Hidrelétricas, Nunca Mais

Hidrelétricas, Nunca Mais

Querem encher nossa floresta de hidrelétrica.
Que coisa besta, minha mãe, que coisa tétrica!
A hidrelétrica despreza o que é poético,
E arrasa a natureza em ritmo frenético.
Degrada bichos e lugares arqueológicos,
Depreda nichos e altares ecológicos
E rios-mares de largura quilométrica.
Por isso nunca mais queremos hidrelétrica!

Quem ama mesmo a floresta amazônica,
Não quer ver nunca a natureza desarmônica.

A usina mata o amanhã; em tom patético,
Já toda a mata grita, num sinal profético.
A gente simples, ribeirinha, vai ser vítima
Da sua ação tão ilegal quanto ilegítima.
E como as putas hidrelétricas afligem-na!
E como vai viver o bravo povo indígena?
Se o peixe vai morrer com cada rio magnífico,
Para prover mineração e frigorífico.

Quem gosta mesmo da floresta amazônica
Quer energia, sim, mas não tão anacrônica.

Naturalmente há outras fontes energéticas
Que são mais limpas, mais modernas e mais éticas.
Pois a barragem traz poluição climática.
Pois é imposta, pois é antidemocrática.
E causa o mal que nada faz enfim que finde-se:
Prostituição e violência em alto índice.
Por fim envolve corrupção, envolve escândalo.
Quem a constrói destrói a flora como um vândalo.

E como o meu direito à luz pode ser válido,
Se ele degreda um povo digno que se vale do
Grande bem, do grande dom, o das florestas (e
Se elas levam minha vista humana ao êxtase)?
Então barremos a barragem tecnocrática,
Que barra a vida livre, pródiga e errática,
Que a usina alaga, cobre e apaga como um túmulo,
Que a usina é praga, a usina é chaga, a usina é o cúmulo!

Quem ama mesmo o bioma amazônico
Não quer sujar a Terra e o ar com gás carbônico.

A usina fere com um arsenal mortífero
O sapo, a fera, a cobra, o pássaro, o mamífero.
A usina afeta o lago, o lar paradisíaco
Com um projeto louco, megalomaníaco.
A água chora sem parar de dó por isso no
Xingu, Madeira e Teles Pires em uníssono!
Ó mãe senhora, nos livrai da sina tétrica
De mais tragédia, mãe, de mais uma hidrelétrica!

Quem ama mesmo o bioma amazônico
Não quer ver nunca o ambiente desarmônico.

Suaí

Suaí

“Poesia, essa permanente hesitação entre som e sentido.”
(Paul Valéry)

Suaí

A ninfo a info a net o site
O doc o blog o face o fone
A foto a moto o auto a van
O flex o fax o sax o cello
A tele o bêlo a benga a racha
A buça a fuça o naso o názi
O skin o rasta o emo o mano
A mina a píri a síri a xota

A sinhá a sá a sci-fi
O abecê ocê o mê
O remix a mix a máxi
O metrô o táxi a Volks
A macrô o japa o vegan
O taichi o china o teuto
O piti o script o pop
O jabá a rádio a químio

A rapeize o beize a blitz
A vagaba o cafa a confa
O batera a guita o pife
O forró o bebo a bifa

Suaí
Suaí

Sumemo

O homo o bi o tri o hexa
O ecs a herô o háxi a présa
A briza a coca a cerva o churras
O Mac o Mac a web a vibe
O hype a hi o grã-fo o zé
O mé a mulha a múlti a/o micro
O e-mail o game o daime o/a demo
O clipe a lipo a pólio o apê

A produça o profissa
A concepa a sapata
O trafica o traíra
O traveco a madruga
O brasuca o portuga
A padoca o sanduba
O basquete o futiba
O Maraca o Morumba

A sugesta a tempesta
A cesárea a responsa
A perifa o refri
O comuna o cinema

Suaí
Suaí

Sumemo

O tusta a sista o bró a mã
O fã o psico o songa o leso
A lusa o Barça a Juve a/o Inter
A intro a infra o finde o frila
O cine a expo o zoo a dica
O dino a nóia a neura o níver
A vó a vamp a lampa o langue
O log o logo o flagra o Fla-

-Flu Grenal Bavi Sansão
Futevôlei hortifrúti
Copa Sé Pelô Belzonte
Patropi Floripa Sampa
Legas paca duca mara
Oxe vixe putz nó
Tô de brinca mô na funça
Só na sôci sô à vonts

Bora té belê de fina
Porfa péra tá de prima?
Quede sífu bafo sussa
Sacumé né pô mó su

Tendeu? Tendeu?
Centendeu?

