá
Essas recordações,
Não, não! De mim ninguém irá tirar.

Teu jeito de sorrir
E de desafinar,
Meus sonhos invadir,
Não, não! De mim ninguém irá tirar.

Se jamais, jamais nos virmos mais
Na viagem para o amor,
Inda assim, lembrar
Eu sempre, sempre vou

Teu jeito de comer
E até às seis dançar,
Mudar o meu viver,
Não, não! De mim ninguém irá tirar.

Não! De mim ninguém irá tirar.

*

They Can’t Take That Away From Me)

(George e Ira Gershwin)

The way you wear your hat,
The way you sip your tea,
The memory of all that –
No, no! They can’t take that away from me!

The way your smile just beams,
The way you sing off key,
The way you haunt my dreams –
No, no! They can’t take that away from me!

We may never, never meet again
On the bumpy road to love,
Still I´ll always, always keep
The mem´ry of –

The way you hold your knife,
The way we danced till three,
The way you´ve changed my life –
No, no! They can’t take that away from me!

No! They can´t take that away from me!

Leve-me (All Of Me)

Leve-me
Inteira, leve-me
Olha aqui
Sem você não vivo


Pegue meus
Braços e use
Leve meus
Lábios e abuse


Seu adeus
Choram os olhos meus
Como eu seguirei agora?

Você levou O meu coração
Me leve inteira, então!

Escrita em 2012

*

All Of Me

(Seymor Simons e Gerald Marks)

All of me
Why not take all of me?
Can’t you see
I’m no good without you

Take my lips
I want to lose them
Take my arms
I’ll never use them

Your goodbye
Left me with eyes that cry
How can I go on, dear, without you?

You took the part
That once was my heart
So, why not take all of me?

Nunca Vai Haver Outro Você (There Will Never Be Another You)

Mais noites como essa vão rolar,
Que junto a outro alguém eu vou viver.
Vai sempre haver outro verão,
Mais um luau, outra canção,
Mas nunca vai haver outro você.


Mais outros lábios vou poder beijar,
Mas como os seus não vão me estremecer.
Mil sonhos vou poder sonhar,
Nenhum acontecer,
Pois nunca nunca vai haver outro você.

Escrita em 2012

*

There Will Never Be Another You

(Harry Warren e Mack Gordon)

There will be many other nights like this,
And I’ll be standing here with someone new.
There will be other songs to sing,
Another fall…another spring…
But there will never be another you.


There will be other lips that I may kiss,
But they won’t thrill me like yours used to do.
I may dream a million dreams,
But how can they come true,
If there will never, ever be another you?

Meus Olhos Só Vêem Você (I Only Have Eyes For You)

Tá o céu estrelado?
Eu não sei se tá claro ou nublado
Pois meus olhos só vêem você

A lua ascendeu
Mas eu não vejo nada no céu
Pois meus olhos só vêem você

Não sei se estamos num jardim ou
Numa avenida, num auê

Tô aqui, cê também
Mil pessoas talvez vão e vêm
Todos somem porém, porque
Os meus olhos só vêem você

Escrita em 2012

*

I Only Have Eyes For You

(Harry Warren e Al Dubbin)

Are the stars out tonight? 
I don’t know if it’s cloudy or bright 
‘ Cause I only have eyes for you


The moon may be high 
But I can’t see a thing in the sky 
‘ Cause I only have eyes for you 

I don’t know if we’re in a garden 
Or on a crowded avenue
 
You are here, so am I 
Maybe millions of people go by 
But they all disappear from view 
And I only have eyes for you

Noite e Dia (Night and Day)

Noite e dia, só tu, meu bem,
Sob a Lua e sob o Sol não há mais ninguém.
Longe ou perto, coração,
Não importa onde estejas, não,
Eu penso em ti noite e dia.

Dia e noite, por que será
Que a paixão por ti me segue por onde eu vá?
No rumor das ruas, oh,
No silêncio do meu quarto só,
Eu penso em ti, noite e dia.

Noite e dia, bem fundo, ai de mim,
Uma fome tamanha teima, queima e não sai de mim.
Pra ter fim o meu sofrer,
Deixa te fazer amor enquanto eu viver,
Dia e noite, noite e dia.

Escrita em 2012

*

Night and Day

Night and day, you are the one,
Only you beneath the moon and under the sun.
Whether near to me or far,
It´s no matter, darling, where you are,
I think of you day and night.