Suaí
Suaí

Sumemo

Exaltação dos Inventores

Exaltação dos Inventores

Tiro minha cartola, reverente,
Pro galhardo bahiano assaz valente.
Babo pelos batutas, pelo dom
De dongaroto e do menino bom.
Gamo pela magnífica divina
E notável pequena linda flor.
Devoto de Gonzaga e do divino,
Eu rendo graças ao nosso Sinhô.

Bebo na fonte de cascata e cascatinha,
De ribeiro e riachão,
Num ban-kéti no matão.
Colho do fruto benedito de oliveiras,
De pereira, de moreiras,
De carvalho e jamelão.
Devoro jararaca e ratinho,
Bebo araca e mordo a carmen
De peixoto e de martins.
Degluto batatinha e gordurinha,
Como muita clementina
E chupo muito amorim.

Tomo cachaça e fumo charutinho,
Baixa em mim um caboclinho,
Danço ao jack-som do pandeiro,
Além do bandolim, do cavaquinho,
De viola e vassourinha
E por fim de um seresteiro.
Então qual um joão-de-barro, um ás
De um bando de tangarás
Ou que nem um rouxinol,
Canto que nem sabiá:
Lalá, lalá, lalá, lalá, lalá, lalá!

A aurora humbertei-cheira a noel-rosa.
Orl-ando por um la-marçal barroso,
Por vales e por lagos encantados,
Por mários nunca dantas navegados.
Num vale d’ouro (dourival) caí-mmi,
Lau-rindo ao wil-som e ao luar tão cândido
De lobos e de lupes a ulular
Seu cântico mansueto pelo ar.

In-ciro-me de orestes em diante
Na linhagem de beleza,
De poder e realeza
De generais, sargentos, almirantes,
De custódios, comandantes,
Reis, rainhas, príncipes e princesas.

E vamos nelson todos nesse bando
De namorados da lua,
Tomando banho de lua.
A estrela dalva lá no ab-ismael
Do blecaute da amplidão
Nos en-candeia no chão.
Entre os anjos do inferno e os diabos do céu,
Vivo e morro dos prazeres
E dolores da paixão.
Re-cito Lamartine pra de-déo;
Enfim sou um Catulo da canção!

Seta de Fogo (Canção de Teresa)

Seta de Fogo (A Canção de Teresa)

Como uma seta de fogo
Ou seja lá o que for;
Como um raio que atravessa,
Ele atirou-me uma flecha
Envenenada de amor.

Como quando o mundo acaba,
Não vi mais nada no escuro tremor.
Os céus se misturaram com a terra,
E eu morri de amor.

Já no gozo da ferida,
Que mais posso desejar,
A não ser amar e amar?
E em minha ânsia de vida,
De novo morrer de amar?

Eu sou para o meu amado,
E ele pra mim.
Ó meu Deus sem fim,
Feliz o coração enamorado
Como o meu assim.

Fonte do meu gozo,
Fonte do meu céu,
Ó meu doce esposo,
Ah, meu Deus!

Eis-me aqui, meu doce amor;
Meu doce amor, eis-me aqui.
Eis aqui na tua palma
Minha vida, corpo e alma,
Pois a ti me ofereci .

Eu sou para o meu amado,
E ele pra mim.
Ó meu Deus sem fim,
Feliz o coração enamorado
Como o meu assim.

Ó meu desejado,
Ó meu grande bem,
Ouve o meu chamado:
Vem, vem, vem!

E me leva ao gozo,
E me leva aos céus ,
Ó meu carinhoso,
Ó meu Deus!

Pô tem dó
Vem pra cá
Tô tão só
Ah vem já

E traz o céu
O sol o sal
E mais o mel
Qu´eu tô mó mal

Eu tô sem bem
Sem chão sem fio
Com frio sem par
Nó!
Vem pra não ser mais eu só
E sermos nós

Vem a cem
Não diz não
Eu tô sem
Só na mão

E tô a fim
De dois em um
De ti em mim (*)
E tu nem tchum

E eu sem pai
Nem mãe nem vó
Tão-só ao deus-
Ao léu a sós

Meu
Vem pra não ser mais só eu
E sermos nós

Variante:
(*) De ti pra mim

Minha Preta

Preta, minha preta,
Trepa comigo, trepa.

Chupa a minha tocha,
E eu lambo a tua chota.

A violeta flora,
E eu sugo a flor.

Preta, minha preta,
Trepa comigo, trepa.

Entra na minha rota.
Senta na minha tora.

Sente a minha tara.
Quero te atar;

Quero te amar.
Eis a minha arma:

Pega no meu taco,
E eu te cato

De quatro,
No quarto.

Te domo
De todo modo.

Me doma
À tua moda;

Me ataca,
Me acata,

Que eu vou na tua onda,
Minha dona,

Minha diva,
Minha vida.

Em suma,
A musa;

A dama
Amada;

O tema,
A meta

Dessa letra.
Me dá trela.

Me dá, preta.
Trepa comigo, trepa.

Quero ser seu preto.
Quero ocê por perto.

Nova Trova

Nova Trova

Vá, meu canto, voe;
Encante, meu vocal;
Vá por algum meio
Até quem me intui
Uma nova trova:
Minha Lua-Sol,
Dama a quem eu amo sem domar:
Não pode haver
Mulher melhor.

Vá, meu verso, ecoe,
Inverso, virtual;
Vá por um email
A quem a luz distribui;
Quem tudo renova:
Gema clara Sol,
Alma à qual almejo me algemar;
Poder saber
O seu sabor.

Aí eu vou cobrir seu corpo,
Que é lindo como o quê,
De tantos beijos quantas flores há em cada ipê
Que lá em Sampa dá.
Depois enfim de abrir seu corpo,
De remirá-lo hei;
E ainda rindo, admirá-lo-ei,
À luz da lâmpada.

Vá, canção, ressoe,
No áudio, no dial
De quem num meneio,
Formosa, me possui
E faz que o Sol chova,
Gira-gera-sol:
Dona que eu sem dano hei de adonar;
Seu dono ser,
Ter seu amor.

Pintura

Céu azul, azul, azul;
Cor-de-rosa pôr-do-sol;
Véu da aurora boreal;
Mar de estrelas lá no céu;
Luz de fogos na amplidão;
Lua-prata qual CD;
Preto eclipse do esplendor;
Arco-íris multicor :

Tudo, tudo isso não
Chega perto de você,
De seus olhos, seu olhar,
Suas pernas, seu andar,
Sua cara, coração,
Sua boca e um não-sei-quê,
De sua pele, sua cor –
Do seu corpo, meu amor…

Verdes pampas lá do Sul;
Costa Branca igual lençol;
Na vazante, o Pantanal;
Barcelona, Parque Guell;
Monte Fuji no Japão;
Garopaba em SC;
Amazônia, selva em flor;
Mar azul de Salvador :
Tudo, tudo isso não
Chega perto de você,
Nem da graça nem da cor
Do seu corpo, meu amor…

Poesia

“Poesia” (Selo SESC, 2018) Este álbum é dedicado á obra do letrista Carlos Rennó, dele apresentando um repertório de dezesseis canções – nove delas inéditas – com diversos parceiros. O trabalho celebra quarenta anos da primeira gravação de uma composição do autor. Seu conceito se vincula ao lançamento simultâneo de um livro (“Canções”, pela editora Perspectiva), daí seu repertório apresentar canções com letras poeticamente mais literárias, algumas de caráter experimental.

1 – PINTURA
Autores: João Bosco e Carlos Rennó
Voz e Violão: João Bosco

2 – NOVA TROVA
Autores: Zeca Baleiro e Carlos Rennó
Voz e Violão: Zeca Baleiro

3 – CANÇÃO PRA TI
Autores: Ana Carolina, Morenos Veloso e Carlos Rennó
Voz e Violão: Moreno Veloso

4- TODAS ELAS JUNTAS NUM SÓ SER
Autores: Lenine e Carlos Rennó
Voz: Ellen Oléria, Felipe Cordeiro, Junio Barreto, Leo Cavalcanti, Pedro Luis e Wilson Simoninha

5 – NUS
Autores: Arnaldo Antunes e Carlos Rennó
Voz: Arnaldo Antunes
Violão e Guitarra: Chico Salem

6 – SUAÍ
Autores: Livio Tragtenberg e Carlos Rennó
Voz: Lívia Nestrovski
Guitarra:
Cacá Machado
Percussão: Alessandra Leão

7 – OUTROS SONS
Autores: Arrigo Barnabé e Carlos Rennó
Voz: Tetê Espindôla, Arrigo Barnabé e Carlos Rennó
Piano: Arrigo Barnabé

8- eu disse sim
Autores: José Miguel Wisnik e Carlos Rennó
Voz e Piano: José Miguel Wisnik

9- SETA DE FOGO
(A CANÇÃO DE TERESA)
Autores: Chico César e Carlos Rennó
Voz e Violão: Chico César

10 – O MOMENTO
Autores: Leo Cavalcanti e Carlos Rennó
Voz e Violão:
Leo Cavalcanti

11- MINHA PRETA
Autores: Geronimo Santana e Carlos Rennó
Voz e Violão: Geronimo Santana

12- SÓ
Autores: Paulinho Moska e Carlos Rennó
Voz e Violão: Paulinho Moska
Percussão; Marcos Suzano

13- EXALTAÇÃO DOS INVENTORES
Autores: Luiz Tatit e Carlos Rennó
Voz e Violão: Luiz Tatit