Night and day, why is it so
That this longing for you follows wherever I go?
In the roaring traffic´s boom,
In the silence of my lonely room,
I think of you night and day.

Night and day, under the hide of me
There´s an, oh, such a hungry yearning burning inside of me.
And its torment won´t be through,
Till you let me spend my life making love to you,
Day and night, night and day.

Common Place (Lugar Comum)

Down by the sea
A common place
Commencing a journey to
The edge of another space

Down by the sea
And all seas are one
Commencing a journey to
Inside the full deep of blue

The waters will splash
The wind, it will blow
The fire of the sun
The salt of the Lord

And all things, they come
And all things, they go
Go back to that place
From where all things flow

Escrita em 2014

*

Lugar Comum

(Gilberto Gil e João Donato)

Beira do mar
Lugar comum
Começo do caminhar
Pra beira de outro lugar

Beira do mar
Todo mar é um
Começo do caminhar
Pra dentro do fundo azul

A água bateu
O vento soprou
O fogo do sol
O sol do senhor

Tudo isso vem
Tudo isso vai
Pro mesmo lugar
De onde tudo sai

Dês

Dês que você
Ficou aqui,
A mais ninguém
Com quem saí
Eu desejei
Com tal calor
E dediquei
Tão doce amor.

Querer-lhe bem
Assim me faz
Querer também
A quem lhe apraz,
E até por seu bem
Eu tenho afeição,
Que nem por seu pai
E por seu irmão.

Como o sol que desponta,
Esse amor me ilumina;
Nada mais me encanta
Que você, menina.

Canções engajadas

Maria do Céu

Se a Nasa me convidasse
Para um passeio no espaço
Eu viajaria ao léu
Ao lado das lamparinas
Das estrelas peregrinas
Na romaria do céu

E teria o visual
Belíssimo, celestial
Da Terra azul no painel
Qual uma bola boiando
Da qual me distanciando
Me aproximaria do céu

E de repente, de um salto
Que a nave desse pro alto
Subiria sob o véu (*)
Que a chuva de luz de prata
Caindo que nem cascata
Derramaria do céu

Ante o turbilhão de astros
De planetas e desastres
E cometas pra dedéu (de déu em deu)
Meu coração astronauta
Lá do alto exclamaria:
Viche Maria do céu!

Variantes:

(*) Eu me cobriria com o véu
Da chuva de luz de prata
Caindo que nem cascata
Que se derramaria do céu

()Meu coração na vertigem ()
Da visão exclamaria:
Virgem Maria do céu!

*

Canção pra Amazônia

Maior floresta tropical da Terra
A toda hora sofre um duro golpe.
Contra trator, corrente, motosserra,
A bela flora clama em vão: “Me poupe!”
Porém tem uma gente surda e cega
Para a beleza e o valor da mata,
Embora o mundo grite que já chega
Pois é a vida que o desmate mata.

Mais vasta ainda todavia é a devastação e o trauma:
Focos de fogo nos sufocam fauna, flora e até a alma.

Amazônia!
Razão de tanta insânia e tanta insônia!
Amazônia!
Objeto de omissão e ação errônea!
Amazônia!
É sem igual, sem plano B nem clone a
Amazônia!

Desmonte pra desmate e desvario
Liberam a floresta no Brasil
Pro agrobiz e pra mineração,
Pra hidrelétrica, pra exploração.
Recompensando o crime ambiental,
Desregulando o clima mundial,
Negam ciência, incêndio e derrubada.
Negando, vão passando a boiada.

Que ignorância, repugnância, a cada lance, a cada vídeo!
Que grande bioecoetnogenomatrisuicídio!

Amazônia!
Abaixo o (des) governo que abandone a
Amazônia!
Não mais a soja, o pasto que seccione a
Amazônia!
Não mais a carne, o prato que pressione a
Amazônia!

Dos povos da floresta sob pressão,
O indígena, seu grande guardião,
Em comunhão com ela há milênios,
Nos últimos e trágicos decênios
Vem vendo a mata sendo ameaçada
E cada terra deles atacada
Por levas de peões de poderosos
Com planos de riqueza horrorosos.

É invasão!, destruição!, ódio a quem são seus empecilhos!
Eles não pensam no amanhã nem do planeta nem dos próprios filhos!

Amazônia!
Abaixo o madeireiro que detone a
Amazônia!
Abaixo o garimpeiro que infeccione a
Amazônia!
Abaixo o grileiro que fraciona a
Amazônia!