14- TÁ?
Autores: Pedro Luís e Carlos Rennó
Voz e Cavaquinho: Pedro Luís

15- HIDRELÉTRICAS NUNCA MAIS
Autorais: Felipe Cordeiro e Carlos Rennó

16- ÁTIMO DE PÓ
Autores: Gilberto Gil e Carlos Rennó
Voz: Gilberto Gil

Megahit


do Álbum “Beleza e Medo”

Você não sai da minha cabeça
Como canção que toca à beça
Toca em excesso, é um puta sucesso
Um megahit
Toca em excesso, é um puta sucesso
Um megahit
Você me deixa louco, doente
Pra ter você também pela frente
E não só na mente, é que o corpo sente
A paixonite
E não só na mente, é que o corpo sente
A paixonite
Minha temperatura aumenta
O tempo ao meu redor esquenta
Sobe degraus, trocentos graus
A um sol sem limite
Sobe degraus, trocentos graus
A um sol sem limite
Um megahit
Você é minha idéia fixa
Que prega em mim, me crucifixa
É tanto desejo que se eu não te vejo
Viro dinamite
É tanto desejo que se eu não te vejo
Viro dinamite
E pra acabar, não há o que eu coma
Vou acabar entrando em coma
Eu já ‘tô à míngua, só a sua língua
Me dá apetite
Eu já ‘tô à míngua, só a sua língua
Me dá apetite
Minha temperatura aumenta
O tempo ao meu redor esquenta
Sobe degraus, trocentos graus
A um sol sem limite
Sobe degraus, trocentos graus
A um sol sem limite
Um megahit
Um megahit, um megahit
Um megahit
Um megahit, um megahit
Um megahit
Um megahit, um megahit
Um megahit
Um megahit, um megahit
Um megahit

Em Você Eu Vi


Do álbum Beleza e Medo

Em você eu vi a possibilidade
Do meu sonho mais risonho se tornar realidade
Em você eu vi a beleza, a verdade
A própria promessa da felicidade
Uma coisa bonita, alegria infinita no coração
Uma coisa bonita, alegria infinita no coração
Tudo que eu via parecia até miragem
Eu pensei, será, será, será que é viagem?
Parecia uma visão ou quem sabe aparição
Um milagre, uma lágrima alegre
Nos olhos da solidão
(Eu vi)
Em você eu vi
Uma graça, uma força, um poder, eu vi
Uma tal beleza
Pela qual alguém podia até morrer e eu ri
Eu vi o que é viver, eu vi
Quando bem junto de você, eu vi
O amor explodir
Que nem estrela a eclodir
Eu vi e você viu, eu vi
O amor explodir
Explodir
Explodir
Explodir
Eu vi o que é viver, eu vi
Quando bem junto de você, eu vi
O amor explodir
Que nem estrela a eclodir
Eu vi e você viu, eu vi
O amor explodir
Explodir
Explodir
Explodir

Idade Média Moderna

Idade Média Moderna

Bela, ói que bela cidadela
De uma nova Idade Média!
Nela se encastela
Uma casta que dá costas à tragédia.

Eis
Uma ilha de tranquilidade.
Uma ilha que ninguém invade.
Uma ilha de paz no oceano
Turbulento da grande cidade.

Sim,
É mais um condomínio fechado
De alto luxo, de todos ilhado,
Isolado, alheado, alienado,
Apartado e apartheid-armado.

Eis a novidade,
Eis a nova: a Idade Média Moderna!
E a velha grade
Da exclusão que aqui entende ser eterna.

Na realidade,
Na real Idade Média moderna,
A sociedade
Não é nada igual, tão livre nem fraterna.

Torre,
Muro alto, guarita,
Portão duplo, controle,
Arma, alarme, sensor;
Guarda,
Fio de arame farpado,
Câmeras, monitores,
Cerca elétrica, medo,
Vigilância, televisão…

Um esquema forte
Como um forte,
Como um campo de concentração,
Bunker ou abrigo,
Como domiciliar prisão,
Livre do perigo,
Da rua, da praça, do calçadão,
Livre da cidade,
Dos cidadãos,
Livre enfim da liberdade!

Nenhum Direito a Menos

Integra o álbum Beleza e Medo de Paulinho Moska

Nesse momento de gritante retrocesso
De um temerário e incompetente mau congresso
Em que poderes ainda mais podres que antes
Põem em liquidação direitos importantes
Eu quero diante desses homens tão obscenos
Poder gritar de coração e peito plenos
Não quero mais nenhum direito a menos

Nesse país em que se vende por ganância
Direito à vida, à juventude, e à infância
Direito à terra, ao aborto e à floresta
À liberdade, ao protesto, ao que nos resta
Eu grito: Fora! Esses homens tão pequenos
De interesses grandes como seus terrenos
Não quero mais nenhum direito a menos

Nessa nação onde se mata e trata mal
Mulher e pobre, preto e jovem, índio e tal
Onde nem lésbica, nem gay, nem bi, nem trans
São plenamente cidadãos e cidadãs
Não quero mais cantar meus versos mais amenos
A menos que antes seus direitos sejam plenos
Não quero mais nenhum direito a menos

Nesse Brasil da injustiça social
E de uma tal desigualdade sem igual
Queria ver os grandes lucros divididos
E os dividendos afinal distribuídos
Os bilionários concordando com tais planos
Se revelando seres realmente humanos
Não quero mais nenhum direito a menos

Nesse momento de tão pouca luz à vista
E tanto ataque ao que é direito e é conquista
Eu canto tanto desistência, o desencanto
Mas canto a luta, a rexistência, tanto quanto
E quanto àqueles que ainda pensam que detém-nos
Eu canto e grito a pulmões e peito plenos
Não quero mais nenhum direito a menos

Todas Elas Juntas Num Só Ser – Número 3

Domênica, Magnólia, Jesualda,
Magnética Adelita do Bidu;
A anônima Adelita lá do México;
Iná de Lupe; de Lalá, Juju;
Lola de Ricky Martin; Lola de Ray Davies;
De Buddy Holly, a bela Peggy Sue;
Suzie e Malena de Roberto, e aquela
De Pagodinho com o nobre Dudu;

Sebastiana de Rosil e Jackson;
De Gil, Luluza, Sandra, Rita Lee;
Elise de Ludwig van Beethoven;
De Julio Iglesias, Manoela e Nathalie;
Dona de Sá e Guarabyra; Donna
De Ritchie Vallens; Candida de Dawn;
Dindi de Tom e Anna de Lenine;
Aline de Christophe; Julia de John.

Só você,
Nenhuma dessas hoje eu canto, só você,
Só você
No meu playlist agora eu vou querer.

Silvia piranha, de Marcelo Nova;
Natasha, de Ouro Preto e Alvin Lee;
Zoraide e Marylou, de Roger Rocha;
Camila, do Nenhum de Nós – e eu nem aí…
“Beth-Morreu”, mais uma do Camisa;
Bete Balanço, do barão Cazuza;
E Beth Frígida, da Blitz de Evandro:
Nenhuma dessas hoje é minha musa.

Nem Mila de Netinho, nem Dalila
De Alan Tavares e o baiano Brown;
Mulher rendeira de Lampião e Zé do Norte;
Mulher elétrica de Mano Brown;
Pobre menina de Gileno e Lílian,
“´Nina” veneno de Vilhena e Ritchie;
De John Coltrane, nem Mary nem Naíma;
De Miles Davis, nem Fran nem Nefertiti.

Só você
É minha musa única, você,
Só você,
Você e mais nenhuma pode ser.

Nem a mulata, musa de Ataulfo;
Nem a caboca, musa de Barroso;
Nem a crioula, musa de Benjor;
Nem a branquinha, musa de Veloso;
Nem a dourada, musa de Nelsinho;
Nem a lourinha, musa de Braguinha;
Nem a morena, musa de Lalá;
E outra morena, mas de Gonzaguinha;

E nem a galopeira de Ocampo
E nem a violeteira de Montiel
E nem a lavadeira de Monsueto
E nem a estudante de Gardel
E nem a secretária de Amado
E nem a jardineira de Humberto
E nem a pomba-rola de Orestes
E nem a amapola de Roberto

Só você,
Que nem você há uma só: você,
Só você,
E sem você não tem mais nada a ver.

E eu digo adeus a Carol, de Sedaka,
E à Carolina Carol Bela, bem do Jorge Ben,
E à Carolina, bela do Seu Jorge,
E à de Buarque, eu digo adeus também;
Adeus à deusa Yara, mamãe d´água,
De Walter Franco, e adeus, adiós, adieu
À deusa do amor, do Olodum,
E à deusa do ébano, do Ilê Aiê;

Do cabaré, à dama de Noel,
E, do cassino, à dama de Caetano;
De Alcir Vermelho, à dama das camélias,
E à de vermelho, de Waldik Soriano;
À Maria Bethânia, de Capiba,
À Maria Bonita, de Augustín;
À Maria La Ô, a de Lecuona,
E à Maria Ninguém, de Carlos Lyra; assim…

Só você,
Dama e deusa aqui é só você;
Só você,
E com você eu quero e vou viver.