Mais valiosa que qualquer minério,
Tragada pela mata que transpira,
A água que evapora sobe e vira
De veio subterrâneo a rio aéreo.
Mais volumosos do que o Amazonas,
Os rios voadores distribuem
Seus límpidos vapores que afluem
Ao Centro-Sul, chegando noutras zonas.

Então como é que na floresta mais chuvosa o fogo avança,
E ardendo em chamas nela queima de futuro uma esperança?

Amazônia!
Não mais um mandatário que intencione a
Amazônia,
Nem mais um empresário que ambicione a
Amazônia
Pra mais um ciclo de nação-colônia.
Amazônia!

Visão monumental que maravilha
Obra da natureza que exubera
De cores, seres, cheiros, som, de vida
Tão pródiga, tão pura, tão diversa
A fábrica de chuva mais prolixa
A máquina do mundo mais complexa
O doceanoverdeparaíso
O coração pulsante do planeta

Quinze mil árvores contudo agora estão indo pro chão.
Quinze mil vidas derrubadas só durante o tempo desta canção!…

… Amazônia…
Que nem desmatamento desmorone a
Amazônia!
E nem desmandamento deixe insone a
Amazônia!
E nem o aquecimento desfuncione a
Amazônia!

O que o índio viu, previu, falou,
Também o cientista comprovou.
Desmate aumenta, o clima seco aquece
A mata, o céu e a Terra, que estarrece.
Esse é o recado deles, lá no fundo:
Salve-se a selva ou não se salva o mundo!
Pra não torná-los um inferno, um forno,
Salve a Amazônia do ponto sem retorno!

Será que ainda tá em tempo ou o timing disso já perdemos?
Pois, evitemos pelo menos os eventos mais extremos.

Amazônia…
Quando afinal o homem dimensione a
Amazônia,
Que venha a ter valido a nossa insônia
– Amazônia –,
Enquanto nos encante e emocione a…
Amazônia!

Salve a Amazônia!
Salve-se a selva ou não se salva o mundo!

O Relógio do Juízo Final

No mar, no rio, na lagoa, a água clara;
No céu mais limpo, o pôr mais lindo, a imagem rara;
E um ar tão puro que ninguém imaginara.
Por um período breve apenas, anormal,
Na quarentena humana inédita, afinal,
Medrou na cena urbana a vida natural.

E enquanto um índio dono de um saber profundo
Propaga ideias pra adiar o fim do mundo,
Um cara-pálida fascista em potencial,
Negativista violento do real,
Tão virulento quão pandêmico-viral,
Acelera o Relógio do Juízo Final.

Quando é que vamos aprender a diferença
Entre quem quer que a Terra-Gaia lhe pertença
E quem pertence a ela, é dela de nascença?
Somos do mal, o mal da Terra, não o sal.
Matamos a metade do reino animal,
Tamos rapando o vegetal e o mineral.

Se um povo dito primitivo e vagabundo
Trabalha e dança pra adiar o fim do mundo,
A tal da civilização ocidental,
“Desenvolvida, evoluída, racional”,
Queima e arrasa a própria casa, com quintal,
E apressa o Relógio do Juízo Final.

Quando é que vamos nos guiar por uma lógica
Mais ecológica do que mercadológica
Ou econômica, por uma bio-lógica?
Ver que não somos uma espécie central
Na biodiversidade da Terra, da qual
Nós temos sido parasitas, na real.

Enquanto um quilombola de onde é oriundo
Batuca e samba pra adiar o fim do mundo,
O ruralista duma escola colonial,
O pecuarista numa escala industrial,
Monocultura e racismo ambiental,
Adiantam o Relógio do Juízo Final.

E como para o homem vai haver escape se
A emissão de gases atingiu um ápice,
E há previsão de que a Amazônia colapse?
E tá na gênese um “Apocalypse Now”,
Em que a temperatura média mundial
Aumenta igual ou mais que um e meio grau?

Enquanto um cientista de um labor fecundo
Emite alertas pra adiar o fim do mundo,
Negacionistas do aquecimento global,
Negociantes do petróleo, do pré-sal,
Fiéis à fé neoliberal do capital,
Aceleram o Relógio do Juízo Final.

Quando é que vamos acordar em quanto é vão
Um crescimento que produz destruição?
Que não há redenção sem distribuição,
Sem queda na desigualdade social
E na pegada de carbono atual,
E sem um “bem viver” em um “novo normal”?