De Fábio, Estela; Stella de Caymmi,
Stella de Victor Young; de Victor Jara, Amanda;
Fada de Victor Chaves; de Vitor Martins,
Vitoriosa; Rosa e Rita de Hollanda;
Mariana do Sergião; Mariane do Marrone;
Suzanne e Marriane de Leonard Cohen;
Suzana de Bob Nelson; Suzy Q do Créédence:
Todas me põem louco, e como põem…

A “tarja preta” dos Cordeiros com Arnaldo;
Preta pretinha, de Galvão com o Moraes;
Nega neguinha, só de Bororó;
Neguinha, de Davi Moraes, e mais:
Nega maluca, de Fernando Lobo;
Doida demais, de Lindomar Castilho;
Totalmente demais, de Paes, Tavinho;
Todas eu verso mas só uma eu estribilho:

Só você,
No meu refrão rebrilha só você;
Pra você,
Minha canção de amor MPB.

Você pra mim é mais que as vagabundas,
Que as minas e que as mães dos Racionais;
É mais do que as mulheres de Martinho
Da Vila e de Toninho das Geraes;
É mais até do que pro Rappin´ Hood
São as rainhas e as mulheres pretas;
Do que o menino-Deus e o do Rio
E o leãozinho pro leão Caetas.

Você é para mim e o meu amor
Brilhante e duradouro qual diamante,
Mais que a romântica senhora tentação
Pra Silas de Oliveira, minha amante;
Mais que a Bonita para Tom Jobim
E a bonitona para Geraldo Pereira;
Mais que a moça bonita pra Pedro Luís
E que as moças do samba de Roque Ferreira.

Só você
É mais que todas outras, só você,
Só você
É mais que todas elas num só ser.

Todas Elas Juntas Num Só Ser

Não canto mais Bebete nem Domingas
Nem Xica nem Tereza, de Ben Jor;
Nem Drão nem Flora, do baiano Gil;
Nem Ana nem Luiza, do maior;
Já não homenageio Januária,
Joana, Ana, Bárbara, de Chico;
Nem Yoko, a nipônica de Lennon;
Nem a cabocla, de Tinoco e de Tonico;

Nem a tigresa, nem a vera gata,
Nem a camaleoa, de Caetano;
Nem mesmo a linda flor de Luiz Gonzaga,
Rosinha, do sertão pernambucano;
Nem Risoflora, a flor de Chico Science –
Nenhuma continua nos meus planos.
Nem Kátia Flávia, a flor de Fausto Fawcett;
Nem Anna Júlia, de Camelo, dos Hermanos.

Só você,
Hoje eu canto só você;
Só você,
Que eu quero porque quero por querer.

Não canto de Melô pérola negra;
De Brown e Herbert, uma brasileira;
De Ari, nem a baiana nem Maria,
Nem a Iaiá também, nem a faceira;
De Dorival, nem Dora nem Marina
Nem a morena de Itapoã;
De Vina, a garota de Ipanema;
Nem Iracema, de Adoniran.

De Jackson do Pandeiro, nem Cremilda;
De Michael Jackson, nem a Billie Jean;
De Jimi Hendrix, nem a doce Angel;
Nem Ângela nem Lígia, de Jobim;
Nem Lia, Lily Braun nem Beatriz,
Das doze deusas de Edu e Chico;
Até das trinta Leilas de Donato
E da Layla de Clapton eu abdico.

Só você,
Canto e toco só você;
Só você,
Que nem você ninguém mais pode haver.

Nem a namoradinha de um amigo
E nem a amada amante de Roberto;
E nem Michelle-ma-belle, do beatle Paul;
Nem Isabel – Bebel – de João Gilberto;
E nem B.B., la femme de Serge Gainsbourg;
Nem, de Totó, na malafemmena;
Nem a Iaiá de Zeca Pagodinho;
Nem a mulata mulatinha de Lalá;

E nem a carioca de Vinicius
E nem a tropicana de Vicente e Alceu
E nem a escurinha de Geraldo
E nem a pastorinha de Noel
E nem a namorada de Carlinhos
E nem a superstar do Tremendão
E nem a malaguenha de Lecuona
E nem a popozuda do Tigrão

Só você,
Hoje elejo e elogio só você,
Só você,
Que nem você não há nem quem nem quê.

De Haroldo Lobo com Wilson Batista,
De Mário Lago e Ataulfo Alves,
Não canto nem Emília nem Amélia:
Nenhuma tem meus vivas! nem meus salves!
Nem Polly do nirvana Kurt Cobain
E nem Roxanne, de Sting, do Police;
E nem a mina do mamona Dinho
E nem as mina – pá! – do mano Xis!

Loira de Hervê e loira do É O Tchan,
Lôra de Gabriel, o Pensador;
Laura de Mercer, Laura de Braguinha
(L´aura de Daniel, o trovador?);
Ana do Rei e Ana de Djavan,
Ana do outro rei, o do baião:
Nenhuma delas hoje cantarei:
Só outra reina no meu coração.

Só você,
Rainha aqui é só você,
Só você,
A musa dentre as musas de A a Z.