Enquanto uma ativista foda, que vai fundo,
Protesta e luta pra adiar o fim do mundo,
A companhia múlti, pan, transnacional,
Qual o sinistro antiministro ambiental,
Qual o grileiro, o garimpeiro ilegal,
Acelera o Relógio do Juízo Final.

Pensando nisso tudo, em hora tão dramática,
Temendo nossa sina trágica e errática,
Me assombra a sombra de uma mutação climática
E duma guerra cibernética fatal,
Dum uso mau da inteligência artificial
E dum conflito nuclear final, total.

Se tudo, entanto, pode estar por um segundo,
Eu canto cantos pra adiar o fim do mundo,
Pra me reconectar à mãe original,
Recontactar minha memória ancestral
E ter o júbilo de estar vivo afinal,
Atrasando o Relógio…
Atrasando o Relógio…
Atrasando o Relógio… do Juízo Final.

The Doomsday Clock (O Relógio do Juízo Final)

Clean were the waters in the river, in the sea;

A lovely blue sky sunset was a sight to see; 

And none imagined air so pure and oh so free.

For just a brief abnormal span we’d never seen,

In social distancing, in human quarantine,

Like never Nature thrived in many urban scenes.

And while a native sage with wise and holy words

Transmits ideas to delay the end of the world,

A fascist pale-face who can´t even think or feel

Denies with violence what is right and what is real,
And all he does and says with virulence some way

Daily speeds up the Doomsday Clock, the Judgment Day.

When will we learn how different in their worth

Are those who strive to own our Gaia, our sweet Earth,

From those who just belong to her, ever since birth?

We are the evil of the Earth and not the salt.           

We killed most animals and yes we still assault

The realms of trees and minerals to a fault.

While peoples said to be still primitive do work
And dance so lively to delay the end of the world,

So modern, the civilization of the West,

“Developed, rational, evolved”, just the best,

Is burning, razing its own house and by the way

Now is hurrying the Doomsday Clock, the Judgment Day.

Oh when will we be guided by a logic
More ecological and cool than economical, 
And above all by what we´d call a bio-logic?   

And see that in the Earth´s bio-diversity 
We´re not the central species, not at all, 

But we´ve been parasites and that´s reality.

While in their homeland rural blacks have danced and whirled,
And go play samba to delay the end of the world,

The livestock farmer´s and the soy landowner´s ways,

With their colonial school and eco-racist sway,

Their monoculture and industrial scales, they

Always hurry the Doomsday Clock, the Judgment Day.

And will man manage any way out of the traps,
If gas emissions reach a peak and if perhaps

All Amazonia is forecast to collapse?

If an apocalypse begins in times like these,

When average global temperature comes to increase,

Oh God forbid, by more than one point five degrees?

While scientists of fruitful work who love the world

Are raising warnings to delay the end of the world,

Oil dealers and loud neoliberals who stay

Denying global warming, lying anyway,

With faith in capital do prey from June to May,

Thus they speed up the Doomsday Clock, the Judgment Day.

Oh when will we wake up and see how vain

Is growth that brings destruction with such pain,

No income distribution, no release from chains,

No drop at all in social inequality,

Nor in the current carbon footprint that we see,

No “living well” in a “new normal”, clean and free?          

And while a kick ass activist, a damn good girl  ,      

May cry and get up to delay the end of the world,    

The multi, pan, transnational company

And the environment-adverse un-ministry,       

Land-grabbers and all miners who laws won´t obey,

They all speed up the Doomsday Clock, the Judgment Day.

Thinking about it all in this dramatic hour,

Fearing this tragic and erratic fate of ours,

I’m haunted by the phantoms of climate mutations,

And of the use of AI with such vile vocation,

And of a fatal cyber war that some predict,

And of the end atomic conflict will inflict.

If all is on the verge of ending as I´ve heard,   

I sing and play songs to delay the end of the world,

To reconnect to Mother Nature naturally,

And to recontact my ancestral memory,

To feel the joy to be alive and to delay

And to slow down the clock…

And to slow down the clock…

And to slow down the clock…

And to slow down the Doomsday Clock, the Judgment Day.

O Relógio do Juízo Final

No mar, no rio, na lagoa, a água clara;
No céu mais limpo, o pôr mais lindo, a imagem rara;

E um ar tão puro que ninguém imaginara.
Por um período breve apenas, anormal,
Na quarentena humana inédita, afinal,
Medrou na cena urbana a vida natural.

E enquanto um índio dono de um saber profundo
Propaga ideias pra adiar o fim do mundo,
Um cara-pálida fascista em potencial,
Negativista violento do real,
Tão virulento quão pandêmico-viral,
Acelera o Relógio do Juízo Final.

Quando é que vamos aprender a diferença
Entre quem quer que a Terra-Gaia lhe pertença
E quem pertence a ela, é dela de nascença?
Somos do mal, o mal da Terra, não o sal.
Matamos a metade do reino animal,
Tamos rapando o vegetal e o mineral.

Se um povo dito primitivo e vagabundo
Trabalha e dança pra adiar o fim do mundo,
A tal da civilização ocidental,
“Desenvolvida, evoluída, racional”,
Queima e arrasa a própria casa, com quintal,
E apressa o Relógio do Juízo Final.

Quando é que vamos nos guiar por uma lógica
Mais ecológica do que mercadológica
Ou econômica, por uma bio-lógica?
Ver que não somos uma espécie central
Na biodiversidade da Terra, da qual
Nós temos sido parasitas, na real.

Enquanto um quilombola de onde é oriundo
Batuca e samba pra adiar o fim do mundo,
O ruralista duma escola colonial,
O pecuarista numa escala industrial,
Monocultura e racismo ambiental,
Adiantam o Relógio do Juízo Final.

E como para o homem vai haver escape se
A emissão de gases atingiu um ápice,
E há previsão de que a Amazônia colapse?
E tá na gênese um “Apocalypse Now”,
Em que a temperatura média mundial
Aumenta igual ou mais que um e meio grau?

Enquanto um cientista de um labor fecundo
Emite alertas pra adiar o fim do mundo,
Negacionistas do aquecimento global,
Negociantes do petróleo, do pré-sal,
Fiéis à fé neoliberal do capital,
Aceleram o Relógio do Juízo Final.

Quando é que vamos acordar em quanto é vão
Um crescimento que produz destruição?
Que não há redenção sem distribuição,
Sem queda na desigualdade social
E na pegada de carbono atual,
E sem um “bem viver” em um “novo normal”?

Enquanto uma ativista foda, que vai fundo,
Protesta e luta pra adiar o fim do mundo,
A companhia múlti, pan, transnacional,
Qual o sinistro antiministro ambiental,
Qual o grileiro, o garimpeiro ilegal,
Acelera o Relógio do Juízo Final.

Pensando nisso tudo, em hora tão dramática,
Temendo nossa sina trágica e errática,
Me assombra a sombra de uma mutação climática
E duma guerra cibernética fatal,
Dum uso mau da inteligência artificial
E dum conflito nuclear final, total.

Se tudo, entanto, pode estar por um segundo,
Eu canto cantos pra adiar o fim do mundo,
Pra me reconectar à mãe original,
Recontactar minha memória ancestral
E ter o júbilo de estar vivo afinal,
Atrasando o Relógio…
Atrasando o Relógio…
Atrasando o Relógio… do Juízo Final.

Maria do Céu

Se a Nasa me convidasse

Para um passeio no espaço

Eu viajaria ao léu

Ao lado das lamparinas

Das estrelas peregrinas

Na romaria do céu

E teria o visual

Belíssimo, celestial

Da Terra azul no painel

Qual uma bola boiando

Da qual me distanciando

Me aproximaria do céu

E de repente, de um salto

Que a nave desse pro alto

Subiria sob o véu         

Que a chuva de luz de prata

Caindo que nem cascata

Derramaria do céu

Ante o turbilhão de astros

De planetas e desastres

E cometas pra dedéu                   

Meu coração astronauta

Lá do alto exclamaria:    

Viche Maria do céu!

Uma Vez, Uma Voz

Uma vez

Num lugar

Há muito tempo atrás

Uma voz

Pelo ar

O vento e nada mais

O luar

E bilhões

De brilhos no alto astral

No olhar

As visões

De um homem ancestral

De vagar

Devagar

O tempo se desfaz

Onde o ar

Som lunar

Momento que me apraz

Sombra e luz

Tons azuis

Penumbra prateada

Sonhos mil

No vazio

Da vista estrelada

Uma vez

Num lugar

A história se desfaz

Através

Do luar

Mistérios, nada mais

Escrita nos anos 1980