Se um dia me surgisse uma moça
Dessas que, com seus dotes e seus dons,
Inspiram parte dos compositores
Na arte das palavras e dos sons,
Tal como Madelleine, de Jacques Brel,
Ou como Madalena, de Martinho,
Ou como Madalena, de Ivan Lins,
E a manequim do tímido Paulinho;

Ou como, de Caymmi, a moça pRosa
E a musa inspiradora Doralice;
Se me surgisse uma moça dessas,
Confesso que eu talvez não resistisse;
Mas, veja bem, meu bem, minha querida:
Isso seria só por uma vez,
Uma vez só em toda a minha vida!
Ou talvez duas… mas não mais que três…

Só você…
Tô brincando com você;
Só você…
As coisas mais queridas você é:

Você pra mim é o sol da minha noite;
É como a rosa, luz de Pixinguinha;
É como a estrela pura aparecida,
A estrela a refulgir, do Poetinha;
Você, ó flor, é como a nuvem calma
No céu da alma de Luiz Vieira;
Você é como a luz do sol da vida
De Stevie Wonder, ó minha parceira.

Você é para mim e o meu amor,
Crescendo como mato em campos vastos,
Mais que a gatinha para Erasmo Carlos;
Mais que a cigana pra Ronaldo Bastos;
Mais que a divina dama pra Cartola;
Que a domna pra De Ventadorn, Bernart;
Que a honey baby para Waly Salomão
E a funny valentine pra Lorenz Hart.

Só você,
Mais que tudo e todas, só você;
Só você,
Que é todas elas juntas num só ser.

Manifestação

Manifeste-se em um só coro, um só coração : https://www.manifestacao.org

Aqui ´stamos na avenida,
Pelas ruas, pela vida,
Marchando com o cortejo
Que flui horizontalmente,
Manifestando o desejo
De uma cidade includente
E uma nação cidadã tra-
Duzido numa canção,
Numa sentença, num mantra,
Num grito ou numa oração…

… Por todo jovem negro que é caçado
Pela polícia na periferia;
Por todo pobre criminalizado
Só por ser pobre, por pobrefobia;
Por todo povo índio que é expulso
Da sua terra por um ruralista;
Pela mulher que é vítima do impulso
Covarde e violento de um machista;

Por todo irmão do Senegal, de Angola
E lá do Congo aqui refugiado;
Pelo menor de idade sem escola,
A se formar no crime condenado;
Por todo professor da rede pública
Mal-pago e maltratado pelo Estado;
Pelo mendigo roto em cada súplica;
Por todo casal gay discriminado.

E proclamamos que não
Se exclua ninguém senão
A exclusão.

Aqui ´stamos nós de volta,
Sob o signo da revolta,
Por uma vida mais digna
E por um mundo mais justo,
Com quem já não se resigna
E se opõe sem nenhum susto
A uma classe dominante
Hostil à população,
Numa ação dignificante
Que nasce da indignação…

… Por todo homem algemado ao poste,
Tal qual seu ancestral posto no tronco;
E o jovem que protesta até que o prostre
O tiro besta de um PM bronco;
Por todo morador de rua, sem saída,
Tratado como lixo sob a ponte;
Por toda a vida que foi destruída
Em Mariana ou no Xingu, por Belo Monte;

Por toda vítima de cada enchente,
De cada seca dura e duradoura;
Por todo escravo ou seu equivalente;
Pela criança que labuta na lavoura;
Por todo pai ou mãe de santo atacada
Por quem exclui quem crê num outro deus;
Por toda mãe guerreira, abandonada,
Que cria sem o pai os filhos seus.

E proclamamos que não se exclua ninguém
Senão a Exclusão.

Eis aqui a face escrota
De um modelo que se esgota.
Policiais não defendem;
Políticos não contentam;
Uns nos agridem ou prendem;
Outros não nos representam.
E aquele que não é títere,
E é rebelde coração,
Vai no Face, no zapp e Twitter e
Combina um ato ou ação…

… Por todo defensor da natureza
E todo ambientalista ameaçado;
E cada vítima de bullying indefesa;
E cada transexual crucificado;
E cada puta, cada travesti;
E cada louco, e cada craqueiro;
E cada imigrante do Haiti;
E cada quilombola e beiradeiro;

Pelo trabalhador sem moradia,
Pelo sem-terra e pelo sem-trabalho;
Pelos que passam séculos ao dia
Em conduções que cansam pra caralho;
Pela empregada que batalha, e como,
Tal como no Sudeste o nordestino;
E a órfã sem pais hetero nem homo,
E a morta num aborto clandestino.

Impelidos pelos ventos
Dos acontecimentos,
Louvamos os mais diversos
Movimentos libertários
Numa cascata de versos
Sociais e solidários
Duma canção de protesto
Qual “Canção de Redenção”,
Uma canção-manifesto,
Canção “Manifestação”…

… Por todo ser humano ou animal
Tratado com desumanimaldade;
Por todo ser da mata ou vegetal
Que já foi abatido ou inda há-de;
Por toda pobre mãe de um inocente
Executado em noite de chacina;
Por todo preso preso injustamente,
Ou onde preso e preso se assassina;

Pelo ativista de direitos perseguido
E o policial fodido igual quem ele algema;
Pelo neguinho da favela inibido
De frequentar a praia de Ipanema;
E pelo pobre que na dor padece
De amor, de solidão ou de doença;
E as presas da opressão de toda espécie,
E todo aquele em quem ninguém mais pensa…

E proclamamos que não se exclua ninguém
Nem nada senão a Exclusão.

Dando à vida e à alma grande
Um sentido que as expande,
Cantamos em consonância
Com os que sofrem ofensa,
Violência, intolerância,
Racismo, indiferença;
As Cláudias e Marielles,
Rafaeis e Amarildos
Da imensa legião
De excluídos do Brasil, do S-
Ul ao norte da nação.

E proclamamos que não se exclua
Ninguém senão a Exclusão.

*

Triste Estrutura

A gameleira, a jaqueira, o coqueiro, as acácias caídas, tombadas em vão;

O Camarajipe, o Lucaia enterrados e ainda correndo debaixo do chão;

No alto elevado, no asfalto, do lado de mil automóveis, dois ônibus só;

Onde era a paisagem feliz de folhagens a triste estrutura que dói e dá dó.

As sumaúmas caindo uma a uma, sim, a sumaúma, das árvores mãe;

E cem centenárias extraordinárias, e tantas e várias mil plantas de Ossãe;

Por tal natureza de plena beleza, que plano, que reza, ação ou ebó

Reduz tal projeto, tão mau e obsoleto, de piche e concreto, a cinzas e pó?

Ó, orixás, ó meu pai, guardião,

Com um clarão iluminem

Mentes e homens de pouca visão;

Sábios que são, lhes ensinem

Como é sagrado o rio a correr               

E o verde ser que destroem;

Deuses, ecoem no ar nossa voz               

E a todos nós abençoem.

Que não derrubem mas plantem mais árvores e que não tampem o rio a rolar,

E que se resgate a nascente perdida e se escute o pedido da gente a clamar

Que parem a obra que cobra tão caro do povo, da flora e da fauna afinal,

E que sobretudo pro pobre se obre na dura cidade que não é igual.

Ó, orixás, ó meu pai, guardião,

Com um clarão iluminem

Mentes e homens de pouca visão;

Sábios que são, lhes ensinem

Como é sagrado o rio a correr               

E o verde ser que destroem;

Deuses, ecoem no ar nossa voz               

E a todos nós abençoem.

eu disse sim

Do Álbum “Poesia” de 2018

no dia em que o levei a declarar-se
primeiro eu dei a ele um bocadinho
do doce de pecã da minha boca

ah nada como um beijo longo e quente
que deixa a gente quase sem ação
meu deus depois daquele longo beijo
por pouco eu fico sem respiração

eu vi que ele sabia ou sentia
o que é uma mulher
e eu tive cá pra mim que eu poderia
fazer pra sempre dele o que eu quisesse

e eu lhe dei todo prazer que eu pude
pra que pedisse que eu dissesse sim
mas eu não quis dizer assim de cara
fiquei tão-só olhando para o mar
e para o céu pensando em tantas coisas

aí só com os olhos lhe pedi
que me pedisse novamente sim
e ele me pediu
que se eu quisesse sim dissesse sim

eu enlacei os braços nele sim
e o puxei pra baixo para mim
pra que pudesse
sentir meus seios perfumados sim
seu coração batia como louco
e sim eu disse sim eu quero Sim

Fotos

Atração Pelo Diabo

Não quero um anjo
Prefiro um diabo
Com um diabo eu me arranjo
E com o anjo eu me acabo

Que sejas às vezes anjo, tudo bem
Mas que não exagere, que eu enjoo
Eu com um anjo não vou muito além
Nas asas de um diabo eu alço voo

Não quero um anjo
Prefiro um diabo
Com um diabo eu me arranjo
E com o anjo eu me acabo

Um com o tempo logo vira irmão
Mas com o outro é oito ou oitenta
É de amante, é quente a relação
Por isso mesmo é que o diabo tenta

Não quero um anjo
Prefiro um diabo
Com um diabo eu me arranjo
E com o anjo eu me acabo

Um lance com um anjo não dá jogo
E nem dá liga, anjo é meio Michael Jackson
Com o diabo o que não falta é fogo
Além do mais, dizem que os anjos não têm sexo

Não quero um anjo
Prefiro um diabo
Com um diabo eu me arranjo
E com o anjo eu me acabo